“Não pensei que fosse passar por isso. Classe lotada sem qualidade de ensino nenhuma pois o importante é cuidar o pedagógico. Hoje estamos vivenciando salas super lotadas com 22 alunos no M II, incluindo inclusão e nada de ajuda. Crianças saindo das fraldas, sem saber ir ao banheiro e nós professores sem poder fazer nada, afinal auxilia um ou 21??? Cidade Educadora???? Qualidade no ensino??? Realmente é fácil visitar as escolas mas na hora de olhar para os profissionais ahhh….. E Agora quem poderá nos defender????”
Estou indignada com o descaso na Cidade Educadora !!!!!!! Como pode uma classe de jardim (4 anos ) com 29 alunos que hoje em dia são super agitados, com inclusão, sem mediadora e não pode colocar a 30ª criança, para não colocar a 2ª professora!!! Então uma professora pode ficar com 29 sozinha???????? As próprias mães estão achando um absurdo essa situação!!!!! Trabalhando no limite!!!!!!!! Quantidade sem qualidade, onde o importante é encher o espaço físico. Cabe 29 nessa sala, então coloca. O resto não importa!!!!!!!!
“Passo pela mesma situação que você: maternal com 23 alunos, 1 inclusão, sem mediador… crianças que não usam banheiro, não comem sozinhas… Estou em um desgaste incrível. Hoje quase já sem voz”.
“4º ano, com 36 alunos, sem espaço físico coloquei minha mesa na porta, isso porque faltaram dois. Se vierem, vou para o corredor. Três inclusões. Sem mediadora. Enlouquecendo……e ninguém faz nada…. Só pedem calma….a direção até se esforça mas só toma NÃO na cara!!!! O que fazer????”
Os relatos acima compõem algumas das reclamações que professores da rede municipal de Santos relatam nas redes sociais de forma privada. Uma situação que tem preocupado os profissionais, pois em razão do aumento de transferências para a rede pública de ensino do ano passado para o atual – foram 559 na Educação Infantil (alta de 7,5%); 48 no Ensino Fundamental I (+ 0,33%) e 196 na Educação Fundamental II (+ 4,3%) (veja quadro)– os educadores precisam fazer malabarismos para lidar com a avalanche de alunos e falta de professores, já neste início de ano letivo. E o pior: a tendência é que muitos professores adoeçam, afastando-se das funções, provocando ainda mais transtornos aos que ficam em sala de aula. Um círculo preocupante.
“Mesmo se ninguém tirasse qualquer tipo de licença, o déficit de professores na rede escolar é de, pelo menos, 200 profissionais”, destaca o presidente do Sindicato dos Servidores de Santos – Sindserv, Flávio Saraiva. Ele relata que diariamente a entidade recebe queixas de docentes em razão destes problemas – acrescidos pela falta de refrigeração em boa parte das unidades escolares, o que se torna improdutiva e desgastante a atividade de ensino e aprendizagem para profissionais e alunos. A Prefeitura lançou em janeiro edital para preenchimento de 102 vagas na área de Educação, sendo 94 para professores. A prova será neste domingo (6).
A avalanche de queixas que chega ao sindicato é tanta que hoje, a partir das 19 horas, no Sindicato dos Metalúrgicos (Av. Ana Costa, 55, na Vila Mathias), a categoria irá se reunir para discutir exclusivamente os problemas que atingem educadores de forma geral, com ênfase nas condições de trabalho, proporcionalidade de profissionais/aluno, cumprimento de HTIs, atribuição de jornadas e assinatura de ponto.
Saraiva enfatiza que há desinteresse por parte da Administração em contratar mais profissionais para sanar o problema. “Há uma combinação de quebra de qualidade proposital e o interesse em entregar algumas unidades para a iniciativa privada, via OSs”, salienta o sindicalista em razão da possibilidade das Organizações Sociais também atuarem na área da Educação. “Está claro que as OSs são um engodo”, dispara.
A primeira OS em operação na Cidade, a Fundação ABC, está à frente do gerenciamento da UPA Central, inaugurada em janeiro passado. Já há proposta em andamento na área da Cultura também, mas, por enquanto, há resistência por parte dos profissionais do setor.
No limite
As reclamações das professoras, portanto, são referendadas pela oficialização da capacidade de atendimento da rede, após a divulgação do Regimento Escolar das Unidades Municipais de Educação, publicado no último dia 25 no Diário Oficial de Santos.
Na semana passada, a Secretaria de Educação divulgou a proporção de alunos por área. Na Educação Infantil, a quantidade varia de cinco a 20 estudantes. Já no Ensino Fundamental, de 30 a 40, enquanto na Educação de Jovens e Adultos, de 35 a 40. No máximo. (veja quadro ao lado)
No entanto, na educação infantil há um parágrafo onde informa que se forem matriculados a partir da metade do total de alunos previstos, deve-se incluir um professor/educador. Foi justamente o setor onde ocorreu maior crescimento de matrículas.
Assim, segundo as professoras, a Seduc tem colocado alunos em salas no limite para não chamar um segundo professor/educador (por exemplo: uma sala de Educação Infantil pode ter 29 alunos com apenas um docente. Se tiver 30, já deve colocar um segundo profissional. Professores alegam que a Seduc trabalha com este limite para evitar a inclusão de um professor adicional). Está dentro da lei, mas trata-se de uma ‘tragédia pedagógica’.
O mesmo ocorre em relação à metragem das salas, nem sempre adequadas ao tamanho estimado, chegando em alguns casos a 40 m2, conforme determina a legislação.
Além disso, não existiriam mediadores em determinadas escolas, o que é importante em razão do crescimento no volume de alunos, especialmente na Educação Infantil, onde a atenção é redobrada. O motivo, segundo alegam os docentes, é a contenção de despesas. A Secretaria de Educação de Santos nega.
Seduc responde
Em comunicado à reportagem sobre as queixas (cujos professores não foram identificados para não sofrer represálias), a Secretaria de Educação limitou-se a esclarecer que “não tem informação, nem reclamação, quanto ao número de alunos acima do limite máximo. A Seduc solicita que seja informado o nome da escola para apurar”. Deve-se ressaltar que todas as escolas informam à pasta suas capacidades e quantidade de alunos matriculados por sala.
Quanto à ausência de mediadores e controle de contratação de professores adicionais, a informação é que os critérios para abertura de classes e proporção adulto/criança obedecem o estabelecido pelo Ministério da Educação.
Apesar de prometido pela secretária de Educação Venúzia Nascimento em entrevistas ao jornal Enfoque de março e julho do ano passado alguns vídeos em e e pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa em setembro de 2014 de que a Prefeitura estava comprando aparelhos de ar condicionado e climatizadores nas escolas municipais à época, poucas unidades foram contempladas com os equipamentos, que há tempos deixaram de ser objeto de luxo.
Segundo a Seduc, “a licitação, já realizada, está em fase de análise de documentação das empresas vencedoras. Após a finalização desta etapa, serão tomadas as medidas necessárias para iniciar a implementação”. Ou seja, pouco mudou apesar de já terem se passado, pelo menos, 18 meses da promessa oficial.