O índice de mortes por Covid-19 entre idosos é o maior entre os 13 maiores municípios paulistas, incluindo a Capital, levando em consideração a mesma proporcionalidade.
Em Santos, conforme dados divulgados tanto pela Prefeitura como pela Fundação Seade, os números remetem a uma triste constatação: os idosos representam quase 9 em cada 10 mortes pelo Covid na Cidade.
Ou seja, 86,7% das mortes estão no grupo de pacientes acima de 60 anos.
No Estado, esta média é de 76,3%.
Portanto, o índice de mortalidade entre idosos em Santos supera em 10 pontos percentuais a média dos municípios paulistas nesta mesma faixa etária, justamente a mais afetada pela pandemia.
Na comparação com todas as cidades mais populosas do Estado, Santos vence nesta proporção de mortes, conforme levantamento realizado pelo Boqnews com cruzamento das informações entre mortes por cidades e faixas etárias.
E fica em quinto lugar quando comparado à proporcionalidade de mortes nesta faixa etária por 100 mil habitantes.
Em abril, reportagem do Boqnews já alertava sobre estes riscos.
Na prática, porém, o alerta não foi levado em consideração. Basta ver os números.
Confira os quadros:
Cidades mais populosas x índice (%) de mortes pela Covid-19 entre idosos (acima de 60 anos)
1º – São Paulo – 77,5% – 10.227 mortes
2º – Guarulhos – 72,1% – 1.074 mortes
3º – Campinas – 80,5% – 1.029 mortes
4º – São Bernardo do Campo – 76,5% – 724 mortes
5º – Santo André – 79,5% – 495 mortes
6º – São José dos Campos – 74,3% – 338 mortes
7º – Ribeirão Preto – 84% – 670 mortes
8º – Osasco – 73,4% – 598 mortes
9º – Sorocaba – 74,5% – 309 mortes
10º – Mauá – 70,9% – 261 mortes
11º – São José do Rio Preto – 75,3% – 494 mortes
12º – Mogi das Cruzes – 72,7% – 288 mortes
13º – Santos – 86,7% – 575 mortes
Relação de mortes de idosos pela Covid/100 mil
1º – Guarulhos – 660,14
2º – Osasco – 641,94
3º – São José do Rio Preto – 622,38
4º – Ribeirão Preto – 607,09
5º – Santos – 602,54
6º – São Bernardo do Campo – 591,98
7º – São Paulo (Capital) – 551,96
8º – Campinas – 533,76
9o – Mogi das Cruzes – 474,42
10º – Mauá – 451,61
11º – Santo André – 401,46
12º – São José dos Campos – 325,54
13º – Sorocaba – 320,28
Fontes: Fundação Seade/Prefeituras/TRE – Dados até 20/10/20
Santos
Líder em gastos proporcionais no combate à Covid, representando o equivalente a quase R$ 300 de despesas por habitante (R$ 125,4 milhões até agosto passado, valor reduzido para R$ 120,36 milhões em setembro), a Cidade já registrou 665 mortes pela doença em Santos, com dados da Prefeitura, e 651 pela Fundação Seade.
Já os cartórios registram 746 mortes, conforme o portal de registro civil, com base em dados oficiais.
Tomando como base os números oficiais da Prefeitura, chega-se a 577 mortes na atualidade, entre moradores acima de 60 anos.
São 124 – entre 60 a 69 anos; 174 – entre 70 a 79 anos; 196 – 80 a 89 anos; e 83 acima de 89 anos.
Para cada mil idosos santistas, 6 morreram pela Covid até o momento
Ou seja, a cada mil idosos santistas (acima de 60 anos), seis já morreram pela Covid.
As mortes entre moradores de Santos somente nesta faixa etária chegam a 2% do total do Estado.
Na parcela dos idosos, a cidade representa 1,4% do total de paulistas acima dos 60 anos (95.429 de um total de 6.847.911).
Em números, 577 mortes em Santos contra 28.644 em todo o Estado nesta faixa etária, com base em pacientes atendidos tanto na rede pública como privada do Município.
Assim, na mesma proporção para efeito de comparação: de cada 100 mil idosos, 600 faleceram pela doença no Município.
Na faixa etária acima de 70 anos, este patamar é de quase 9/1000. (900 por 100 mil)
E os que têm mais 80 anos, o índice de mortes é de quase 14/1000. (1.400 por 100 mil).
No Estado, a taxa de mortalidade para idosos em geral é de 418,29/100 mil – 30% menor.
Não bastasse, a taxa de mortalidade geral é expressiva no Município: 153,47 mortes/100 mil habitantes.
Público e privado
Vale lembrar que a Baixada Santista tem 676.718 pessoas com planos de saúde, sendo que Santos responde por 258.928 (quase 60% do total dos moradores), conforme dados da ANS – Agência Nacional de Saúde de junho passado.
Ou seja, a maior parte dos moradores são assistidos por planos de saúde complementares, ou seja, da iniciativa privada.
Portanto, a responsabilidade destes números não é exclusiva do Poder Público, mas também deve ser compartilhada com a iniciativa privada.
Relatos de falhas nos protocolos de atendimento, especialmente entre pacientes mais idosos, são frequentes.
“Idosos que apresentam algum quadro com qualquer sintoma semelhante à Covid-19 já deve ser internado para evitar que a situação se agrave”, explica um médico – que pediu anonimato – e faz parte do comitê gestor de combate à doença de uma cidade da Baixada Santista.
Na prática, não é isso que ocorre, a despeito das autoridades alardearem a sobra de leitos, fundamental para a passagem da região para as fases seguintes do Plano São Paulo, do governo paulista.
Triste realidade
Aos 83 anos, o pai da engenheira Claudia dos Santos só conseguiu ser internado na quarta tentativa, mesmo com o quadro se agravando, a despeito de pagar mais de um salário mínimo no plano de saúde privado.
Ele chegou a fazer tomografia em um hospital, mas foi dispensado, com uma lista de medicamentos, típicos para quem tinha suspeita de Covid-19.
Entre idas e vindas no pronto atendimento do plano e até consulta particular em casa, os familiares conseguiram “a muito custo” a internação do aposentado apenas quatro dias depois da primeira tomografia.
Ao chegar ao hospital, o quadro pulmonar do idoso já era grave, segundo os médicos que o atenderam após fazer nova tomografia.
Seus pulmões já superavam 70% de comprometimento.
Foi direto para a UTI, de onde perdeu o contato com os familiares e com o mundo lá afora.
Suficiente para desanimá-lo. Seu coração parou de bater dez dias depois.
A família – assim como ocorre com as vítimas da Covid-19 – não tiveram direito a velório, nem a um enterro digno, com caixão lacrado e limitação de pessoas no sepultamento.
Imagens jamais esquecidas por quem perde um familiar para a doença.

Testagem contribui para queda na letalidade. No entanto, quanto à mortalidade, números assustam em Santos
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
Posição
Em nota, a prefeitura de Santos informa que, de acordo com os dados da Fundação Seade (https://www.seade.gov.br/
O índice da Cidade está abaixo da maioria das grandes e médias cidades do estado de São Paulo: Guarulhos (7,1%), São Vicente (6%), Barueri (5,1%), Mogi das Cruzes (4,8%), Mauá (4,8%), Carapicuíba (4,5%), São Paulo (4,4%).
E ainda: Diadema (4,3%), Campinas (3,9%), Taboão da Serra (3,8%), São José do Rio Preto (3,7%), Ribeirão Preto (3,4%), Santo André (3,4%) e Jundiaí (3,2%).
Santos apresenta uma taxa de letalidade menor apesar de ser a cidade com maior índice de verticalização do País, ambiente que contribui para a disseminação do novo coronavírus, e ter o maior percentual de idosos, público mais suscetível a complicações e mortes por decorrência da doença.
No Município, a população idosa é quase o dobro da estadual.
Enquanto em Santos, 19,2% da população tem mais de 60 anos (Fonte Fundação Seade), no estado o índice é de 11,6%.
Mesmo assim, a taxa de letalidade da Cidade está em 2,9% e, no Estado, a taxa é de 3,6%.