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12 DE SETEMBRO DE 2008

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“Vamos fortalecer o poder popular”

B – Por que Eneida Koury quer ser prefeita de Santos? EK – Sempre enfatizo que isso não nasce de um projeto pessoal. Isso é uma discussão partidária que vem desde 2005, quando fundamos o núcleo do PSOL em Santos. Analisamos a conjuntura da Cidade e avaliamos a necessidade de colocar uma candidatura como alternativa […]

Por: Da Redação

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B – Por que Eneida Koury quer ser prefeita de Santos?


EK – Sempre enfatizo que isso não nasce de um projeto pessoal. Isso é uma discussão partidária que vem desde 2005, quando fundamos o núcleo do PSOL em Santos. Analisamos a conjuntura da Cidade e avaliamos a necessidade de colocar uma candidatura como alternativa popular. Feita a discussão desta importância, o meu nome surgiu normalmente dentro do partido. Existem políticos que se filiam a partidos em busca de legenda para se eleger. Nós não agimos assim. Seria uma perda muito grande para o Município não lançar na disputa alguém que falasse coisas diferentes e que oferece uma nova opção para que os eleitores possam analisar e escolher. Eu aceitei este desafio.


JB – Qual o diferencial da sua candidatura?


EK – O PSOL nasce da luta pela coerência, devido aos parlamentares federais que foram expulsos do PT em 2003. Eles não concordavam com a determinação da reforma da Previdência, que tirava direitos dos servidores públicos, e enfrentaram o governo Lula. Tiveram a coragem em dizer não e fundaram um novo partido. Nossa proposta se diferencia dos outros candidatos por causa disso. Fazemos parte de pessoas que sempre tiveram à frente de várias lutas, como a reforma agrária, a democratização do País, entre outras. Temos uma linha de governo e de propostas voltada para as minorias e com a participação popular.


JB – Se for eleita, qual a primeira medida que vai tomar como prefeita?


EK – Algumas coisas são prioritárias no início. Na arrecadação, temos que trabalhar com base no orçamento anterior. Então, não adianta falar que vou aplicar recursos nessa ou naquela área. É claro que a Saúde e a Educação terão prioridade. Mas na construção do plano para os anos seguintes, vamos discutir os recursos para cada setor. Também temos que criar os conselhos de moradores. Eles vão exercer suas funções já no primeiro ano de governo. Precisamos da participação popular nas discussões que vão definir os investimentos futuros. Temos que fazer uma divulgação para que as pessoas se acostumem a participar. Regulamentando todos os conselhos de bairros, vamos diminuir as desigualdades em quatro anos. Os moradores vão decidir o que é importante, como a construção de uma creche ou posto de saúde. Será um novo mecanismo de governo. Isso é prioritário em nossa administração.


JB – Sua coligação é pequena. Como o PSOL se preparou para assumir a Cidade?


EK – Nós avaliamos isso da seguinte maneira. A população é chamada para ir às urnas e eleger alguém. O vencedor recebe o mandato e governa de acordo com seus princípios. Em conjunto com alguns parlamentares e grupos econômicos, a Cidade é comandada. Não existem transparência e participação popular nos rumos do Município, causando desigualdades. Isso é proposital para quem não quer dividir o poder. Depois, nos chamam novamente para votar. Diante disso, nós propomos uma democratização do poder. Não queremos chegar lá e decidir tudo sozinhos. Queremos a participação popular por meio dos conselhos de moradores que já citei. Somos contra os cargos de confiança ou criados por conta de coligações. Por causa delas, alguns candidatos terão que colocar muitas pessoas dentro da Prefeitura. Esse apoio não é de graça. A população vai decidir sobre as questões mais importantes durante todo o nosso governo em Santos. É assim que estamos preparados.


JB – A sra. pretende criar alguma secretaria?


EK – Não precisa ser exatamente uma secretaria, mas pretendo criar algo voltado para juventude e para as minorias excluídas. Quando falamos de emprego, educação e saúde, tudo está ligado à juventude. Ela precisa de reforço e apoio público. Outras questões que me preocupam são as das pessoas que sofrem preconceitos, a exemplo dos negros, dos homossexuais e das mulheres. Em alguns casos, a mulher negra ganha somente 30% em relação ao homem branco. Temos que criar mecanismos que debatam isso, além de discutir os problemas existentes nas diferentes populações que vivem entre nós. Isso faz parte da vida das pessoas e precisamos valorizar. A qualidade de vida não é somente o ambiente onde estamos, mas todo o aspecto social e psicológico como tratamos as vidas humanas da nossa Cidade. São ações fundamentais para mim.


JB – A sra. tem nomes para compor o seu secretariado de governo?


EK – Ainda não. Primeiro vou conhecer as pessoas. Vamos levantar quais são os técnicos e os profissionais competentes para ocupar cada cargo. Temos que chamar os setores para conversar, da mesma maneira que vamos fazer com a população. Faremos isso com todas as nomeações nas secretarias municipais. Próximo das eleições e com a possibilidade de vitória, vamos pensar sério nisso. Possuímos na Cidade e na própria Prefeitura gente muito qualificada para compor o nosso governo. Não precisamos colocar pessoas do círculo político em nossa administração. Tem que estar alinhado com a proposta de governo popular e ser conhecedor do trabalho a ser desenvolvido. Um secretário de Cultura não pode ser um amigo indicado pelo prefeito, por exemplo. Tem que ser especialista no assunto. Temos pessoas capacitadas no Município e faremos isso para as diversas áreas da Administração Municipal.


JB – Onde a sra. pretende cortar gastos e investir?


EK – A arrecadação de Santos está cada vez maior. Para investir, os conselhos de moradores vão levantar as prioridades dos bairros. Então, se tiver que escolher algum setor, a qualidade de vida dos mais pobres será a primeira beneficiada. Falta em Santos um levantamento de índices, não temos consolidados os níveis sociais por bairros e seus habitantes. Isso é fundamental para que possamos cobrar e identificar as reais necessidades de cada região. Só assim vamos melhorar as condições de educação e saúde dos que mais necessitam. Existe uma população que nunca foi olhada e, se depender da boa vontade de alguns políticos, ela nunca será atendida. Vamos deixar de investir em áreas estruturadas e apoiar a população menos favorecida, com certeza.


JB – Como pretende valorizar os professores do Município?


EK – Eles têm uma das piores remunerações da região. A Cidade mais rica da Baixada Santista é a que paga menos aos educadores. A primeira coisa é melhorar a remuneração e discutir um plano de cargos e salários para a categoria. Mas não adianta fazer isso por conta própria e impor a eles. Um professor com especialização incorpora 30% de valorização em cima de um salário base muito baixo. Ele tem todo o trabalho de fazer um mestrado para adicionar pouca coisa aos seus ganhos. Assim não existe motivação profissional. Vamos incentivar a qualificação continuada dos professores municipais.


JB – E quais os planos para melhorar a Educação no geral?


EK – As condições em algumas escolas são inadequadas e o número de alunos em sala de aula deve diminuir. Para vencer esses desafios, a contratação de novos professores é necessária. A questão da recuperação também é importante. Temos que ter um acompanhamento pedagógico dos alunos que mudam de escola e repetem de ano constantemente. Também faremos a inclusão dos pais no processo escolar e promover a inclusão digital. A progressão continuada não existe formalmente, mas os professores não reprovam os alunos para que os índices de avaliação do ensino na caiam na Cidade. Vamos rever essa metodologia. Essas questões parecem menores, mas acabam influenciam na qualidade de ensino. Outra prioridade será a jornada em tempo integral, mas que ela realmente tenha atividades e conteúdo durante todo o dia.


JB – A sra. tem projetos para resolver os problemas das internações e da área da Saúde como um todo?


EK – Esta é uma área complicada. O governo federal destina cerca de 7% do orçamento nacional para este setor. Se alguém dizer que vai resolver os problemas da Saúde está enganando a população. O Município depende dos recursos da União e eles são muito baixos. Em 2007, Santos foi uma das cidades que menos ofereceu recursos próprios e investiu em Saúde em todo o Estado. Nas internações, temos que pensar o problema de forma regional. Se os outros municípios não investirem nessa área, não vai adiantar que Santos aumente o número de leitos hospitalares. Podemos ampliar a nossa capacidade, mas isso não vai resolver o déficit. Vamos debater isso de forma regional.


JB – E na parte que compete ao Município, o que a sra. pretende fazer na Saúde?


EK – Primeiramente, a Prefeitura precisa ter vontade política para que a regionalização saia do papel. Pretendemos ampliar os hospitais e maternidades municipais e vamos investir em medicina preventiva. Isso é muito importante para que possamos diminuir os gastos com a saúde curativa. Temos que ampliar as equipes de Saúde da Família e fazer uma radiografia sobre a demora no agendamento de consultas e exames. Dizem que é a falta de médicos, mas não temos a certeza do que está acontecendo. Também vamos valorizar o servidor da área da Saúde e contratar novos profissionais. Com isso, queremos melhorar o atendimento da população e diminuir os gastos com remédios e internações na rede municipal.


JB – A sra. tem planos para o funcionalismo municipal?


EK – É uma das primeiras coisas que farei. O servidor público é o agente social da política. Não adianta ter a melhor idéia do mundo e não ter funcionário estimulado. Construir prédios e iluminar os locais públicos é bom, mas não valoriza o ser humano que serve o Município. Todos terão suas carreiras revistas, inclusive a Guarda Municipal. Faremos um plano de cargos e salários como eixo principal e todas as categorias farão parte dele.


JB – Qual é a sua política de geração de emprego e renda para Santos?


EK – O aumento das exportações no Porto e a expansão do setor de petróleo estão abrindo novos postos de trabalho. Compete a Prefeitura fornecer o ensino de qualidade para que todos consigam competir profissionalmente. Existe uma demanda por pessoas formadas em nível técnico. Temos que qualificar os jovens para que tenham condições de disputar as vagas geradas nestes setores. Essa preocupação tem que existir. Vamos nos esforçar e estabelecer diálogo permanente com os governos estadual e federal para que abram cursos profissionalizantes em Santos. A formação técnica é a chave para o desemprego na juventude. Para os mais velhos, vamos incentivar a formação de cooperativas. Elas serão voltadas para o desenvolvimento e para benefício das comunidades, gerando ocupação e renda na vida das pessoas.


JB – O que irá fazer pela habitação de interesse social?


EK – Existem moradores, especialmente na Zona Noroeste, que não têm a escritura dos seus imóveis. Com a especulação imobiliária na Cidade, isso é preocupante. Encampar essa luta é algo que ninguém fez ainda. Temos que defender a causa dessas pessoas. Em áreas urbanizadas, vamos fomentar o sistema de mutirão. Não há a necessidade de fazer financiamentos e prédios pela CDHU. A Baixada Santista está fazendo um levantamento dos terrenos para a utilização das empresas do setor de petróleo e gás. Isso significa que temos áreas disponíveis. Elas podem ser usadas para a construção de casas populares. Também existem terrenos desocupados, onde os donos aguardam as propostas da construção civil. A Constituição, que prevê a função social da terra, deve ser respeitada. Temos o dever de resolver os problemas sociais gerados pela riqueza de alguns. Possuímos vontade política para enfrentar tudo isso.


JB – Quais medidas a sra. irá adotar em relação ao Porto?


EK – A expansão portuária é importante, mas ela tem que seguir critérios de compensação ambiental, de segurança do trabalho e de contra partida às comunidades que vivem no entorno. A nossa obrigação na Prefeitura será em olhar por tudo isso. Vamos revisar a questão das empresas que utilizam o Porto, mas não oferecem retorno para o Município. O trânsito de caminhões pelas ruas da Cidade é uma destas questões. Queremos resolver o ônus e os conflitos desta relação. Também vamos continuar a luta pelo pagamento do IPTU nas áreas portuárias. A Cidade tem que ganhar este direito junto à Justiça brasileira. Enfim, temos que brigar para que tudo isso traga benefícios à população santista.


JB – Qual relação pretende ter com a Petrobras e o setor de Petróleo e Gás?


EK – Quero discutir a geração de empregos. Temos que qualificar a nossa população para que ela tenha condições de ocupar as vagas. Se não fizermos um trabalho sério neste sentido, será difícil de competir com profissionais de todo o Brasil. Na questão dos royalties, vamos marcar uma posição forte para que a Cidade colha os benefícios que tem direito. Do jeito que está, Santos não vai ganhar com a exploração do setor. Para que esta riqueza não continue nas mãos de poucos, temos que garantir a aplicação deste dinheiro nas áreas sociais. O nosso papel vai garantir que isso ocorra de forma justa e igual.

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