O mar está ditando as novas tendências da beleza.
Que o oceano é fonte inesgotável de inspiração, para artistas, poetas e sonhadores, não é novidade.
Mas agora ele também inspira a ciência e a indústria cosmética, que mergulham de cabeça no movimento #BlueBeauty, uma nova era que une inovação biotecnológica, sustentabilidade, regeneração ambiental e, claro, autocuidado.
A tendência propõe repensar a forma como cuidamos da pele e, ao mesmo tempo, do planeta.
Cientistas do mundo todo estão de olho no oceano e em seu imenso potencial para a biotecnologia.
Pesquisas revelam que microrganismos marinhos, como algas e bactérias, abrigam propriedades únicas para a pele.
O ambiente extremo das profundezas, com alta pressão, baixa temperatura e pouca luz, fez surgir espécies dotadas de mecanismos naturais de proteção e regeneração extraordinários.
Hoje, esses segredos da natureza são traduzidos em ingredientes capazes de revitalizar, energizar e retardar o envelhecimento cutâneo.
Ativos como Sirtalice™, extraído a 3.400 metros de profundidade, e V/WA™, obtido a partir de bactérias que vivem em simbiose com águas-vivas, oferecem efeitos lifting e relaxamento muscular semelhantes ao botox, porém sem agulhas e sem dor.
Essas tecnologias menos invasivas unem ciência e natureza e já estão moldando o futuro do autocuidado.
Estima-se que o mercado global de biotecnologia possa alcançar 3 trilhões de dólares até 2030.
O oceano é a nossa grande farmácia natural. Nele residem potenciais curas para inúmeras doenças, por meio da biotecnologia marinha, além de soluções inovadoras para a beleza, que não precisam causar sofrimento às mulheres.
Ainda conhecemos muito pouco do oceano, e com as mudanças climáticas estamos perdendo uma parte significativa dessa biodiversidade, espécies que sequer chegamos a descobrir e tecnologias que talvez nunca cheguemos a imaginar.
A nova geração de ingredientes marinhos mostra que a inovação pode, e deve, ser ética e sustentável.
Com o avanço da biotecnologia, é possível criar produtos de alta performance com impacto ambiental reduzido, atendendo à demanda de um consumidor cada vez mais consciente.
A chamada marine biotech não apenas aprimora a eficácia dos cosméticos, mas também redefine o conceito de luxo, mostrando que luxo é cuidar da pele com respeito ao planeta.
Há, no entanto, um aspecto essencial nesse avanço, a responsabilidade científica e social.
Explorar os recursos do oceano para o mercado da beleza exige colaboração com comunidades costeiras e povos indígenas, guardiões milenares dos saberes sobre o mar.
Ignorar o conhecimento tradicional nos processos de pesquisa é perpetuar a chamada “ciência paraquedas”, aquela que chega, coleta e vai embora, sem deixar legado.
O futuro da beleza azul depende de parcerias éticas, transparentes e participativas, que valorizem tanto a biodiversidade quanto a diversidade humana, e os múltiplos saberes que envolvem o oceano e seu valor cultural.
Marcas como Natura já aplicam essa lógica na Amazônia, com ingredientes como o óleo de patauá e a manteiga de murumuru, obtidos em parceria com comunidades tradicionais. Esse modelo de bioeconomia é o caminho, unindo inovação, conservação e geração de renda local.
Somente com essa colaboração entre ciência e tradição é possível criar produtos verdadeiramente sustentáveis, que promovam o bem-estar das pessoas e a regeneração do planeta.
Cuidar do oceano é uma forma de autocuidado
Cuidar do oceano é também cuidar de nós mesmas, em corpo, mente e propósito.
Cada fórmula que toca a nossa pele carrega uma escolha, e cada escolha traz uma responsabilidade.
O mar, esse imenso “laboratório azul” que cobre 70% da Terra, guarda respostas para o futuro da beleza e da saúde.
Mas para continuar revelando seus segredos, precisamos agir com consciência, recolher o lixo na praia, apoiar marcas comprometidas com sustentabilidade e escolher produtos que regenerem, em vez de explorar.
A beleza do futuro será azul, consciente e regenerativa, uma beleza que nasce do mar e devolve ao mar o cuidado que ele merece.

Ana Vitória Tereza de Magalhães é consultora internacional e especialista em oceânica. Atuou na ONU, UNESCO e na Comissão Européia. Integrou a equipe responsável pela criação do programa Escola Azul, já presente em mais de 50 países
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