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Opiniões

02 DE JULHO DE 2024

Celebrar derrotas

José Renato Nalini

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Celebram-se vitórias, não derrotas. Assim, não há o que celebrar quando se noticia que o desmatamento na Amazônia cai 42% no primeiro trimestre de 2024.

Isso porque, no primeiro trimestre de 2023, a destruição levou 844,6 km2 e agora foram “só” 491,8 quilômetros quadrados.

Na verdade, uma derrota da natureza, que vai desaparecendo sem que a indignação atinja toda a sociedade civil, que é vítima das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, causado pela extinção do verde.

O encadeamento dessa tragédia é claro e comprovado.

Os cientistas já exauriram sua voz para alertar a humanidade. Esta resta inerte.

Salvo algumas exceções de quem brada no deserto de atitudes, a maioria não toma conhecimento do drama.

O cerrado chegou ao mais alto patamar de extinção.

Foram 1.445,6 quilômetros quadrados. Uma área equivalente à cidade de São Paulo.

E por falar na cidade de São Paulo, o extremo sul, onde se encontram as últimas nascentes que abastecem a represa do Guarapiranga, também é vítima de ocupação indiscriminada e de célere derrubada da cobertura vegetal que garante água para mais de 30%.

Não é diferente em outras cidades do nosso Estado, que já perdeu quase toda a sua Mata Atlântica.

Isso mostra que todos os biomas estão sendo devastados.

É hora daqueles que têm dinheiro e poder acordarem e se disporem a adotar nascentes, glebas ainda passíveis de restauração, para que não cheguemos ao ponto irreversível de um desastre total.

Todos sabem que a cobertura vegetal não é panaceia, mas ajuda a mitigar os efeitos dessas mudanças bruscas de temperatura, a ajudar a escoar a água das precipitações extremas, outro fenômeno decorrente das mudanças climáticas e a melhorar o nível do sumidouro de carbono na atmosfera.

O mundo precisa de um trilhão de árvores. O Brasil de um bilhão. A capital de um milhão.

Se cada habitante dessa conurbação de concreto se dispusesse a plantar uma árvore, a situação seria outra.

Isso é que deve merecer a atenção de todos, não a celebração de uma catástrofe que continua em estágio incompatível com a qualidade de vida e com a subsistência da experiência humana sobre este planeta.

 

José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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