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Tyler Durden (esquerda) e O Narrador no início do clube terapêutico |
Lei nº 1 e nº 2
Nunca fale sobre o clube da luta
Nunca fale sobre o clube da luta
Nos créditos de abertura do filme, notem uma enorme corrente
neurotransmissora fazendo ligações intermináveis até chegar, depois de uma
câmera minuciosamente percorrer, de forma digital característica opcional,
muito usada pelo diretor David Fincher os poros do protagonista, e nos
inserir na cena que estampa o grave drama vivido pelo narrador (Edward
Norton), um homem que trabalha em uma empresa de seguros que forja dispositivos
de segurança e que sofre de insônia crônica, chegando a dormir apenas 1 hora
por noite.
Para tentar contornar seus problemas, o homem encontra em
grupos de apoio uma solução para seus problemas emocionais. O problema? Ele
fica viciado nas reuniões, que tratam dos mais variados diagnósticos: câncer,
tabagismo, homens que perderam os testículos, tuberculose, melanoma, linfoma,
demência, parasitas do sangue e do cérebro entre outros.
Porém, para atrapalhar seu bom comportamento e saúde, o pesadelo
chega por causa de uma mulher, Marla Singer (Helena Bohan Carter), uma perfil
de estranha, quase que com os mesmos problemas que o protagonista, e que acaba
por abalar a rotina anestésica do mesmo.
Numa sociedade cada vez mais capitalista, Clube da Luta cai
sempre como uma luva para contestar o desejo de combater uma forma de vida
sintética, estagnada pelo desejo de obter bens materiais para se estabelecer
como pessoa, um cidadão apto a conviver com um processo de retroalimentação
financeira e industrial.
Esquecendo a tragédia que ocorreu em um shopping do centro de
São Paulo, na qual um estudante de medicina entrou em uma sessão onde o filme
era projetado e atirou contra os espectadores, afirmando ter escolhido a sessão
por saber do seu conteúdo, a produção vai além do sofrimento. Ela é
eficientemente bem conduzida do começo ao fim, trabalhando cada detalhe para
que a trama surpreenda com segredos construídos de forma magistral.
Lei nº 3 e nº 4
Somente duas pessoas por luta
Uma luta de cada vez
Durante o longa, muitas pistas são deixadas como migalhas de
pão para que quem assista, vá ligando os pontos, catando as migalhas de pão e
consiga chegar ao grande mistério: a construção do personagem secundário Tyler
Durden (Brad Pitt), que é a peça chave para as respostas do papel de Norton.
(Dica 1: Na cena do hospital, quando o protagonista vai se consultar com um
médico, prestem atenção na câmera se aproximando do narrador. Logo, foquem a
visão no lado superior direito da tela).
Cópia, cópia, cópia, diz o narrador, cansado de sua fútil e
consumista vida. Para exemplificar, um plano travelling, da esquerda para a direita, monta um apartamento
perfeito, interagindo de forma digital com o personagem principal.
Lei nº 5 e º 6
Sem camisa, sem sapatos
As lutas duram o tempo que for necessário
Já em outra cena, a mesmice e o desapego dos bens materiais se
consolida na cena do avião, durante um discurso convincente sobre a vida ser um
produto oferecido sempre em doses únicas. (Dica 2: notem as maletas idênticas).
Depois disto, a única amizade dose única do narrador é revelada.
O exagero das imagens digitais usada por Fincher é algo
desnecessário, mas nada que ofusque qualquer tipo de informação ou detalhe do
filme. Tratando-se de produções americanas, o cineasta sempre acaba caindo no
gosto do público e passa sem problemas na avaliação dos cinéfilos. (Dica 3:
Prestem atenção na direção do olhar do protagonista na primeira reunião em que
participa).
Inserindo personagens parcialmente niilistas, o gosto pelo
sangue vai tomando proporções jamais planejadas pelos envolvidos nos clubes de
lutas espalhados por diversos países. (Dica 4: Quando os dois personagens se
encontram no bar e saem para começar uma briga, notem não uma, mas duas garrafas
sendo colocadas no chão).
Uma idolatria é cultuada entre os membros, transformando a
imagem de Tyler num Deus da Violência. Ao invés de lágrimas, mostradas no
início do filme como um smyle na
camisa do grande personagem Bob (Meat Loaf), o líquido viscoso e vermelho é a
nova terapia para os mais diversos estereótipos do homem, que vai desde o
faxineiro de um edifício até executivos de importantes empresas. A arquitetura
de um plano de destruição do símbolo consumista do mundo começa a tomar forma.
(Dica 5: Tyler nunca se encontra na mesma cena com Marla Singer).
No terceiro ato, verdades começam a aparecer. O verdadeiro eu
do narrador vai tomando ciência da proporção de adeptos ao clube e a seriedade
com que aquilo se mesclou com a vida dos envolvidos. A cena onde o personagem
Angel Face (Jared Leto) é espancado brutalmente, apenas pelo desejo do Narrador
em estragar algo belo, é de estremecer os sentidos. (Dica 6: Nunca fale
sobre mim Tyler Durden).
Lei nº 7 e nº 8
Quando alguém gritar “pára!”, sinalizar ou
desmaiar, a luta acaba
Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que
lutar!
Entre cenários convincentes, atuações de tirar o fôlego e um
enredo surpreendente, Clube da Luta acerta um soco de direita e dá nocaute no
espectador que espera um filme onde o suspense, a ação e a violência são os
ingredientes para transformar sabão em nitroglicerina…ops, perdão, em uma
atração onde o questionamento do comportamento é elevado ao nível mais
psicótico da mente humana.
Ficha técnica
Diretor: David Fincher
Roteiro: Jim Uhls
Elenco: Edward Norton; Brad Pitt; Helena Bonham Carter;Meat
Loaf; Zach Grenier;
Richmond Arquette; David Andrews;
Trailer:
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