A partir da campanha de Barack Obama em 2009, a internet ganhou relevância na política e nas campanhas eleitorais.
A rede começou a ser usada de forma estratégica e não apenas complementar à mídia tradicional.
O Brexit no Reino Unido em 2016, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos em 2017 e a de Jair Bolsonaro no Brasil em 2019 são exemplos recentes da evolução.
Nesse contexto, a precursora das estratégias construídas com base em #fakenews foi a empresa Cambridge Analytica, que ganhou notoriedade planetária, mas sucumbiu a uma avalanche de acusações de fraude.
Porém, os aprendizados não foram deletados completamente. Agora, com a entrada em cena da #inteligênciaartificial, estamos diante de um novo paradigma na #comunicaçãopolítica: as estratégias e os conteúdos podem ser gerados por máquinas.
Nas eleições de 2024, #IA vem sendo utilizada ainda em nível básico, perto do verdadeiro potencial da tecnologia.
A #EraDigital, porém, não turbinou apenas as inovações tecnológicas.
Promoveu também “inovações humanas”: gerou os #influenciadores.
Pessoas que têm poder de comunicação, aliado ao domínio das intrincadas regras e do funcionamento dos algoritmos das #redessociais.
A qualidade do conteúdo pouco importa, quando o personagem tem a capacidade de estabelecer empatia com a audiência.
A eleição de Jair Bolsonaro demostrou o poder da rede. Ele não tinha milhões de seguidores, mas tinha uma causa capaz de aglutinar eleitores insatisfeitos.
No caso, a desilusão com os governos do PT e a adoção de bandeiras conservadoras que se conectaram com anseios de um eleitorado carente de uma causa comum.
A eleição do presidente Lula em 2022 fragmentou a escalada das redes sociais como fator eleitoral dominante no Brasil, mas nem por isso devem ser subestimadas.
Prova disso está na ascensão meteórica do novo protagonista da política brasileira: #PabloMarçal, que até meses atrás era apenas um coach famoso (denominação que ele não assume), mas agora está causando o maior rebuliço na eleição municipal de São Paulo.
Em curto espaço de tempo desbancou candidatos tradicionais como o prefeito #RicardoNunes do PMDB e o deputado #GuilhermeBoulos do PSOL, que lideravam a corrida eleitoral até a semana passada. #JoséLuizDatena do PSDB e #TábataAmaral do PSB ficaram na estrada depois que Marçal entrou em cena.
Mesmo sob acusações de toda ordem, ele se esquiva com criatividade e segue causando estragos sem poupar ninguém, nem o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de “frouxo” em uma publicação de rede social.
Participei de um debate recente, promovido por um jornal de Santos, onde foi feita uma enquete com a seguinte questão: Bolsonaro tem medo de Pablo Marçal? 51% disseram sim, 40% responderam não e 9% talvez.
O diferencial de Marçal é que ele se posiciona à direita da direita, postura que tem cativado os eleitores que se decepcionaram com Bolsonaro.
O ex-presidente está engessado no apoio a Ricardo Nunes e vê um concorrente ganhar espaço na trincheira que ele construiu.
O reinado conservador pode estar com os dias contados, pois Marçal demonstra enorme habilidade para captar eleitores descontentes e indecisos.
O risco de perder a hegemonia está provocando calafrios na família e nas bases fiéis ao ex-presidente.
Por conta desse cenário inusitado e da curiosidade de marqueteiro político comecei a pesquisar o tal Pablo Marçal, milionário da hora que ensina as pessoas a elevar a auto-estima, ganhar dinheiro e tornar-se resiliente diante dos desafios da vida.
Suas palestras custam em torno de 500 mil reais. Além da habilidade de comunicador e de um discurso articulado, ele demonstra domínio absoluto das redes sociais, seja através de perfis próprios ou de posts compartilhados por milhões de seguidores no Tik Tok e no Instagram.
Em paralelo, utiliza uma ousada estratégia de monetização através do Discord, onde multiplica seguidores atraídos por ganhos financeiros.
Pablo Marçal personifica o “#MessiasDigital”, que prospera com o auxílio das redes sociais.
Confesso que estou curioso para assistir o desenrolar da eleição de São Paulo, porque Pablo Marçal é pretensioso e nada modesto.
Ele afirma que ganha no primeiro turno e tem olhos voltados para Brasília, ou seja: a Presidência da República.
Há o sério risco dele “joãodorializar” o mandato e usar a Prefeitura como trampolim para uma nova eleição.
Imagino como deve estar a cabeça dos protagonistas da eleição municipal de São Paulo e mesmo do ex-presidente, pois não vejo antídoto capaz de neutralizar o fator Marçal à curto prazo, a não ser um impedimento jurídico.
Até hoje, 30 de agosto, os candidatos só tinham as redes sociais e o corpo-a-corpo para conquistar votos.
Com o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, teremos a oportunidade de constatar se a mídia tradicional ainda tem poder de influência sobre o eleitor.
Ricardo Nunes tem o maior tempo, 6 minutos e 30 segundos e, Boulos tem 2 minutos e 22 segundos. Marçal não terá tempo de rádio e TV, porque seu partido – PRTB – não elegeu o número mínimo de deputados federais exigidos pela lei eleitoral. Ele promete realizar Lives para compensar a ausência no horário gratuito.
A pergunta que fica é a seguinte: quem vai decidir a eleição de São Paulo, eleitores ou seguidores?
O resultado pode inaugurar a nova era das campanhas eleitorais. A conferir.
Deixe um comentário