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Opiniões

20 DE AGOSTO DE 2017

Geração sem chances

Por: Fernando De Maria

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Uma das principais discussões que atemorizam boa parcela da sociedade brasileira refere-se à questão de segurança pública. Infelizmente, é nítido o avanço dos casos de violência que atingem boa parte das cidades brasileiras.

Homicídios, latrocínios, roubos, furtos ganham espaço nos noticiários a ponto de tragédias como ocorridas esta semana na Espanha serem relativizadas quando comparadas com os nossos números fatídicos apresentados nas estatísticas, sem contar os não computados por absoluta impotência por parte do cidadão que sabe que dificilmente conseguirá recuperar o bem furtado ou roubado. Ou perder a vida.

Não se pode dissociar, no entanto, o crescimento da violência urbana com uma realidade: o aumento no volume de jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos, que nem trabalham, nem estudam. Já são 6,6 milhões, segundo levantamento da economista Ana Maria Barufi. Eles representam quase 1/3 do total de jovens no Brasil nesta faixa etária que fazem parte da geração ‘nem-nem’, como são popularmente conhecidos.
Se o desemprego atinge 13,7% da população economicamente ativa, entre esta faixa etária o número é mais que o dobro, 31,8%. Ou seja, em um mercado cada vez mais fechado e recessivo são os jovens que mais sofrem com a falta de oportunidades.

Não bastasse, dos 6,6 milhões (há dois anos eram 5,9 milhões), 6,3 milhões não têm ensino superior. A taxa de desemprego é mais que o dobro entre os jovens das classes CDE, com 38% do total, que os mais abastados, com 18%. Ou seja, sem estudo, nem emprego, o jovem de áreas periféricas encontra mais dificuldades para ser inserido no mercado. Triste constatação.

Com a escassez de perspectivas, uma parcela destes rapazes e moças vive em condições subumanas, sendo muitas vezes empurrados – querendo ou não – para o ‘canto da sereia’ proposto pelo crime organizado. Ou se limitam a trabalhos sem qualificação e justa remuneração, que tendem a se eternizar. Quantos jovens poderiam ser recuperados se tivessem alternativas para mudar de vida?

Enquanto isso, nosso Estado paquidérmico insiste em propagar a reforma do Ensino Médio como se fosse a solução. De nada adiantam mudanças de disciplinas se o professor continua sendo mal remunerado, as condições de boa parte das escolas públicas são deprimentes e a violência se faz presente em várias delas.

Cabe ao Estado, junto à iniciativa privada, por meio de federações das indústrias, comércio e o sistema S (Senai, Senac, Sesi), e a sociedade civil organizada criar um pacto de estímulo de aprendizagem a estes jovens em situação de vulnerabilidade . Boas iniciativas existem e devem ser ampliadas. Somente agindo na raiz, o Brasil poderá minimizar a discrepância social, uma ferida cada vez mais aberta em nossa sociedade.

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