A manifestação convocada pelo ex-presidente Bolsonaro, que reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista, representou muito mais do que apenas um ato exclusivo de apoio político ao ex-mandatário.
Movidos pela indignação em razão de recentes decisões da Justiça e a não aceitação à forma de condução do País pelo atual Governo, o ato pôde ser entendido como uma clara mensagem de insatisfação de um grande contingente de eleitores brasileiros, suscetíveis a transferir esses sentimentos de contrariedade para as urnas que, em outubro próximo, irão eleger futuros prefeitos e vereadores.
Mesmo que questionada por medições populacionais ou diminuído por lideranças oposicionistas ao ex-presidente, a dimensão alcançada pelo ato em níveis nacional e internacional obriga à reflexão sobre questões relevantes, que deveriam ser discutidas sem a cegueira de polarizações políticas e radicalismos ideológicos.
Nesse contexto, destacam-se as decisões contraditórias e tendenciosas adotadas por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), impostas por entendimentos monocráticos construídos com preferências ideológicas e respaldadas por entendimentos difusos dos princípios que regem a Constituição Federal.
Sem discrição e neutralidade, a Suprema Corte brasileira passou a ganhar maior notoriedade e a receber críticas em razão dos posicionamentos políticos de seus ministros e pela tomada de decisões em descompasso com a opinião publica nacional, muitas delas de exclusiva competência do Poder Legislativo.
Ao extrapolar sua área de atuação, as repetidas intromissões da Suprema Corte têm motivado controvésias e realçaram as fragilidades da instituição, tornando-se assim também alvo da desconfiança da sociedade.
Da mesma forma, a manifestação evidenciou a preocupação da sociedade em relação a medidas autoritárias e cerceadoras adotadas contra liberdades individuais, especialmente dirigidas ao controle das mídas e às livres formas de expressão.
Afinal, aos que julgam cabe o dever de preservar os valores éticos e morais, sem os quais não se poderá exigir o respeito que a Justiça merece e enseja.
Mais do que servir à narrativas políticas e a discursos eloquentes, somente a efetiva e verdadeira prática democrática, construída com o respeito à divergência de ideias e à coexistência pacífica de correntes políticas antagônicas, pode propiciar as condições ideais para o desenvolvimento social e econômico do País.
Sem isso, sempre se estará flertando com as tentações ditatoriais dos que se veem como salvadores da pátria.
O recado das ruas foi dado e, por certo, seu teor extrapola o entendimento simplista de que ele representou apenas a adesão à defesa de um único lado político-ideológico.

Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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