Diante da recorrência dos muitos casos de corrupção tornados públicos no País, que têm como destaques recentes os episódios envolvendo a Petrobras e a manobra da base aliada da presidenta Dilma Rousseff garantindo a aprovação da lei para a flexibilização da meta fiscal do Governo – estimulada pelo decreto presidencial que condicionou a distribuição de emendas parlamentares à aprovação da matéria -, não causou qualquer surpresa a divulgação do Índice de Percepção da Corrupção divulgado pela organização Transparência Internacional, situando o Brasil no 69º lugar, entre os 175 países avaliados. Os casos somam-se à extensa lista que, ao longo das décadas, atestam a conduta antiética e desvinculada dos interesses coletivos que predominam na atividade parlamentar.
Ao recorrer à consagrada prática do toma lá da cá, Dilma fortalece ainda mais à horda clientelista enraizada nos gabinetes palacianos que por certo não dispõe de vocação altruísta para ceder espaços de poder visando a formação do futuro quadro que irá compor o Governo a partir do próximo ano. As chantagens e barganhas políticas utilizadas como moeda de troca revelam-se um obstáculo difícil de ser transposto, uma vez que acirram posições antagônicas agora obrigadas a convergir em uma mesma direção. O atual momento vivido pelo Brasil e as perspectivas pouco otimistas à expansão das atividades econômicas não reservam espaços a caprichos, egocentrismos ou interesses outros que não sejam o bem maior da população brasileira.
Apesar de pertinente aos conceitos que orientam o regime democrático, de pluraridade e divergências de ideias, os embates entre situação e oposição ameaçam produzir uma instabilidade política indesejável para um governo que precisa vencer inúmeros desafios, especialmente atingir as metas preconizadas nas áreas de saúde, educação e geração de empregos. Assim, mais do que dedicar atenção à conquista de benesses aos seus apaniguados, as lideranças partidárias deveriam focar seus esforços na realização das reformas almejadas pela sociedade brasileira, especialmente as que dizem respeito ao sistema político-eleitoral.
Do novo Congresso, portanto, espera-se maior comprometimento na observância das questões fundamentais visando dotar o País das condições ideais para o desenvolvimento e consolidação de um mercado sólido, capaz de atender as demandas de trabalho, consumo e, sobretudo, para reduzir as acentuadas diferenças sociais ainda existentes. Criado para orientar e fiscalizar o Poder Executivo, o Congresso Federal há muito se desvirtou de sua finalidade fundamental e, descontadas raras exceções, se transformou em balcão de negociatas, onde são criadas dificuldades coletivas para a geração de facilidades a poucos.
O questionamento sobre a necessidade de manutenção das casas legislativas, é bom que se ressalte, não representa um atentado à democracia, mas a necessidade de aprimoramento de um regime que, na prática, tem produzido poucas vantagens à população que, ao final, sempre paga a conta dos descalabros.
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