A posição omissa e dissimulada do Governo brasileiro diante dos acontecimentos que se sucedem na Venezuela tem merecido críticas da comunidade internacional e questionamentos sobre a real posição do País diante das evidentes manipulações e fraudes ocorridas na eleição realizada para a escolha do futuro presidente venezuelano.
Diante de tantas evidências de manipulação e interferências no processo eleitoral – que incluíram impedimentos de candidaturas oposicionistas, interferência na formatação de cédulas, intimidação e imposição de obstáculos a eleitores para acesso a postos de votação, impedimento de participação de observadores externos e, por último, total falta de transparência na publicação das atas com os resultados obtidos nas urnas -, a manifestação do presidente Lula tentando atribuir contornos de “normalidade” ao pleito venezuelano revela um elevado grau de cumplicidade e de contradição a quem, na retórica, personifica um dos principais arautos da democracia.
As constantes reverências ao ditador Nicolas Maduro e a governos ditatórias de esquerda, como Cuba e Nicarágua, confirmam a postura hipócrita assumida por ele e pelo partido que representa, o PT, diante das muitos atos de violência e violação dos direitos humanos contra opositores desses regimes, revelando uma postura ideológica não condizente com os valores humanitários defendidos ao longo da história pela diplomacia brasileira.
É certo que se deva considerar os riscos de ingerência de potências ocidentais interessadas na exploração de nações detentoras de riquezas minerais, como é o caso da Venezuela, bem como a preservação e manutenção do relacionamento nas esferas econômicas e culturais com um país fronteiriço.
Porém o Brasil, pela sua importância no cenário mundial e especialmente como principal líder sul-americano, não pode abrir mão de exigir que a soberana vontade de mudança manifestada pelos venezuelanos nas urnas seja respeitada como um valor fundamental e imprescindível.
Da mesma forma, a banalização e a atenuação da gravidade dos atos praticados com o objetivo de fraudar o processo eleitoral venezuelano, acrescenta dúvidas sobre o sistema brasileiro, uma vez sua metodologia e transparência têm sido questionadas por apresentar semelhanças quanto aos métodos de processamento e repressão aos críticos do processo.
É necessário e urgente, portanto, que o Brasil atue de forma efetiva para restabelecer o diálogo entre os grupos antagonistas afim de garantir de que a lisura da votação revele o real vencedor e evite a continuidade da repressão violenta contra a população, e a continuidade de uma ditadura que só produziu desesperança e pobreza.
Humberto Challoub é jornalista, diretor de redação do jornal Boqnews e do Grupo Enfoque de Comunicação
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