Como não poderia ser diferente, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), em curso no Congresso Nacional, tem concentrado as atenções do País e dividido opiniões entre juristas e correntes políticas. Sustentado pela constatação inequívoca de que o Governo utilizou de subterfúgios ilegais para maquiar as contas públicas, que são justificados pelos argumentos de que as medidas governamentais visaram assegurar benefícios sociais aos mais pobres, as posições contrárias e favoráveis à destituição presidencial se tornam fúteis diante da grave crise econômica que afeta grande parte da população, e pela profunda crise política resultante da Operação Lava a Jato.
Assim, há muito se sabe que o julgamento da presidente Dilma não se dará no campo técnico ou jurídico, mas sim na esfera política, a exemplo do que ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor, que hoje ocupa uma das vagas no Senado Federal. E talvez seja nesse contexto que a decisão se reveste, neste momento, de extrema importância para a consolidação da democracia brasileira, uma vez que torna-se difícil a compreensão de como alguns dos principais protagonistas do processo de impeachment, como os presidentes da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB), gozem de credibilidade e moral suficientes para comandar a cassação de um mandato presidencial.
A contar pelos escândalos de corrupção envolvendo as principais lideranças seu partido, o PT, e de legendas importantes de sua base aliada, Dilma talvez seja a menos comprometida, porém não a menos culpada diante dos caminhos tortuosos pelos quais está conduzindo o País. Sequer poderá reclamar da traição dos seus colaboradores mais próximos, como o vice-presidente Michel Temer (PMDB), uma vez que teve o livre arbítrio para escolher seus pares.
O que está em jogo agora é muito mais do que apenas a decisão de sua permanência ou não à frente de um governo que, como se vê, não demonstra capacidade – e não reúne credibilidade – para tirar o País do buraco, fruto da incompetência e da retórica eleiçoeira utilizada para a manutenção do poder a qualquer custo. O Brasil não quer mais Dilma e seus pares, como também não quer a corrupção e a politicagem praticada pelos principais expoentes de suas instituições democráticas.
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A decisão, portanto, está entre a permissividade de aceitar passivamente a ideia de que os fins justificam os meios, com o total desrespeito à legislação vigente, ou o rigor de fazer cumprir à risca a ordem legal, onde todos, sem distinção, são iguais perante a lei e devem assim se manter subordinados à vontade da maioria da população. Se é certo que os sujos não têm moral para acusar os mal lavados, que todos sejam condenados, cada qual a seu tempo.
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