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07 DE FEVEREIRO DE 2019

Para se conhecer a história do Rio de Janeiro

Por: Da Redação

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I
O jornalista Elio Gaspari, autor de cinco inolvidáveis livros sobre o regime militar (1964-1985), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, dia 30 de janeiro de 2019, observou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso gosta de relembrar uma cena na qual o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) discutia o tamanho de algumas figuras do Império e ensinou: “Doutora, eles eram atrasados. Nós não temos conservadores no Brasil. Nós temos gente atrasada”. Em seguida, o jornalista fez uma relação sucinta de males causados ao Brasil e à população brasileira por atitudes e decisões tomadas por gente despreparada e inculta, ou seja, “atrasada”, que chegou ao poder tanto pela força das armas como por acordo entre elites ou pelo voto popular.
Para ter uma ideia dos males que esse tipo de “gente atrasada” já causou à cidade do Rio de Janeiro, o antigo Distrito Federal, o leitor não pode deixar de ler Efemérides Cariocas (Rio de Janeiro, edição dos autores, 2016), dos historiadores Neusa Fernandes e Olinio Gomes P.  Coelho.  Ali pode constatar um dos maiores atentados à inteligência e à cultura nacional que foi a demolição a 5 de janeiro de 1976 do Palácio Monroe, projetado para representar o Brasil na Exposição Internacional de Saint Louis, nos Estados Unidos, e inaugurado em 30 de abril de 1904.
O edifício abrigou o Ministério de Viação e Obras Públicas, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, a partir de 1915, até a sua mudança para Brasília, em 1960. Apesar dos protestos da população e de entidades ligadas à engenharia e à arquitetura, o ditador da época, Ernesto Geisel (1907-1996), determinou ao ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen (1935-1997), a demolição do palácio, sem quaisquer justificativas técnicas e culturais. O local seria revitalizado com a instalação de um antigo chafariz da cidade e a construção de uma garagem subterrânea (p.24-25).
Outro exemplo está à página 457 onde aparece a foto do antigo solar do marquês de Inhambupe, na Praça da República, 25, que foi demolido em 1978 para que o Banco do Brasil, seu então proprietário, ali instalasse um centro operacional de computação. O local funciona até hoje como estacionamento de veículos do Corpo de Bombeiros, a exemplo do edifício neoclássico onde funcionou a Escola Nacional de Belas Artes, na Avenida Passos e Rua Gonçalves Ledo, projetado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny (1776-1840), inaugurado em 1816 e mandado derrubar em 1936 pelo então ministro da Fazenda, Arthur de Souza Costa (1893-1957), conforme se lê no livro Tesouro: o Palácio da Fazenda da Era Vargas aos 450 anos do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Pébola Casa Editorial, 2015, p.88-91), dos professores, arquitetos e pesquisadores Helio Brasil e Nireu Cavalcanti. Lá, hoje também funciona um estacionamento de veículos.
Através de vários verbetes, o leitor pode acompanhar também a trajetória do engenheiro Francisco Pereira Passos (1836-1913) que, como prefeito de 1902 a 1906, promoveu a renovação urbanística da região central do Rio de Janeiro, especialmente com a abertura da Avenida Central, hoje Avenida Rio de Branco, liderando a política do bota-abaixo, que modificou o cenário carioca e destruiu vários prédios remanescentes do período colonial e da época do Império, além de expulsar a população pobre, fazendo-a subir os morros para residir em moradias precárias (favelas).
II
O livro reúne outros principais fatos que ocorreram na cidade do Rio de Janeiro e que merecem ser conhecidos, além de “abrir caminhos para novas avaliações e pesquisas”, como observam os autores no texto de apresentação. É de se ressaltar que a pesquisa não ficou limitada a fatos políticos, mas procurou percorrer o processo histórico da cidade, reunindo um número significativo de verbetes e a reprodução de dezenas de imagens e documentos.
Enfim, é um livro que contempla mais de 451 anos de História, oferecendo imagens que completam a informação e preenchem uma lacuna na historiografia do Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, título dado pelo escritor maranhense Coelho Neto (1864-1934), como escreve a historiadora Neusa Fernandes no texto de abertura. Já o arquiteto Olinio Gomes P.  Coelho ressalta que o livro não pretende ser um tratado da história do Rio de Janeiro, mas oferece subsídios para a sua elaboração.
Ele cita outros livros de referência, como Efemérides Brasileiras (1946), de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o  Barão do Rio Branco (1845-1912), com fatos ocorridos até o final do século XIX,Efemérides Cariocas (1965), de Antenor Nascentes (1886-1972), com acontecimentos até maio de 1946,  Efemérides do Teatro Carioca, de Otto Carlos Bandeira Duarte (c.1880-?), com fatos até agosto de 1957, e Efemérides Luso-Brasileiras, de Heitor Lyra (1893-1973), publicado em Lisboa em 1971, com casos ocorridos entre 1807 e 1970. Além desses livros, a pesquisa foi fundamentada no levantamento e análise de outras fonte s impressas, como documentos oficiais e jornais, com consultas em arquivos públicos e particulares, museus, bibliotecas e coleções particulares.
III
Neusa Fernandes, nascida no Rio de Janeiro, tem graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 1960, e em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), 1968, além de mestrado em História Social, 1999, e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), 2002, e pós-doutorado pela UERJ, 2009. É pós-graduada em História pela Universidade de Madri.
Professora de História do Estado do Rio de Janeiro, título conquistado por meio de concurso público, no qual obteve o primeiro lugar, atuou em várias universidades cariocas. Foi pró-reitora de Pesquisa na Universidade Severino Sombra, em Vassouras, e diretora do Museu da República, Museu do Primeiro Reinado, Museu da Cidade e outras instituições. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), presta serviços ao Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação. É vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro (IHGRJ) e membro do Instituto Histórico e Geográf ico de Vassouras (IHGV).
É autora de 14 livros de História e de Museologia, entre os quais A Inquisição em Minas Gerais (Rio de Janeiro, Mauad X, 2016), Eufrásia e Nabuco (Rio de Janeiro, Mauad Editora, 2012) eDicionário Histórico do Vale do Paraíba Fluminense, em co-autoria com  Irenilda Cavalcanti e Roselene de Cássia Coelho Martins (Vassouras, IHGV/Nova Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 2016).
Olinio Gomes Paschoal Coelho, carioca, arquiteto, urbanista, livre-docente e doutor em Arquitetura pela UFRJ, especialista em conservação e restauração de monumentos e sítios históricos pelo Centro de Estudos para a Preservação e Restauração de Bens Culturais da Universidade de Roma/Unesco, é professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, da Universidade Santa Úrsula, do Instituto Bennett de Ensino e das Faculdades Integradas Silva e Souza.
Foi autor e executor de diversos projetos de conservação e restauração, entre os quais a primeira restauração do chafariz da Praça XV de Novembro, a restauração do Solar Del Rei, em Paquetá, da casa da antiga Fazenda do Capão do Bispo, da cobertura do Museu Nacional de Belas Artes e do Palácio Nilo Peçanha, para a instalação do Museu Histórico do Estado do Rio de Janeiro, entre outras obras.
É autor de Do Patrimônio Cultural e Catálogo Geral de Desenhos e Pinturas de Grandjean de Montigny e co-autor de 75 Anos do Crea-RJ e Efemérides Vassourenses. É sócio efetivo do IHGRJ e presidente do IHGV, além de membro do Conselho Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.

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