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Opiniões

03 DE NOVEMBRO DE 2025

Paz enferma e efêmera

Adilson Luiz Gonçalves

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Um episódio da Primeira Guerra Mundial é emblemático do desejo da humanidade por paz:

A “Trégua de Natal” de 1914 foi um ato espontâneo entre soldados opostos pelo conflito, que deixaram suas armas e trincheiras para confraternizar amigavelmente, cantando e trocando presentes.

Isso não agradou os senhores da guerra de então, que imediatamente reprimiram qualquer nova manifestação.

Ao fim desse conflito, a esperada paz só lançou as sementes de um novo conflito.

Após a Segunda Guerra Mundial, tentaram não repetir os mesmos equívocos do Tratado de Versalhes, mas o mundo emergiu dividido, com as potências não competindo diretamente, mas fomentando conflitos por toda parte.

A guerra tem sido um grande negócio e a paz normalmente surge como uma promessa.

Conflitos entre países são latentes por vários motivos, incluindo disputas comerciais ou territoriais, travestidas de ideológicas ou religiosas.

Mas eles também existem internamente, gerando revoluções e contrarrevoluções, pois a disputa pelo poder sempre gera sequelas, rancores e desejos de vingança, que fazem a paz nascer enferma e efêmera.

Há poucos que defendem uma paz genuína, e muitos que vivem em constante conflito, que precisam deles para sobreviver.

Dizem que a guerra é um vício e, como todo vício, depende de uma iniciação que, com o tempo, gera dependência.

Se o vício se transforma em meio de vida, a paz nunca será um objetivo.

Pela dificuldade que os que participam de conflitos têm para viver em tempos de paz, ou pelos revolucionários que sempre buscam novas revoluções, dentro ou fora de seus países, essa lógica perversa faz sentido.

A manipulação de massas pela doutrinação as torna úteis aos intentos de obtenção de poder, da mesma forma que as descarta quando ele é alcançado.

Considerando os meios que mistificadores e oportunistas utilizam para atingir o poder, a paz será ilusória e temporária, alcançada pela violência física e psicológica, quando não pelo extermínio de qualquer um que, interna ou externamente, o coloque em risco.

Assim, a paz permanece relativa, nunca efetiva, e os que a defendem são considerados fracos frente aos que têm nas guerras e revoluções seus meios de vida, mercenários incapazes de serem úteis fora delas, em que as ideologias são o ambiente ideal para exercerem seus piores instintos.

Assim, a paz permanece como um ideal, quase uma utopia que, apesar de presente no discurso de quase todas as religiões e ideologias, é contrariada nas ações de quem deseja apenas o poder secular, incluindo quem a prega.

A paz, para efetivamente existir, precisa ser como uma cura duradoura!

Só assim não haverá mais espaço para ideologias e religiões hegemônicas, que vivem da dissenção entre seres humanos e de guerras quentes ou frias, disseminando ódio em templos, praças, escolas e mídias, vilmente dividindo a humanidade, desastrosamente comprometendo gerações.

 

Adilson Luiz Gonçalves é escritor, engenheiro e pesquisador universitário e membro da Academia Santista de Letras

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