Ao encerrar o primeiro turno das eleições, a deputada federal Rosana Valle (PL) concedeu entrevista coletiva na noite de domingo criticando as pesquisas eleitorais, onde várias delas apontaram uma distância superior a 10 pontos percentuais favoráveis ao prefeito Rogério Santos.
Sem contar que alguns institutos e veículos de comunicação enfatizaram que as eleições se encerrariam no domingo.
Porém, na prática, a realidade foi bem distinta.
Afinal, apenas 1.499 votos separaram o prefeito Rogério Santos (43,29% dos votos válidos) e a parlamentar, com 42,65%.
Em números, Rogério obteve 101.498 votos contra 99.999 de Rosana.
A ex-prefeita e vereadora do PT, Telma de Souza, ficou com 31.423 votos (13,4%).
Um percentual considerável de eleitores mais alinhavados com o perfil de centro-esquerda e esquerda – que farão a diferença agora.
Sem contar os 1.565 votos de Nando Pinheiro.
É verdade que o visto foi um festival de pesquisas a menos de 15 dias das eleições.
Foram 16 ao todo, o que até confundia os eleitores diante de tantos números divulgados.
Vários deles, aliás, bem discrepantes – inclusive de quem estava na liderança.
Erros além da margem de erro devem ser apurados, pois não deveriam ocorrer – ainda mais com tanta diferença como o divulgado por alguns institutos de pesquisa.
Pesquisa não é loteria
Afinal, pesquisa não é loteria, mas está envolta em metodologia e técnicas estatísticas.E existe uma série de etapas que precisam ser relacionadas (margem de erro, distribuição geográfica de votos) com o devido registro feito por um estatístico responsável.
Em novo vídeo nas redes sociais, a deputada alertou para que as pessoas fiquem atentas às pesquisas, onde apenas um instituto, fora da Cidade, teria acertado.
O levantamento citado é o da Real Time Big Data, que no final de setembro apontava 44% das intenções de voto para Rosana Valle e 39% para Rogério Santos.
Como a margem de erro era de três pontos percentuais para mais ou menos, eles estariam tecnicamente empatados.
A pesquisa ocorreu entre os dias 27 e 28 de setembro – portanto, mais de uma semana antes das eleições.
No vídeo, a parlamentar também citou o levantamento da Paraná Pesquisa.
No entanto, o último registro da empresa em Santos ocorreu em 21 de agosto – portanto, bem distante das eleições.
Um novo levantamento da Paraná, este por conta própria, será o primeiro a avaliar os números do segundo turno.
Foi registrado um dia antes das eleições, sob o número SP-07280/2024.
Assim, pode ser divulgada a partir de sexta (11).
Repercussão na Câmara
Na Câmara, o vereador Rui de Rosis Jr (PL), que era integrante da base de apoio ao governo e hoje está na oposição, aproveitou para criticar ‘as pesquisas suspeitas’.
“Não se deixe enganar por estes números fabricados”, disse.
Na mesma linha de raciocínio falou o vereador Fábio Duarte (PL).
Por sua vez, Lincoln Reis relembrou que as mesmas pesquisas hoje criticadas eram elogiadas quando a candidata do PL estava na frente.
“Por que mudaram agora?”, indagou.
Enfoque/Boqnews
Com tradição em pesquisas desde 1996, a pesquisa Enfoque/Boqnews foi um das raras que apontou a real possibilidade de realização do segundo turno, com a manchete Pesquisa Enfoque mostra tendência de segundo turno em Santos após duas décadas. Ela foi publicada em nosso site.
O levantamento, com 1000 santistas, foi concluído na última quarta (2), faltando quatro dias para as eleições – fato enfatizado no texto na ocasião.
Portanto, antes de dois debates (TVs Santa Cecília e Tribuna), reta final do horário eleitoral e movimentações políticas de última hora.
Pelo cenário apresentado na ocasião, o prefeito estaria à frente – o que ocorreu – exatamente 6,4 pontos percentuais de diferença.
Mas, como a margem de erro da pesquisa era de 3,2 pontos percentuais para mais ou menos, havia uma real possibilidade de empate técnico, com ligeira vantagem para Santos.
Aliás, o que de fato ocorreu após a abertura das urnas.
Por sua vez, os indecisos chegavam a 9,9%.
“Como a margem de erro é de 3,2 percentuais para mais ou menos, Rosana estaria no limite em relação a Rogério (a diferença entre ambos é exatamente de 6,4 pontos percentuais)“, constava no texto escrito 4 dias antes das eleições de domingo.
Portanto, havia uma possibilidade real de ambos estarem tecnicamente juntos em termos de votos, mas no limite da margem de erro, ressaltando uma ligeira vantagem ao prefeito.
Mudança de lado
Não bastasse, quase 30% dos eleitores, em média, poderiam mudar de voto até o dia da eleição.
Ou seja, fato ocorrido com a abertura das urnas.
Outro dado interessante é que a mesma pesquisa trouxe também a listagem para os vereadores.
E 20 dos 21 vereadores eleitos constavam na listagem das citações divulgadas na pesquisa (veja o quadro abaixo).
Reforçando que a pesquisa trouxe a listagem (veja o quadro) com 20 dos 21 nomes do Legislativo eleitos, algo difícil a medida que foram 354 candidatos nesta disputa.
Ou seja, a mesma pesquisa que mais se aproximou da tendência para o Executivo, ratificou o cenário para o Legislativo.
Números
Vale lembrar que alguns fatores devem ser levados em consideração, como a diminuição de eleitores que foram às urnas desta vez na comparação com 2022.
Em 2020, ano da pandemia – que deve ser relativizado, pois muitos não compareceram – foram 229.006 santistas que votaram, chegando a 200.215 votos válidos (excluídos brancos e nulos)
Já nas eleições de 2022, foram 273.434 santistas, sendo 261.974 votos válidos.
Por sua vez, no último domingo, as urnas registraram 250.178 votos, sendo 234.485 votos válidos para candidatos a prefeito.
Portanto, uma diferença de 23.256 eleitores, a despeito do crescimento do eleitorado de 352.595 para 354.045 eleitores (alta de 0,4%) entre 2022 e 2024.
Dessa forma, estes eleitores, se votarem no segundo turno, poderão fazer a diferença no dia 27 de outubro.
Assim como os que optaram por Telma de Souza (31.423 votos) e Nando Pinheiro (1.565 votos) no primeiro turno.
Quem serão os beneficiários?
Dessa forma, supõe-se que os votos de eleitores de centro-esquerda e esquerda devam migrar para qualquer candidatura não alinhada com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mas nem sempre isso ocorre.
Afinal, outros fatores locais podem levar à anulação do voto ou simplesmente o não comparecimento para a votação.
Assim, quem estiver na frente, levará vantagem nos votos válidos.
Rosana Valle, eleita pelo PSB e reeleita pelo PL, nunca escondeu sua admiração e aproximação pelo ex-presidente Bolsonaro e sua esposa, Michelle.
Portanto, qual será o seu apelo para atrair os eleitores tanto da ex-prefeita Telma, especialmente, onde uma ampla parcela deste público tem forte viés ideológico?
Por sua vez, Rogério Santos, que se coloca como alguém de centro, está no Republicanos, partido à direita, que tem o governador Tarcísio de Freitas no Estado.
Freitas, aliás, é afilhado político de Bolsonaro.
Curiosidades
Por fim, para deixar o suspense ainda maior para os próximos dias, vale lembrar que o prefeito Rogério Santos ganhou no primeiro turno em 2020 (na disputa com outros 15 candidatos), com 101.268 sufrágios.Agora, foram 101.498 – crescimento de exatos 230 votos na comparação entre as eleições, após quatro anos.
Sinal que agora ele terá que buscar votos fora da bolha (de eleitores da esquerda e centro-esquerda?) para manter a liderança e vencer no dia 27.
Por sua vez, a deputada Rosana Valle obteve 56.704 votos em Santos em 2022 para garantir mais um mandato na Câmara Federal.
Desta vez, conquistou 99.999 no primeiro turno. Um crescimento substancial, ainda que sejam eleições distintas.
Portanto, resta saber como Rogério e Rosana vão garantir a manutenção dos votos obtidos no último domingo (6).
Além disso, ampliar espaço naqueles que não compareceram às urnas e também conquistar os corações e mentes dos que votaram em Telma de Souza, por exemplo, especialmente os eleitores de centro-esquerda e esquerda, principal do PSOL.
Aliás, partido que reelegeu a vereadora Débora Camilo, a mais votada nestas eleições, com 8.016 sufrágios.
A legenda obteve 13.182 votos junto com os candidatos da Rede, que formam a Federação.
Estes eleitores têm perfil claramente alinhado à esquerda – de total oposição ao ex-presidente Bolsonaro.
Portanto, começará a surgir uma nova onda de pesquisas.
De institutos locais e de fora.
Haverá boicote para respondê-las?
História
Assim, ao contrário dos que demonizam as pesquisas e as colocam no mesmo saco, é importante separar o joio do trigo.
Ou seja, ver seu histórico e história, além das raízes por estar estabelecido na Cidade.
Afinal, credibilidade é a principal marca de um instituto de pesquisa.
E isso, a Enfoque/Boqnews tem o orgulho de ostentar ao longo de sua trajetória, iniciada nas eleições de 1996.
Na época, já apontava a vitória de Beto Mansur contra Telma de Souza, a despeito de institutos nacionais mostrarem o oposto.
Feito repetido em 2000, 2004 (com a passagem de João Paulo Papa e Telma de Souza para o segundo turno, seguida pela vitória dele), com a histórica manchete Nas mãos dos Indecisos, onde Papa venceu no dia da eleição por 1.771 votos (0,74 pontos percentuais).
E assim sucessivamente, como a própria eleição, em primeiro turno, do então prefeito Paulo Alexandre Barbosa em 2012.
Não bastasse, a votação recorde do então vereador Kenny, entre outras eleições não só municipais – tanto para o Executivo como para o Legislativo – assim como as estaduais e nacionais – sempre com o olhar do santista.
Fatos que ninguém pode apagar nem desprezar.
Afinal, a história se constrói ao longo de etapas.
E a verdade sempre deve prevalecer.
Gostem ou não.
Lembrando, aliás, que pesquisas são como nuvens, que mudam a cada vento mais forte.
Uma pesquisa apenas informa a tendência e direção que está sendo tomada naquele momento.
Que os bons ventos escolham o melhor para a Cidade!
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