O insumo gratuito de que todos somos providos, mas ao qual não emprestamos o devido valor, chama-se tempo.
Ele é escasso, na sua versão individual. Desperdiçamo-lo, pensando que é infinito.
Sua vocação é mesmo a infinitude. Mas para nós, ele reserva algumas décadas. Não mais.
E nossos dias dão consumidos em rotina que não permite pensar nisso.
Há tarefas a cumprir, compromissos a honrar. Mal se inicia uma semana e logo se está na sexta-feira.
Os idosos, costumamos dizer: alguns minutos são longos.
Como aqueles em que passamos num consultório médico ou nos submetendo a um tratamento dentário.
Mas os anos passam voando.
Esquecemo-nos de que também nós somos finitos.
Mal nascemos, começamos a contagem decrescente para a morte.
Implacável, essa ocorrência tão democrática: não poupa ninguém.
O dia-a-dia engole as horas e faz relegar o mais importante.
A edificação e o aprimoramento do nosso caráter.
“O caráter não é herdado. A pessoa o desenvolve diariamente, conforme pensa e age, pensamento por pensamento ato por ato”, dizia a escritora Helen Gahagan Douglas (1900-1980).
Algo já afirmado por Aristóteles, ao ensinar que virtude é prática e não dom. Se todos os dias fazemos algo de bom, sem perceber nos tornamos virtuosos.
Às vezes cuidamos do corpo. Raramente nos preocupamos com a alma.
Ela é essencial, pois nos governa. Sem alma, somos autômatos, marionetes movidos pelas circunstâncias.
Por onde anda nossa alma? Ela é o que garante nossa coerência, ela mantém a funcionar nossa consciência, cujo tribunal é muito peculiar.
Se estiver em ordem, é muito mais severo do que o Judiciário.
Nossa alma nos impõe o dever de cuidar também do nosso irmão, sem poder responder como Caim: “Por acaso sou guardião do meu irmão?”.
Quando não nos sentimos responsáveis pela exclusão, pela miséria, pelo abandono, assumimos a nossa parte nessa espécie de homicídio homeopático.
Façamos nosso exame de consciência diário e, mais do que isso, nosso exercício para robustecer as virtudes d’alma.
Delas necessitamos para justificar a nossa passagem pela Terra.
Se nada for melhor depois deste nosso estágio, de que valeu termos chegado e aqui permanecido?
José Renato Nalini é Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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