Quem não aplaude… | Boqnews

Opiniões

09 DE JULHO DE 2024

Quem não aplaude…

José Renato Nalini

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Parte considerável dos detentores de autoridade transitória, aquela que vem com cargos públicos, quer aplausos e reverências.

Encontram sempre um grupo de áulicos, ávidos por satisfazer o chefe em todas as suas vontades.

Por isso é que a crítica é uma experiência excepcional na vida do poderoso.

Ele se acostuma com a corte. Quando ela falta, ele nem sempre reage bem.

Isso aconteceu no decorrer da História e continua a ocorrer.

O fanatismo envolveu Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e tantos outros. Falo apenas dos mortos, para não suscitar ruídos.

Conta-se que, principalmente na Alemanha e na Itália, não se podia abordar qualquer mácula no regime nazista ou fascista.

Nada, no ideário de ambos, seria censurável.

O princípio era de absoluto êxtase, só se permitiam manifestações laudatórias aos chefes.

Certa feita, o Duce – Benito Mussolini – fazia uma viagem pelo interior e, nas vizinhanças de um povoado, deu-se uma pane em seu carro.

O conserto demoraria cerca de duas horas.

O motorista aconselhou-o a permanecer dentro do cinema da aldeia.

Ele aceitou e entrou na sala de projeções, repleta. No escuro, incógnito, sentou-se em um dos últimos bancos.

Em dado momento, exibe-se o noticiário em que a única figura a merecer espaço era o próprio Mussolini.

A grande assistência, como impelida por um controle automático, irrompeu em aplauso.

Todos de pé, exaltados, em frenética gritaria orquestrada.

Benito deixou-se ficar sentado e quedo. Fruía daquele instante de glória.

Terminado o espetáculo, um idoso dirigiu-se discretamente a ele: – “O senhor é imprudente! Eu também penso como o senhor em relação a Mussolini. Mas é muito perigoso não acompanhar os outros quando ele aparece, mesmo na tela. Aceite meu conselho: não faça mais o que fez agora. Pode-se arrepender!”.

É assim que funciona. Os ouvidos ficam treinados para a melodia encomiástica.

Um tom menos elogioso pode ofender a sensibilidade de quem se acostumou com a música da vassalagem.

Guarde para você a sua opinião, se não coincidir com o catecismo da bajulação.

 

José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.