Ao tentar desqualificar as sucessivas denúncias realizadas por meio de delações premiadas, realizadas por empreiteiros e agentes envolvidos no escândalo de corrupção na Petrobras – dando conta da participação de ministros e do envio de recursos ilícitos para a sua campanha eleitoral -, a presidente Dilma Rousseff cumpre um desserviço à Nação, ao mesmo tempo em que insiste na repetição da doutrina contida na cartilha de seu antecessor, o ex-presidente Lula, ressuscitando o velho jargão maniqueísta petista, que consiste em negar peremptoriamente a realidade dos fatos e , ao mesmo tempo, se colocar como vítima de um processo sistemático desencadeado pelos meios de comunicação para a depreciação da imagem de seu governo.
Ao comparar o processo de apuração dos atos de corrupção em curso como uma reprodução de métodos da “Idade Média”, a presidente tenta diminuir a impotência dos fatos revelados e procura transferir a responsabilidade pela grande repercussão dada ao episódio considerando irresponsável e sensacionalista a abordagem da imprensa. Não há como negar que jornalistas cometem erros e que donos de veículos de comunicação atuem com propósitos outros, ou se coloquem a serviço de interesses particulares.
Porém, à sociedade cabe a fiscalização e o julgamento desses atos, especialmente em um estado plural e democrático como o brasileiro. Era de se esperar que passado tanto tempo no exercício do poder, Dilma estivesse acostumada às críticas habituais contra o seu governo realizadas pela mídia, pois esse é um dos papéis que a imprensa livre deve por obrigação cumprir.
Tantos outros governantes tiveram o mesmo dissabor e souberam entender que o cargo exercido delega direitos incontestáveis, mas impõe deveres institucionais que incluem a obrigação de dar total transparência e a devida publicidade aos atos praticados na função. A liberdade de imprensa é uma conquista e um fator preponderante para a manutenção dos direitos individuais, por isso deve ser aceita com suas contrariedades e suas possíveis imperfeições.
É justo que se reconheça que boa parte das campanhas eleitorais, da maioria dos partidos, contam com recursos provenientes de empreiteiras, instituições financeiras e grandes empresas interessadas em estabelecer vínculos de interesse com possíveis detentores do poder visando dividendos futuros, utilizando procedimentos legais que a atual legislação eleitoral faculta. Porém, não há como se admitir a consolidação da ideia de aceitação de procedimentos imorais que, comprovadamente, caracterizam-se como crimes de lesa-pátria. Se não há nada a temer, não há razão para se condenar delações de quem quer que seja, uma vez que ao denunciante cabe o ônus da prova e aos denunciados o respaldo da lei.
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