O mais prejudicado bioma pelo indiscriminado e crescente desmatamento que fez o Brasil se tornar “Pária Ambiental” é a nossa Mata Atlântica.
Não possui mais do que um décimo da área original. Paradoxalmente, a COP-15, realizada em dezembro último em Montreal, no Canadá, a elegeu como referência em restauração.
Isso significa um olhar atento da ONU para a prioridade em projetos de recomposição da cobertura vegetal quase totalmente destruída.
A agenda das Nações Unidas para o período 2021 a 2030 é a “Década da Restauração”. Passou-se a uma nova concepção de preservação.
O foco é no papel essencial do ecossistema garantidor de água, alimento e energia e também de sequestrar carbono, o grande desafio para que a humanidade não pereça antes do tempo.
A Mata Atlântica é, reconhecidamente, um espaço privilegiado ante a exuberante diversidade biológica e das espécies endêmicas que possui.
Muitas delas, com alto risco de extinção. A UNESCO já a considerara uma Reserva da Biosfera.
Mais da metade da alimentação consumida pela população brasileira é produto da Mata Atlântica.
Ainda assim, ela continua a ser devastada. Especulação imobiliária, pastagens, agricultura.
Se fosse preservada, o turismo seria muito mais rendoso do que essas atividades que acabam com a sua riqueza atual e potencial.
O desmate cresceu quase setenta por cento entre 2020 e 2021.
O empenho da Organização das Nações Unidas é no sentido de uma real e concreta transformação da relação do homem com a natureza.
A ignorância e a imbecilidade não conseguem enxergar que disso depende o enfrentamento da tripla crise planetária de mudança climática, redução drástica do que se chamou um dia “natureza”, combate à poluição e ao descarte, na cultura do desperdício em que nos especializamos.
Estamos na Mata Atlântica. Tudo o que pudermos fazer para recompô-la, é uma questão de sobrevivência.
Ela está num verdadeiro estado de necessidade. Plantar árvores, repor com a cobertura de espécies nativas as chagas abertas pelo machado e pela motosserra, semear, proteger.
Se não fizermos isso, talvez nem haja quem possa nos acusar de ecocídio.
Pois abreviaremos a aventura humana sobre este maltratado planeta e interromperemos os elos com a nossa descendência.
José Renato Nalini é diretor-geral da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove, autor de “Ética Ambiental” e advogado militante.
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