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12 DE SETEMBRO DE 2017

União online

Por: Da Redação

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Uma das maiores reclamações da “Era Digital” é o afastamento das pessoas da vida real. Relações que são atrapalhadas por um controle de videogame entre duas pessoas, um computador, celular entre outros aparelhos. Algo que foi criado para o fim de aproximação e diminuir distâncias, na prática abre um espaço maior entre elas. Porém, vivemos numa época que não estar “conectado” ou ter certos aparelhos acaba nos deixando fora do conhecimento geral. Abrir mão dessa tecnologia é uma boa ideia? Ou devemos aprender a utilizá-la?

Nesta semana, “zapeando” o Netflix, vi que lançaram um seriado chamado Final Fantasy XIV: Dad of Light. Ao contrário do que muitos imaginam, não é um material baseado na franquia de jogos ou em uma das inúmeras histórias contadas desde sua criação até os dias recentes. Este é um seriado um tanto distinto, com uma proposta fora do comum: Akio, um jovem comum no Japão tem um relacionamento complicado com seu pai. Os dois mal se comunicam. Em um belo dia, seu pai pede demissão do emprego e decide se aposentar, mas sem contar a verdadeira razão disso a nenhum dos familiares. Lembrando que, ainda criança, o pai jogava com ele o jogo Final Fantasy, ele compra um PlayStation 4 e o jogo Final Fantasy XIV: A Realm Reborn. E com isso, iria alcançar o que não tinham há tempos: um convívio familiar.

Pai e filho se unem num enredo que usa o videogame para estreitar o laço entre ambos.

De primeira, parece uma ideia “boba”, mas não se deixem enganar. O jogo, por ter um caráter online (a permanência na internet e com outros jogadores é obrigatória), torna o assunto já relevante. Ter de apelar para a tecnologia para resolver um problema em nossas vidas reais é algo recorrente que vemos nos últimos tempos. Com certa abordagem, isso pode mover histórias das mais diversas formas. O próprio jovem, Akio, interage bastante com seu grupo de jogadores para pedir conselhos ou contar sobre as frustrações de seu plano em relação ao seu pai. Já a imagem paterna, já de certa idade, vê nisso uma oportunidade de entrar num ambiente com tecnologia de última geração. Isso acaba mudando a vida de ambos de vários modos.

Enquanto Akio, com uma personagem feminina, engana seu pai dentro do jogo e o ensina várias táticas, acompanha ele em suas aventuras e o faz descobrir o que tanto gostava no game em seu passado, as versões reais deles mal interagem. Algumas vezes o jovem o auxilia com algumas dúvidas dele sobre a tecnologia em mãos e das possibilidades que podem proporcionar, mas a relação deles cresce conforme o jogo avança. É no ambiente virtual que Akio descobre mais sobre o próprio pai, recebe valiosas lições e reconhece a figura carinhosa que tinha enquanto criança debaixo da casca de maturidade que a vida o impôs.

O jogo, lançado em 2010 pela Square-Enix para o PS3, PS4 e PC, tem o aspecto online para ser jogado multiplayer entre várias pessoas.

Um dos pontos mais interessantes do enredo é em como isso age sobre Akio. Enquanto seu plano flui e ele vai descobrindo quem o pai realmente é por trás do silêncio e suas motivações, tudo que eles conversam e lições que são passadas causam um efeito na vida do jovem (tanto em relação às pessoas ao redor na sua vida quanto no seu trabalho). Além de promover a união dos dois, qual a razão de não mostrar em como os mais velhos podem nos ensinar através de sua experiência? O que um vive hoje, o outro já viveu há muito tempo. Não apenas isso, já superou problemas que teríamos bastante dificuldades atualmente.

O projeto, produzido pela Netflix, também possui outro aspecto interessante: ele torna o jogo uma plataforma de atuação entre os personagens. Os jogadores dublam suas personalidades virtuais enquanto a aventura desenrola, trazendo uma interação que apenas imaginamos enquanto jogamos. Algo semelhante ao trabalho realizado pelo brasileiro Raony Phillips, criador de Girls in the House (que usa The Sims). Transpor ideias que funcionariam apenas com atores num jogo já programado sem este intuito merece um elogio pela forma como trabalham.

Girls in the House, websérie criada por um brasileiro, usa The Sims como base para seus personagens

Este é apenas um exemplo básico de como a tecnologia pode aproximar as pessoas, ao invés de afastá-las uma das outras. Principalmente os videogames, que ainda hoje é taxado como algo infantil e para “desocupados”. Não que você precise dar um videogame e um jogo ou até enganar a pessoa de forma virtual para forjar um vínculo. Se for se dar a este trabalho, saiba que não é necessário. Mas ter algo em comum com outras pessoas, algo que aconteceu com ambas ou tem participação direta nos dois (ou mais) lados já é um bom começo para voltar a se reaproximar de quem está distante.

Sendo sincero, já passei por uma situação dessas com meu próprio irmão em casa. Fomos criados juntos, sob as mesmas regras, aprendizado e cultura e algumas escolhas diferentes nos tornaram muito longe um do outro. A história só mudou quando, após muito tempo sem, trouxe videogames de volta para casa. Apesar de ainda se manter longe deste nicho, Dying Light (jogo de apocalipse zumbi) chamou bastante a atenção dele enquanto eu o jogava na época. Ou rir das minhas falhas críticas do jogo Halo, que se tornaram cada vez mais frequentes na época.

Com algum tempo, ele mesmo decidiu quebrar esta barreira e se aventurar do mesmo modo. Todo dia conversávamos sobre Dying Light, Evolve (jogo de guerra contra monstros), The Last of Us, entre outros que nos chamavam a atenção em comum. E o tempo foi passando e voltamos a reconstruir uma relação, com mais similaridades do que diferenças. Ainda somos bem diferentes um do outro, mas um ponto de conexão nos ligou de volta. Hoje é impossível pegar no controle pra jogar um game e ouvir um “o que vamos jogar agora?” (já com o outro controle na mão).

Dying Light traz hordas de zumbis numa cidade infestada e seu único intuito é sobreviver às perigosas criaturas.

Eu mesmo acredito que a tecnologia ainda é utilizada para nos tornar mais distantes uns dos outros. As redes sociais (ou antissociais, para alguns) acabam transmitindo ondas de situações e histórias que possam gerar desconforto. Os próprios videogames se tornaram um ambiente competitivo, não abrindo muito espaço para laços no meio dos KD (kills/death…quanto você morre em determinado jogo e o quanto você mata) da vida. Alguns até tentam, mas temos de admitir que o ambiente online pode ser tóxico às vezes. Nos últimos tempos vi a notícia de um pai que estava procurando grupos seguros para sua filha, ainda criança, poder aproveitar os jogos dela tranquila sem agressividades ou conteúdo impróprio para ela através dos chats.

Apesar disso, vendo Final Fantasy XIV: Dad of Light no Netflix, voltei a perceber o imenso potencial que o material tem de unir pessoas e trazer o melhor delas à tona, fora da massa que torna este campo complicado. Temos de admitir (parte 2), tudo que o ser humano toca se torna complicado. Porém, ainda tem pessoas e gente cujo único desejo é aproveitar o máximo que pode e se divertir com isso. Entretenimento. É disso que se trata. Jogos online não servem apenas para competir, alguns servem para unir. E talvez este detalhe, pequeno e minúsculo, que afastam as pessoas que sentem vontade de prosseguir neste âmbito. A forma como usamos a rede que determina o ambiente que estaremos. Tudo depende de nós, não do jogo. E somente nós podemos mudar essa visão individualista para passar a pensar no coletivo.

Para mais informações, entre em contato pelo e-mail colunaestacaox@outlook.com ou adicione nas redes:

PSN: CorumbaDS

Xbox Live: PlumpDiegoDS

Nintendo Network: DarXtriker

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