![]() |
Evey Hammond e o homem mascarado V |
A história narrada em V de Vingança, filme lançado em 2006
e dirigido por James McTeique, já tinha seus fãs muito bem consolidados através
das novelas gráficas (histórias em quadrinhos) escritas e desenhadas pelo fabuloso
autor Alan Moore, e que a produção do longa se baseou para levar o personagem,
denominado apenas pela letra V, das páginas para a tela do cinema.
Nas cenas iniciais temos uma narração comovente, feita por
uma voz que vamos escutar lá para o segundo ato do filme, e que significa muito
para uma melhor compreensão do contexto que envolve a luta contra uma
Inglaterra tomada por um governo ditatorial, cenário onde o totalitarismo
domina e oprime qualquer tipo de liberdade, seja ela expressiva ou não.
Nelas, podemos notar a ponta do estopim quase sendo acesa
pelo soldado inglês católico Guy Fawkes, ainda no século 17, quando, através de
um plano intitulado de Conspiração
da Pólvora, pretendia explodir o prédio do parlamento inglês usando 36
barris de pólvora e mandando todos os membros que participavam de uma sessão para
os ares.
Depois da introdução histórica, temos ótimos planos de
filmagem que nos apresentam de forma criativa nossos personagens centrais já
nos dias atuais: Evey Hammond (Natalie Portman) e V (Hugo Weaving). Com cada um
dentro do seu próprio quarto, mas em lugares diferentes, temos a imagem do
mesmo discurso televisivo, onde um porta-voz do governo vigente usa as palavras
como se fosse um deus. A sensação opressiva logo toma o ambiente e desperta a
cautela dos dois personagens.
Detalhes da Direção de Arte também são perceptíveis. Basta
notar as cores usadas no ambiente de cada um. Evey possui um quarto com tons
mais claros, passando o aspecto de mais liberdade, uma vida normal. Já o de V
quase que não temos nenhuma cor diferente do preto, detalhe que vai mergulhando
a vida do misterioso homem numa melancólica solidão. É legal notar como eles
reagem quando, no discurso, escutamos frases de um sistema político contra
outras etnias, homossexuais e ateus, consolidando a ideia do cenário que os
habitantes daquele país vivem.
O filme todo trabalha uma linguagem estética para que
realmente não sobre dúvidas quanto ao poder que o ditador Sutler (John Hurt) tem
sobre todos. Nas reuniões e aparições públicas a imagem do governante sempre é
posta acima dos demais, aumentando a sensação de notoriedade. Com planos mais
fechados, temos a cara do chanceler colada em nossos olhos, uma maneira de
também pressionar o expectador. Outro detalhe são os quadros com pinturas do mesmo,
espalhados por diversos cenários, sempre sustentando esta intuição do medo.
E é com este sentimento de falta de liberdade que o filme
ganha corpo e desenvolve sua estrutura dramática com base nos desejos
reprimidos dos habitantes, envolvidos num sistema político corrupto e opressor.
É neste mesmo ambiente hostil que Evey conhece V e muda completamente sua vida,
descobrindo um novo sentido para usar sua força moral a favor da justiça
libertadora.
Há momentos em que a encenação teatral chama a atenção. Elas são
feitas exclusivamente pelo personagem V, que trabalha toda sua persona em cima
da figura retirada do seu filme favorito, O Conde de Monte Cristo, versão de
1942, baseado no clássico escrito por Alexandre Dumas. Uma interpretação bem
peculiar e que caracteriza a erudição do homem mascarado, que aproveita sempre
para expor seus ideais a favor do povo e dizer que igualdade, justiça e liberdade
são mais que palavras. São perspectivas.
Uma das cenas memoráveis é quando Evey passa pelo processo de
transformação e está limpando um espelho. Nele, logo acima, podemos ler uma
frase em latim: Vi Veri Veniversum Vivus Vici, que quer dizer Através da
verdade, enquanto vivi, eu conquistei o universo. E logo a câmera pega seus
rosto, refletido, enquanto lê as belas palavras para ela mesma. Um momento onde
notamos que ela está totalmente livre para enfrentar o seus antigos medos.
Todos os três atos são repletos de interpretações e diálogos
muito bem trabalhados. A direção vai criando cenas que dificilmente alguém pode
esquecer. Além disso, narra uma história que é bem recebida e consumida pelos
olhos de quem vê, aproveitando o processo para se identificar com a história de
amizade e força criada num processo de libertação pessoal unificada.
Ficha Técnica
V de Vingança (V for Vendetta, 2006)
Diretor: James
McTeique
Roteiro: Andy Wachowski e Lana Wachowski
Elenco: Natalie
Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Sthephen Fry, John Hurt, Tim Pigott-Smith, Rupert
Graves;
Deixe um comentário