Faltando cinco dias para as eleições municipais, a maior parte dos 350 candidatos a vereador em Santos só ouviu falar no Fundo Especial, o popular Fundo Eleitoral.
Na prática, nada caiu na conta bancária aberta exclusivamente para esta finalidade.
Afinal, a ampla maioria dos candidatos sequer viu pingar um centavo em suas campanhas, com base nos recursos públicos aprovados pelo Congresso.
Ao todo, são cerca de R$ 5 bilhões disponíveis para serem distribuídos pelos Diretórios Nacionais dos Partidos.
“Até agora nada”, reclama um candidato, que tenta voltar à Câmara.
Ele preferiu não ter o seu nome divulgado.
Dessa forma, torce para que algo caia na conta aberta para sua campanha nesta reta final de campanha.
“Pelo menos para cobrir algumas despesas”, já conformado com a realidade.
Outro, já vereador e esquecido pelo partido no repasse de recursos, calcula R$ 120 mil em gastos ao longo da campanha para tentar a reeleição.
“No máximo, R$ 150 mil”, declara, pedindo anonimato.
Aliás, a concentração do dinheiro na mão da alta cúpula dos partidos em âmbito nacional e estadual dificulta o acesso aos recursos.
Resultado: candidatos usam recursos próprios – ou de terceiros que não querem se identificar – para honrar seus compromissos.
Empresários
Assim, a outra alternativa é pedir recursos diretamente a empresários.
De todos os âmbitos: do País e da região.
Afinal, o maior doador até o momento é Rubens Ometto, da Cosan/Raízen, um dos homens mais ricos do País.
Já doou R$ 17,5 milhões (dados até o dia 2 de outubro).
Inclusive para as candidaturas do prefeito Rogério Santos (R$ 200 mil), do Republicanos, além dos vereadores Bruno Orlandi (R$ 100 mil), ex-secretário de Assuntos Portuários, e Adilson Jr (R$ 50 mil), líder do governo na Câmara.
Do PSD e PP, respectivamente.
E também para o médico infectologista Marcos Caseiro, candidato pelo PT. (R$ 50 mil)
Em âmbito regional, os maiores doadores são os membros da família Mendes (os irmãos Alex, Paulo e Carina), além da matriarca, Maria Celeste.
Juntos, já doaram R$ 1,66 milhão (dados até a última terça, dia 1).
Assim, se somados os valores, estariam em sexto lugar entre os maiores doadores para campanhas eleitorais no País.
Mais da metade dos vereadores da Câmara, dos mais variados partidos, já tiveram recursos repassados pelos quatro.
Além disso, dois candidatos a prefeito também foram contemplados.
Casos de Alberto Mourão, de Praia Grande (R$ 250 mil), e Rosana Valle, de Santos (R$ 100 mil).
Fartura no PL
As raras exceções – ou seja com dinheiro em caixa – nesta disputa são os integrantes do PL, líder em repasses.
Afinal, a soma recebida pelos 22 candidatos chega a R$ 3,244 milhões – algo em torno de R$ 147,4 mil por nome.
Por ter a maior bancada, o partido abocanhou quase R$ 900 milhões do Fundo Eleitoral (cerca de 18% do todo).
Em Santos, o diretório nacional também tem sido generoso.
Reservou – até o momento – R$ 2,56 milhões para a candidata ao Executivo, a deputada federal Rosana Valle – de um total de R$ 2,758 milhões que ela já recebeu.
Na conta, vale destacar os R$ 100 mil doados pelo empresário Paulo Sérgio Mendes e outros R$ 55 mil do Fundo Partidário do PL de Santos, cujo marido da deputada, Gerson Feliciani Carife, ocupa a presidência.
Portanto, somados entre todos os candidatos, o partido já liberou R$ 5,8 milhões para os pleiteantes ao Executivo e Legislativo – praticamente o valor gasto para a construção da policlínica da Vila Progresso.
Discrepâncias
No entanto, mesmo na legenda melhor aquinhoada, existem discrepâncias gritantes, com base nos dados públicos até a última sexta (27).
Afinal, cinco candidatos receberam, juntos, quase a metade deste montante.
Ou seja, os estreantes Alisson Salles, Daniel Valle, Rui de Rosis Jr receberam R$ 320 mil cada.
Aliás, Valle é sobrinho da deputada Rosana Valle.
Idem a Rui de Rosis Jr, filho do atual vereador Rui de Rosis, que não tenta a reeleição.
Além disso, os vereadores Sérgio Santana e Fábio Duarte (ex-Podemos) ficaram com o mesmo valor.
Santana, aliás, ampliou suas verbas para gastos eleitorais, pois foi agraciado com mais R$ 80 mil doados pelo empresário Paulo Mendes, filho do falecido Armênio Mendes, fundador do Grupo Mendes.
Aliás, Santana foi o autor do projeto que alterou o nome da Rua Guaiaó (nome indígena da Ilha de São Vicente, onde Santos se localiza em sua parte insular) para Alameda Armênio Mendes.
Aliás, até o momento, apesar das promessas de melhorias bancadas pelo grupo empresarial, apenas as placas de sinalização da via mudaram.
Líder em recebimentos
Santana, porém, não é o líder em recebimentos para a campanha eleitoral – a despeito do montante próximo do limite de gastos para vereador (R$ 415.691,32).
Até o momento, o maior arrecadador para a campanha é o arquiteto e servidor público municipal Ronald do Couto Santos, que já arrecadou R$ 401.609,35, sendo R$ 400 mil do PP, seu partido.
Seu padrinho político, que grava vídeos nas redes sociais com o candidato, é o deputado federal Da Cunha, do mesmo partido.
Nem vereadores do partido, como Adilson Jr, receberam recursos da legenda.
Ao contrário de Couto Santos.
Não faltam recursos
Voltando ao PL, líder em liberação de recursos, o jovem advogado Felipe Gaspar, assessor do deputado Paulo Mansur, também não tem o que reclamar.
Recebeu R$ 330 mil, sendo R$ 300 mil da direção nacional do partido e outros R$ 30 mil da empresária Carina Mendes.
No segundo bloco, com R$ 150 mil recebidos cada, estão os candidatos Diego Contesini, Dra Nadir Tavares e Sabrina Huss.
Depois, receberam a quantia de R$ 110 mil para suas campanhas, as candidatas Cabo Celeste e Professora Silvia Carla.
E R$ 100 mil cada, as candidatas Ana Cristina, Brenda Baroni e Professora Rosana.
O menor valor recebido é do servidor federal Leonardo Perez (R$ 34 mil) e Toninho Serra, que nada recebeu até o momento.
Federação PT, PCdoB e PV
Já a federação PT, PCdoB e PV vive uma situação atípica.
Sua candidata majoritária, a vereadora e ex-prefeita Telma de Souza, já recebeu R$ 2,49 milhões para sua campanha, sendo R$ 2,11 milhões do seu partido (PT), R$ 215 mil do PCB e R$ 150 mil do PDT, partido da base de apoio e que indicou o vice, o médico Marco Aurélio Soares.
No entanto, a realidade dos 15 candidatos a vereador é bem diferente.
Afinal, eles receberam, somados, R$ 585 mil da federação.
Ou seja, os candidatos à vereança têm à disposição 1/4 do recebido pelo diretório nacional em relação à candidatura majoritária.
Mesmo assim, com sensíveis discrepâncias.
O vereador Chico Nogueira recebeu R$ 82,1 mil da sua legenda (PT), o maior valor repassado pelo partido a um candidato ao Legislativo em Santos.
Já o PCdoB destinou R$ 45 mil para Diná Lisboa e R$ 96,5 mil para Thiago Andrade, candidatos do partido.
Republicanos
Entre os candidatos com partidos ‘cabeça de chapa’ com força financeira, a pior situação ocorre com os candidatos do Republicanos, partido do prefeito Rogério Santos e do governador Tarcísio de Freitas.
A despeito da sua campanha ter recebido R$ 2,30 milhões, seu partido repassou-lhe R$ 1,86 milhão.
No entanto, candidatos a vereador nada receberam, exceto o candidato Bispo Maurício Campos, homem forte da Igreja Universal, a qual o Republicanos é umbilicalmente ligado.
Ele recebeu R$ 124,4 mil – de um total de R$ 155 mil arrecadados para a campanha.
Muito acima dos dois representantes da legenda na Câmara na atualidade que tentam a reeleição (os vereadores Marcos Libório e Paulo Miyasiro).
Ambos, nada receberam da legenda, mas suas campanhas tomam como base doações de pessoas físicas.
O primeiro obteve R$ 99,5 mil para a campanha e o segundo, R$ 69,9 mil, conforme o portal do Tribunal Superior Eleitoral.
A pior situação para o Executivo ocorre com o candidato do Avante, Nando Pinheiro.
Até agora, seu partido nada repassou para sua campanha.
PSDB
Apesar de estar fora do poder no Executivo da Cidade, após governar Santos nas gestões de Paulo Alexandre Barbosa (2013-2020) e boa parte do atual governo de Rogério Santos (eleito pelo PSDB, mas no Republicanos desde o final de outubro do ano passado), o PSDB tem dado apoio financeiro aos 22 candidatos, ainda que não de forma uniforme.
O presidente da Câmara, Carlos Teixeira Filho, figura histórica da legenda, recebeu R$ 300 mil para sua campanha.
Outros quatro candidatos ficaram com R$ 150 mil: o também vereador Ademir Pestana, o contador e ex-dirigente da CET Santos, Adilson Bulo, o ex-secretário-adjunto de Turismo e ex-vereador Braz Antunes Neto, e o empresário Antônio Pires Gomes, o Toninho da Padaria.
Outros candidatos também foram agraciados com R$ 75 mil (Sandro Mastellari) e Rafael Assis Leite, o Rafa Suplementos (R$ 50 mil).
Os demais receberam R$ 20 mil cada, exceto o ex-vereador Manoel Constantino, que nada consta na sua declaração até o momento – exceto o equivalente a material de campanha a título contábil.
Outros partidos
O PSOL coloca todas as fichas na reeleição da vereadora Débora Camilo.
Ela recebeu R$ 180 mil de um total de quase R$ 200 mil arrecadados para sua campanha.
Outra agraciada pelo partido é a socióloga Aldenir Dias dos Santos, a Dida das Marias, que recebeu R$ 81,7 mil.
Decano no Legislativo, Benedito Furtado (PSB) recebeu apenas R$ 5 mil do seu partido, 1/8 do total declarado em sua campanha até o momento.
O Podemos liberou R$ 25 mil para seu vereador, Fabrício Cardoso, enquanto o recém-chegado à legenda, Lincoln Reis, nada recebeu do partido.
Cardoso também obteve a doação de R$ 100 mil do ex-vereador e ex-deputado estadual Kenny Mendes, além de R$ 40 mil do empresário Alex Mendes.
Aliás, que também doou R$ 40 mil o vereador Adriano Piemonte, entre outros vereadores.
Piemonte nada recebeu do União, seu atual partido
Nem mesmo o líder do governo na Câmara obteve respaldo financeiro do seu partido, o PP.
A despeito de já ter garantido em sua campanha R$ 235 mil, a totalidade veio de doações, sendo as maiores da empresária Maria Celeste Verissimo Mendes (R$ 160 mil).
Além dos empresários Rubens Ometto (R$ 50 mil), Bayard Umbuzeiro Filho (R$ 10 mil) e Fernando Henrique Tinelli (R$ 10 mil).
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