Nos últimos anos, São Caetano do Sul foi uma verdadeira “capital” do esporte, não apenas em São Paulo, mas no Brasil. O município do ABC venceu 14 das últimas 15 edições dos Jogos Abertos do Interior, sendo derrotados apenas em 2003, em Santos. No entanto, a prefeitura anunciou corte de R$ 1 milhão no segmento, que resultou no corte de mais de 700 atletas, muitos de alto rendimento, como os judocas Carlos Honorato e Edinanci Silva. Parte deles (cerca de 400) foi “recontratada” com menores salários – caso de Edinanci -, mas já assumiram que o clima está “diferente”.
O “racha” e os cortes em São Caetano do Sul abrem caminho para que novos “candidatos” à principal potência desportiva paulista e nacional ganhem espaço. De um lado, municípios como São Bernardo do Campo e Piracicaba despontam com recentes investimentos no segmento. E de outro lado está Santos, cuja tradição e cultura esportiva, que andava sumida e quase restrita ao sucesso do Peixe no futebol, ganhou fôlego nos últimos tempos e tem perspectivas positivas para a retomada da antiga alcunha de “capital do esporte”.
“Nas décadas de 30 a 60, a Cidade foi talvez o principal berço do esporte de rendimento no Brasil, tanto pelo Santos, mas também pelo esporte amador”, analisa o secretário de Esportes, Paulo Musa. “Os clubes eram sociais-esportivos, e mantinham grandes equipes. Penso que a situação do esporte amador mudou da água para o vinho. Hoje, a condição financeira se tornou o fator principal”, descreve.
A Arena Santos é apontada como um dos principais artífices do novo momento. O ginásio, que conta com 5 mil lugares e foi erguido para os Jogos Abertos, motivou a vinda de um projeto da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), encabeçado pela ex-jogadora Hortência, confirmado no final de fevereiro. O objetivo é atender, inicialmente, 400 crianças e adolescentes para a identificação de talentos, com os trabalhos sendo ministrados tanto na Arena como em outros equipamentos, como o CAIS (ex- colégio Santista), o Ginásio do Rebouças e os centros esportivos municipais.
De acordo com Musa, o projeto já está formalizado, faltando somente os trâmites burocráticos sobre o termo de cooperação técnica entre a Prefeitura e a Brunoro Sports Business, detentora do trabalho. “Os professores e locais são nossos, e todo o material para capacitação virá por parte da CBB. E é um parceiro que nos dá credibilidade, capacitação e reconhecimento para nosso professor de educação física”, avalia.
Além disso, desde o fim do ano passado, a Cidade conta com uma equipe de futsal profissional, formada em parceria com o Santos FC. O time possui, no elenco, o craque Falcão, melhor jogador do mundo na modalidade, e tem como base atletas e comissão técnica que disputaram a Liga Futsal de 2010 pelo Malwee/Jaraguá (SC), atual campeão.
Caso do técnico Fernando Ferreti, ex-comandante da seleção brasileira. A equipe santista, que recentemente conquistou seu primeiro título, em campeonato disputado em Gramado (RS), mandará as partidas do torneio nacional justamente na Arena Santos.
Novas equipes
Conforme Sampaio, a perspectiva é de que se amplie a presença de esportistas de ponta com sede na Cidade. “Além de termos mais equipes coletivas, vamos também atrair mais modalidades individuais. Será questão de tempo em Santos termos um ginásio para ginástica artística e uma pista de atletismo, um desejo do prefeito Papa e um anseio nosso”, afirma. Vale lembrar que nos Jogos Abertos do Interior de 2010, as disputas de atletismo se deram na pista de Praia Grande, única da região com medida oficial e apta a receber torneios internacionais.
Uma das novas equipes em vista é justamente no basquete, impulsionada pelo estabelecimento do programa de treinamento da CBB. De acordo com o presidente da Fupes, já se está em conversação com a Universidade Santa Cecília para a busca de parcerias. “Já conversamos com o Marcelo Teixeira (pró-reitor da Unisanta) e há muita vontade de se investir no basquete”, conta.
Outra perspectiva está na formação de times masculino e feminino de voleibol, esporte que na década de 80 esteve em alta na Cidade, devido ao forte time do Santos, que se sagrou campeão nacional na modalidade.
Além disso, conforme o secretário de Esportes, o Centro Universitário Lusíada (Unilus) já concordou com a cessão de seu terceiro ginásio para a modalidade, e está em fase de conclusão um projeto para incentivo da prática do voleibol no Centro Esportivo Dale Coutinho, na Zona Noroeste, e na própria Arena Santos, com apoio das leis de Incentivo ao Esporte federal e estadual.
Programa prevê dedução de impostos
Presidente da Fundação Pró-Esportes de Santos (Fupes), Rogério Sampaio admite que não deixar “a roda parar de girar” é o desafio para que o momento esportivo santista não caia. “É preciso que façamos com que as empresas criem uma rotina de investir no esporte. Mostrar que o esporte é um instrumento social forte, de se fazer correções que muitas vezes a política econômica não permite”, avalia Sampaio.
Dar esse primeiro passo para abrir os olhos das companhias às possibilidades legais de apoio esportivo ocasionou a criação do Programa de Incentivo Fiscal de Apoio ao Esporte (Promifae). O programa consiste na captação de recursos provenientes de pessoas físicas ou jurídicas para o esporte, a partir da dedução de até 20% de um imposto municipal — no caso, o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), ou o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) — e a aplicação deste recurso em projetos nos quais a pessoa ou companhia atuará como doadora ou patrocinadora. As propostas são avaliadas por uma comissão, escolhida no Conselho Municipal do Esporte, e, se aprovado, recebem chancela do Promifae.
O mote é o do incentivo a atenção e ao patrocínio de atividades que estejam próximas às empresas, pelo conceito do chamado lucro social. “Aquela comunidade vai melhorar, consumirá mais, e possíveis infratores que existiriam naquele entorno podem ser resgatados da marginalidade”, avalia explica a presidente da Comissão Interdisciplinar de Avaliação e Concessão (CIAC) do Promifae, Belanizia Alves Daibert Moncorvo.
Chances de medalhas no Pan-americano
Santos está, ainda, com atletas próximos de vagas nos Jogos Pan-Americanos de 2011 e Olímpicos de 2012 no judô (três a quatro atletas têm chances de ir para Londres, como Andressa Fernandes e Leandro Guilheiro) e no tênis de mesa (Lígia Silva) — sem contar as aguardadas presenças dos jogadores dos times masculino (como Neymar e Paulo Henrique Ganso) e feminino (cujo time é base da seleção brasileira) do Santos FC nas Olimpíadas. Mais: recentemente, o projeto Novos Cielos, encabeçado pelo campeão olímpico na natação Cesar Cielo, recebeu estudos de viabilidade para também ser integrado à Cidade.
Além disso, em fevereiro, Santos foi pré-selecionada como sub-sede paulista para a Copa do Mundo de 2014. Para medalhista olímpico e presidente da Fupes, Rogério Sampaio, o momento do esporte santista é importante para a escolha definitiva da Cidade visando o Mundial do Brasil, mas considera que, mais que a Copa, Santos pode sonhar em ter uma parcela de participação nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. A aposta está na aclimatação dos competidores que virão ao País. “E qual a cidade do Brasil que tem o clima mais próximo ao Rio? É Santos”, destaca.
“O Brasil mesmo fez isso nas últimas Olimpíadas. A seleção de judô, por exemplo, passou 20 dias no Japão antes de ir a Pequim. Há equipes que foram para Austrália e outras cidades da China. No caso, a maioria das equipes virá mesmo para o Brasil, e aí se entra na questão das instalações, não apenas o Rio de Janeiro, mas em todo o País, e aí se inclui Santos. Essas equipes não virão só em 2016, mas dois, três anos antes, quando ficarão por vários meses para se preparar”, conclui.