Na última semana, as vítimas foram os treinadores do Cruzeiro, Marcelo Oliveira, e do Joinville, Hemerson Maria. O bicampeão nacional foi demitido da Raposa após a eliminação na Libertadores e algumas derrotas no Brasileirão.
Contudo, o Cruzeiro não perdeu tempo. Cento e vinte minutos depois do desligamento de Marcelo Oliveira, o time mineiro anunciou Vanderlei Luxemburgo para o comando da equipe. O ‘professor’ foi demitido na semana passada pelo Flamengo.
Esse episódio não é inédito. A dança das cadeiras dos técnicos já faz parte da cultura do futebol brasileiro. O professor de Gestão do Esporte, especializado em marketing e economia do esporte e blogueiro da ESPN, Fernando A. Fleury, acredita que esse fenômeno está muito ligado ao imediatismo dos nossos clubes.
“Tanto a torcida quanto a diretoria dos 12 principais times do País tem como objetivo ganhar o Campeonato Brasileiro ou Estadual. É impossível todos vencerem tudo a cada ano. Isso faz uma pressão muito grande no resultado do treinador”. Para Fleury, o fato de que a diretoria é muitas vezes composta por torcedores impede um pensamento em trabalho de longo prazo. “O modelo de torcida brasileira é culturalmente em cima de vencer. Ninguém aqui no Brasil se contenta em dizer que foi vice-campeão brasileiro”, diz.
Cariocas
Se tem algum especialista em trocar de técnico como muda de roupa, provavelmente ele mora no Rio de Janeiro. Os cariocas são os líderes de trocas no século XXI. Os quatro grandes estão entre os cinco primeiros da tabela (ver quadro).
“Isso está atrelado a quanto o futebol paulista evoluiu nos últimos anos e o enfraquecimento dos cariocas. Eles se perderam na adoção de modelos de gestão. A cobrança por resultados no Rio aumentou por conta da ascensão dos times de São Paulo e do Cruzeiro e Atlético. Quando não venciam usavam a desculpa que o treinador que era ruim”. Apesar disso, o Fluminense foi a exceção. “Nesse caso, o investimento de terceiros fez a diferença”.
Europeus
Essa realidade é completamente diferente do método de trabalho utilizado na Europa. Para se ter uma ideia, entre os principais times do velho continente, a Juventus, da Itália, o que mais mudou de comando está atrás do time brasileiro grande que menos trocou o São Paulo.
É na Inglaterra é o exemplo que mais chama a atenção no quesito permanência. Sir Alex Ferguson ficou nada menos do que 27 anos à frente do Manchester United. Nesse tempo, 13 títulos do Campeonato Inglês foram conquistados. Quem parece seguir o mesmo caminho é o treinador do Arsenal, Arsène Wenger. No próximo ano, o francês completa 20 anos com os Gunners.
“Na Europa, existe uma visão mais pragmática. Se classificar para os torneios continentais é o objetivo máximo de muitos clubes. Aqui você não pode dizer que a sua prioridade é se classificar para a Libertadores. O diretor do clube não vai aceitar. Ser campeão não pode ser o único objetivo de um time”.