Foi lançado, na noite de ontem (3), o Chega! Observatório de Violência Contra a Mulher, na Universidade Santa Cecília (Unisanta).
Na abertura do evento, houve apresentação do grupo de hip-hop feminista Caoz, enquanto a artista urbana Fixxa usou o graffiti para expressar a força feminina.
Eliana Greco, contadora de histórias, apresentou um monólogo sobre violência doméstica.
Posteriormente, o auditório do bloco M da universidade recebeu convidadas para um debate sobre a importância da mídia no combate à violência contra a mulher.
A mesa-redonda foi composta pela vereadora Audrey Kleys, Fernanda dos Santos Sousa, delegada da DDM Santos, Aldenir Dida Dias, do coletivo Maria vai com as Outras, e Sarah Mascarenhas, jornalista.
A mediação foi feita pelas professoras idealizadoras do projeto, Nara Assunção e Raquel Alves.

Da esquerda para a direita: Raquel Alves, Nara Assunção, Aldenir Dias, Sarah Mascarenhas, Audrey Kleys e Fernanda Sousa. Foto: Ana Freitas
Na opinião delas, a mídia machista gera a normalização da violência, e mantém as mulheres em situação de vulnerabilidade.
Com isso, foi levantado o questionamento: “Como comunicar de forma combativa?”
Fernanda, com mais de 14 anos de experiência como delegada, ressalta que antes da Lei Maria da Penha – sancionada em 2006 – a mídia repercutia ainda menos os casos de violência.
Atualmente, ela está à frente da Delegacia da Mulher de Santos, que há pouco mais de dois meses funciona 24 horas por dia.
Nesse período, ela afirma que houve aumento no número de ocorrências e flagrantes.
Apesar de o acesso à informação ser facilitado, muitas mulheres permanecem em silêncio. Para a delegada, informação é o melhor instrumento.
“A divulgação dos meios de comunicação sobre o serviço de atendimento 24 horas faz com que a vítima se sinta mais segura”, afirma.

Informativo mostra o ciclo da violência. No verso, são descritas diferentes formas de violência, e ainda onde a mulher pode buscar ajuda. Foto: Ana Freitas
Iniciativas
Por outro lado, Audrey Kleys citou a importância da ressocialização do homem agressor na sociedade.
Para a vereadora, como o homem também faz parte da situação, deve estar inserido no combate à violência.
Essa discussão existe também na Câmara dos Deputados, em Brasília, pelo projeto Pauta Feminina.
No entanto, levar essa realidade aos homens é um desafio a ser enfrentado.
Sobre o comportamento da mídia, Audrey, que também é jornalista, defende uma “mudança de ângulo”.
Para ela, é mais importante falar de iniciativas de combate do que sobre a própria violência.
Sarah Mascarenhas observou um novo comportamento da mídia: mulheres falando sobre notícias de violência contra mulheres.
Para a jornalista, ainda falta humanização, já que as notícias são compostas essencialmente por dados.
A comunicadora desenvolveu, em 2018, o Vias – Coletivo de Comunicação Combativa, que promove a análise de como as notícias sobre mulheres são publicadas.
Além disso, a iniciativa tem o objetivo de desconstruir a normalização da violência.

Exposição do Vias, na frente do auditório onde ocorreu o debate, mostra manchetes que minimizam as mulheres. Foto: Ana Freitas
A expressão “tirar debaixo do tapete” foi utilizada por Aldenir Dida como uma possível solução para combater a violência contra a mulher.
Para a ativista, é necessário lutar e cuidar das mulheres.
Dida destacou que “feminismo não é lutar contra o homem”, conceito erroneamente difundido.
Além disso, ela enfatiza que a responsabilidade de discutir também é do homem – ao debater sobre a masculinidade, por exemplo.

De acordo com a artista Fixxa, a escolha do azul representa violência psicológica, enquanto o vermelho simboliza violência sexual. A arte foi inspirada na cantora Meduza, do grupo Caoz. Foto: Ana Freitas
O projeto
Chega! surge com o objetivo de informar, mapear e ampliar o debate público a respeito da violência contra a mulher na Baixada Santista.
Foi idealizado pelas professoras Márcia Okida, Nara Assunção e Raquel Alves. Elas são dos cursos de Jornalismo e Produção Multimídia.
As professoras notaram nas universitárias a necessidade de uma forma de discutir a violência contra a mulher.
Os participantes são voluntários, alunos ou não, que se reúnem às terças-feiras na sede da Universidade (Rua Oswaldo Cruz, 277, no Boqueirão).
Além disso, possível acompanhar o projeto pelo site ou Instagram.
Ajuda
Dessa forma, alguns canais estão disponíveis para denúncias. O disque 180 é um serviço de utilidade pública e confidencial.
Em Santos, a Delegacia da Mulher fica na Rua Dr. Assis Corrêa, 50 – Gonzaga.
A Defensoria Pública, no Centro, está na Avenida São Francisco, 261.
O CREAS (Centro de Referência Especializada de Assistência Social), por sua vez, possui duas unidades.
Uma na Avenida Conselheiro Nébias, 452, no Paquetá. E também na Rua Cananeia, 269, no Chico de Paula.
Além disso, o CADOJ, que oferece assistência jurídica gratuita, fica na Praça José Bonifácio, 50, no Centro.