Projetos musicais completam 20 anos transformando vidas em Santos | Boqnews
Foto: Divulgação

Clube do Choro e Arte no Dique

22 DE JULHO DE 2022

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Projetos musicais completam 20 anos transformando vidas em Santos

O Clube do Choro de Santos e o Instituto Arte no Dique conquistaram influência no cenário cultural e educacional da cidade e do país

Por: César H. Corrêa
Da Redação

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Para preservar e proporcionar o acesso local à arte e à cultura para as novas gerações, duas ideias promissoras tomaram forma e completam 20 anos de existência neste ano: o Clube do Choro de Santos e o Instituto Arte no Dique.
Com apoio de órgãos públicos, empresas privadas e pessoas que acreditaram veementemente nos projetos foi possível não só conquistar seus objetivos iniciais, como também expandir os horizontes e alcançar projeção, além de regional, nacional e também internacional. Mas, afinal, o que são esses projetos e o que eles fizeram para chegar onde estão?

Rua XV de Novembro, com a sede do Clube do Choro de Santos à direita

Clube do Choro de Santos

Embora desconhecido por muitas pessoas – sobretudo, os jovens -, o choro ou chorinho é o primeiro gênero musical popular urbano brasileiro, que carrega traços de alguns movimentos musicais europeus com a junção das matrizes musicais africanas. E tendo como paixão esse estilo musical, um grupo de amigos resolveu criar um clube na cidade.
O que iniciou como uma reunião informal de amigos, após um processo de formalização jurídica, se tornou o Clube do Choro de Santos, em 23 de abril de 2002, tendo como base o estatuto do Clube do Choro de Brasília.
Com o objetivo de promover e difundir o choro para o público geral e admiradores do gênero, conseguiram estabelecer duas datas importantes: Dia Municipal do Choro (23 de abril), que homenageia um dos maiores expoentes do estilo, Pixinguinha; além do Dia Estadual do Choro (28 de junho), em homenagem a Garoto, multi-instrumentista paulistano que frequentava regularmente a cidade de Santos.
Entretanto, além de preservar o passado, era preciso também dar continuidade a esta cultura musical. Para isso, com o intuito de criar uma nova geração de chorões para a cidade foi idealizada a Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas.
Com apoio da Prefeitura, que cedeu espaço para as aulas no Mercado Municipal, a escola iniciou suas atividades em 2011, com aulas gratuitas para jovens de 9 a 17 anos, preferencialmente em situação de vulnerabilidade e risco social.
Além da musicalização, as aulas contam com a atribuição de conceitos de cidadania e valores sociais e humanos para que os alunos possam se desenvolver também como cidadãos.
Pela localização da escola, o objetivo era buscar alunos provenientes dos bairros da Vila Nova e Paquetá – regiões com concentração de cortiços –, possibilitando que esses jovens tivessem contato com a arte e a cultura.
Atualmente, mais de 200 alunos já passaram pela unidade, contando com aulas dos mais diversos instrumentos musicais do choro: pandeiro, cavaquinho, violão de 6 e 7 cordas, bandolim, flauta transversal e outros.
O Clube do Choro também conta com sua sede, localizada no Centro Histórico de Santos, no Boulevard da Rua XV, onde realizam semanalmente as tradicionais rodas de choro às quintas, num espaço simples, mas que reflete a cultura e o histórico do gênero.

Armazém Cultural Plínio Marcos

Arte no Dique

Localizado no Dique da Vila Gilda – considerado a maior favela de palafitas do país –, o Instituto Arte no Dique surgiu como a ideia de entregar arte e cultura para as pessoas da comunidade.
A região possui um dos maiores índices de vulnerabilidade social da cidade de Santos – e do País – e tem cerca de 22 mil habitantes distribuídos em uma área de 3,5 quilômetros, que vivem à beira do mangue no Rio Bugre.
Já em 2001, havia um desejo entre os líderes locais para que algo destinado a crianças e jovens fosse desenvolvido, mas somente em novembro do ano seguinte isso se concretizou.
A partir das experiências do presidente do instituto, José Virgílio, como funcionário público da área cultural na Bahia, surgiu o que seria um dos carros-chefes do projeto: as primeiras oficinas de percussão.
As aulas aconteciam nas ruas do bairro, com dezenas de jovens tocando Samba Reagge, ritmo percussivo com inspiração no grupo Olodum – no qual Virgílio atuou como produtor cultural.
Dois anos depois, em 2004, outra ideia foi incorporada ao projeto: as oficinas de teatro, também desenvolvidas aos moradores da região. Assim, aos poucos, a ideia inicial ia se desenvolvendo. O bom trânsito de Virgílio com artistas e profissionais da área ajudaram na expansão do programa social.
E assim, Virgílio conta que o desejo era ter um centro cultural na região que permitisse a jovens e adolescentes da comunidade oportunidades de transformação e desenvolvimento humano e social.
“O Arte no Dique começou como um Ponto de Cultura, uma política pública do Governo Federal em 2004 que financiava projetos apoiados pelo Ministério da Cultura. Acredito ter sido o maior investimento de Cultura do País”, enfatizou.
Com o trabalho efetivo da comunidade e a participação de diversos setores da sociedade, o projeto foi ganhando reconhecimento.
Assim, em 2012, após um longo processo de estruturação que contou com apoio dos ex-ministros da Cultura Gilberto Gil e Juca Ferreira, o Armazém Cultural Plínio Marcos foi inaugurado, a atual sede – o sonhado centro cultural – do Arte no Dique.
Hoje, o instituto atende cerca de 600 pessoas por mês, com diversos tipo de cursos e oficinas culturais e artísticas voltadas para a capacitação educacional e profissional para todos os públicos da comunidade, além do atendimento psicossocial.

Transformando Vidas

Com diversos projetos e parcerias, essas duas organizações conseguiram transformar a vida de dezenas de alunos, que encontraram nesta mistura entre arte e cidadania uma forma de viver melhor. O que se limitava ao alcance da região, logo rompeu barreiras e chegou a outros países.
“O choro é um gênero musical apreciado no mundo inteiro, ainda mais do que no Brasil. Outros clubes de outros países vieram fazer este intercâmbio conosco pelo trabalho realizado na escola”, destaca Luiz Fernando Ortiz, diretor da Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas.
“Contamos no ano passado com a participação de ex-alunos, hoje, profissionais da música, no Festival de Choro de Nova Iorque, realizado virtualmente. A escola, inclusive, foi selecionada para receber doações organizadas pelo festival”, conta.
Ortiz também ressalta que em muitos casos a música, ao ser incorporada ao cotidiano dos alunos, proporcionava mais disciplina, concentração e foco, auxiliando-os em outras áreas da vida.
E foi justamente a música que proporcionou a Gabriel Prado e Jorge Henrique, ex-alunos das oficinas de percussão do Arte no Dique, a oportunidade de trabalharem profissionalmente como músicos, na Itália e França, respectivamente.
Por lá, realizam apresentações, workshops, aulas e fazem intercâmbio de alunos do Arte no Dique para a Europa e vice-versa. “É gratificante. Sempre falei: só dependia deles para a transformação de vida de cada um. Damos ferramentas para a pessoa acreditar no seu potencial. E hoje, são cidadãos com 25 e 24 anos, um na Itália e outro na França”, expressa Virgílio sobre a conquista da dupla.

Novo espaço do Clube do Choro de Santos passará por reformas e adequações

Próximos projetos

Apesar das dificuldades ao longo do caminho, o Clube do Choro de Santos sempre se manteve atuante no cenário artístico cultural da cidade e região. Luiz Pires, diretor do Clube, revela um dos projetos futuros que já está sendo elaborado.
“A grande novidade agora é a anexação à sede do clube do prédio vizinho. Se trata de um imóvel histórico, datado de 1897, coincidentemente, ano de nascimento de Pixinguinha. Estaremos atuando em duas frentes de valorização e preservação do patrimônio”, diz Pires.
O processo contará com ações materiais para o restauro dos imóveis, adaptação dos ambientes internos para atender as necessidades do clube e recomposição histórica da fachada, além de projetos que fortaleçam as ações culturais e sociais do clube na região do Centro Histórico.
O Arte no Dique também contará com novidades na sua sede, com inauguração de quadra de futsal em homenagem ao ex-jogador Douglas Franklin, que jogou no Santos e foi um dos maiores ídolos do Bahia. A liberação do espaço será em setembro e busca dar oportunidades à comunidade também por meio do esporte.
Além disso, haverá também uma nova oportunidade de profissionalização, com o novo espaço da escola de marcenaria na sede, voltado também para o desenvolvimento dos moradores da região.

A quadra de futsal tem previsão de liberação em setembro

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