Criador do jornal Jacaré, Ricardo Conzo era um comunicador à frente do seu tempo | Boqnews
Ricardo Conzo, um dos pioneiros na mídia audiovisual em Santos. Foto: Divulgação

Falecimento

22 DE FEVEREIRO DE 2024

Siga-nos no Google Notícias!

Criador do jornal Jacaré, Ricardo Conzo era um comunicador à frente do seu tempo

Criador do Jornal Jacaré no início dos anos 80, Ricardo Conzo também foi pioneiro nas filmagens para a TV na região

Por: Fernando De Maria

array(1) {
  ["tipo"]=>
  int(27)
}

Um comunicador à frente do seu tempo.

Assim era Ricardo Conzo Pinto Antunes, o Jacaré, 72 anos, falecido na última terça-feira, em Santos, cidade onde construiu uma rica história profissional, seja na mídia audiovisual, seja no Carnaval de rua.

Conzo, o popular Jacaré, marcou gerações de profissionais,  sendo um dos pioneiros na área de vídeo publicitário e cinema na Baixada Santista, ainda nos anos 70.

Criativo: este era o mais comum adjetivo que ilustra bem a sua trajetória e perfil, desde a época de estudante na antiga Facos – Faculdade de Comunicação de Santos.

“Somos do mesmo período da faculdade”, lembra o jornalista e publicitário Jairo Sergio de Abreu Campos, 78 anos.

Um dos destaques, recorda Campos, era o fato de Conzo ter sido o primeiro repórter-cinematográfico de Santos.

“Ele filmava para a TV Globo e os rolos de filmagem eram enviados para São Paulo por um motociclista da emissora”, recorda.

Isso por volta dos anos 70, onde não havia canal de televisão na Baixada Santista.

Afinal, em uma época onde fazer filmes publicitários era um desafio, Conzo usava da criatividade para conseguir seus objetivos.

Lecionou na mesma faculdade onde estudou já no fim dos anos 70, junto com a professora Neide Veneziano.

“Era brigava por melhorias nos equipamentos para oferecer o melhor aos alunos”, lembra o jornalista Silvio Bergamini Filho.

“Era aguerrido nas brigas dele. Brigava pelas coisas. Era para estar fazendo grandes filmes”, enfatiza Filho.

Profissionais empreendedores

Com carreiras profissionais ligadas à comunicação, tanto Jairo Sergio como Ricardo Conzo pensavam além.

Afinal, Campos criou o Jornal do Boqueirão, que depois virou Boqueirão News, atual Boqnews,

Conzo, o Jacaré, criou o jornal alternativo – o Pasquim santista, que durou algumas edições, mas que deixou o seu nome na história da imprensa santista, junto com sua produtora de filmes publicitários e cinema comercial.

Assim, ambos acabaram se encontrando anos depois no Bairro do Boqueirão, onde residiam.

“Eu o encontrei com a esposa (Gisela Roso, a Gigi) no Lanches Praia. Ele adorava comer pizza de muçarela e portuguesa por lá”, recorda.

Ao lado da Gigi, sua eterna companheira, Conzo era um visionário na área do audiovisual em uma época onde os recursos técnicos eram limitados. Foto: Divulgação/Arquivo

Assim, Jairo o apresentou ao professor Aref, dono do antigo colégio Universitário, escola no mesmo bairro.

E Conzo começou a prestar serviços à instituição de ensino.

Anos depois,  Conzo se tornou o responsável pela logística e distribuição do projeto Viva o Verão, criado pelo Boqnews, na primeira década deste século.

Na ocasião, ele organizava equipes para distribuir a edição impressa do jornal na orla da praia durante o verão.

“Era um sucesso”, relembra.

Os jornais eram entregues em sacola biodegradáveis para que que as pessoas não jogassem o lixo na faixa de areia.

Além disso, ganhavam um exemplar gratuito para passar o tempo, unindo informação e conscientização ambiental.

Jacaré

No entanto, antes desta passagem pelo Boqueirão, onde morou até o seu falecimento, Conzo mostrou sua criatividade no coração do bairro mais famoso de Santos, o Gonzaga.

E no local símbolo da Cidade.

Afinal, para quem passeava pela Praça Independência  no início dos anos 80, vai lembrar da  enorme placa da produtora Jacaré, réptil com olhar maroto criado pelo desenhista publicitário João Carlos, no edifício que presta homenagem à praça.

Além da produtora de filmes comerciais, Conzo resolveu criar o jornal alternativo.

E assim nasceu o Jacaré, veículo que durou  poucas edições na primeira metade da década de 80 (1983).

Em plena época da ditadura militar, ele ousava e abusava.

Charges polêmicas, matérias que não saíam na imprensa tradicional e até mulheres seminuas ganhavam as páginas do veículo – a famosa garota Jacaré era um sucesso.

Grandes nomes da imprensa santista escreviam e faziam suas charges por lá: Lane Valiengo, Carlos Mauri Alexandrino, José Roberto Fidalgo, Lauro Freire, eram alguns deles.

Criativo

Jovem, o jornalista e ilustrador Sergio Ribeiro Lemos, o Seri, lembra com carinho da época que trabalhou com Conzo.

“Ele era muito criativo. Tinha algumas manias engraçadas. Começava a subir uma escada com os dois pés nos três primeiros lances e com os dois pés ele terminava os três últimos degraus da escada”, recorda.

“Se ele via uma rachadura no chão, ele parava com o pé direito e pulava por cima”, brinca.

“Ou batia a cabeça três vezes no batente antes de ir embora. Tinha várias superstições”, ri.

Seri lembra também do episódio quando acompanhou Conzo até São Paulo em encontro com diretores da gráfica do Estado de S. Paulo.

“Ele chegou a levar vários clipes e os colocou à mostra no bolso da camisa. Um dos executivos o perguntou o porquê ele estava com os clipes? Ele respondeu que era uma forma para eles perguntarem e ser notado”, recorda.

O profissional, que atuava como desenhista publicitário no jornal Jacaré, recorda de outras situações.

“Sempre tinha respostas instantâneas. Não sei de onde tirava tanta criatividade?”, indaga.

Viatura

Lemos recorda que Conzo queria chamar a atenção do público com sua empresa – e a logomarca do réptil.

Na ocasião, a TV Globo circulava com uma viatura com o logotipo da empresa nas portas do veículo, tendo acesso livre a vários locais.

“Ele tinha algumas sacadas muito boas. Assim, ele resolveu colocar em circulação uma perua preta com a logomarca da produtora Jacaré. Queria chamar a atenção. E conseguia”, diz.

“Foram anos de rebuliço, criatividade e maluquice. Aprendi muita coisa com ele, de criação, criatividade, cinema”, diz.

“Só tenho boas recordações do Ricardo Conzo Pinto Antunes”, finaliza o profissional, autor de diversos personagens ao longo de sua trajetória.

Conzo (à dir), ao lado dos jornalistas Humberto Challoub (à esq), e Marcelo Luiz (centro) na banda do Boqueirão. Foto: Divulgação/Arquivo.

Carnavalesco

Mas Conzo também era um carnavalesco nato, com especial atuação nos blocos de Carnaval.

“Ele era uma figura. Muito boa praça e carnavalesco dos bons”, recorda o presidente da Prodesan, Odair Gonzalez.

“Saímos juntos na TABA – Turma Aliada do Boqueirão Amigo na década de 70”, complementa.

Anos depois, Conzo acabou sendo um dos incentivadores, com outros organizadores, como o jornalista Humberto Challoub e o professor Roberto Patella, já falecido, do crescimento da banda do Boqueirão.

Tanto que no último Carnaval ocorrido na semana passada, ele foi o grande homenageado na festa, que novamente lotou a primeira quadra da Avenida Conselheiro Nébias, em plena terça de Carnaval.

Camiseta da Banda do Boqueirão prestou homenagem a Ricardo Conzo na edição da semana passada. Foto: Divulgação

 

Por ironia, portanto, ele deixou passar a festa de Momo e a homenagem para dizer adeus e deixar saudades aos amigos.

Quem o conhecia sabe, portanto, que sua história vai muito além das seis linhas publicadas na sessão de falecimentos da edição de quarta-feira do Jornal A Tribuna.

Importante: seu corpo foi cremado em Jacareí. Além da esposa Gisela, deixou dois filhos: Bruna e Marcus.

Confira algumas páginas do jornal Jacaré (imagens cedidas por Sergio Ribeiro Lemos, o Seri)

 

 

 

 

 

 

Confira as notícias do Boqnews no Google News e fique bem informado.

Notícias relacionadas

ENFOQUE JORNAL E EDITORA © TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

desenvolvido por:
Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.