O Centro Histórico de Santos se tornará até domingo (23) o ponto de encontro dos apaixonados por cultura pop, tecnologia, música e entretenimento com a sétima edição do Santos Festival Geek, promovido pela Secretaria de Cultura (Secult).
O maior evento de cultura pop gratuito do País vai ocupar os principais espaços do Valongo, com uma programação intensa e democrática, que une gerações e celebra o universo geek em todas as suas formas.
Os Arcos do Valongo, a Frontaria Azulejada, o Planetário, o Espaço Games e a área externa do Museu Pelé ganham vida com atividades simultâneas, reunindo shows, oficinas, experiências imersivas, apresentações artísticas e encontros com grandes nomes da cena geek e musical.
Além disso, uma das atrações internacionais da edição deste ano será o ator norte-americano Vincent Martella, conhecido por interpretar Greg, no seriado Todo Mundo Odeia o Chris, sucesso nas TVs aberta e fechada.
Importância
Segundo o secretário de Cultura de Santos, Rafael Leal, o Santos Festival Geek é um dos grandes símbolos da vocação criativa local. “Ele movimenta o Centro Histórico, fomenta a economia local, valoriza os artistas, os cosplayers, os criadores de conteúdo e fortalece a identidade cultural de Santos como uma das cidades mais geeks do Brasil. É um evento que democratiza o acesso à cultura pop e traz famílias inteiras para viver experiências inesquecíveis.”
Além disso, o secretário menciona que a expectativa de público para este ano é superar a marca de 90 mil pessoas.
Segurança
Aliás, Leal também abordou sobre o que está sendo planejado em termos de segurança, organização e acolhimento para garantir uma experiência confortável ao público. “Trabalhamos com um planejamento integrado entre diversas secretarias da Prefeitura para oferecer segurança reforçada, orientação constante ao público, acessibilidade, estrutura ampliada e serviços que garantam conforto para visitantes de todas as idades. Nosso foco é que cada pessoa se sinta bem acolhida e viva o festival da maneira mais plena e segura possível.”
“Quero convidar todo mundo a participar do maior evento de cultura pop gratuito do país. Venha curtir, se emocionar, encontrar seus ídolos, celebrar a criatividade e ocupar o Centro Histórico com a gente. O Santos Festival Geek é de todos nós”.
Geek e nerd
Atualmente, diversas pessoas usam os termos geek e nerd quase como sinônimos. Contudo, há diferenças reais entre essas identidades. Segundo o jornalista, redator publicitário, professor universitário e pesquisador em Comunicação, André Rittes, existe uma diferença, embora hoje em dia possam significar a mesma coisa.
“A expressão Nerd nasce bem antes, lá pelos anos 50 nos Estados Unidos e usada de forma pejorativa para descrever pessoas muito estudiosas. Todos com foco no conhecimento acadêmico, raciocínio lógico, tecnologia, ciências, matemática e entre outros fatores. É alguém apaixonado por aprender, mais introspectivo, e muito dedicado a temas intelectuais, por exemplo”.
Já o Geek vem da cultura pop dos anos 80/90, com foco no entretenimento, na tecnologia, cultura pop, fandoms e entre outros pontos. O geek é mais voltado para o entusiasmo e o colecionismo — filmes, HQs, jogos, séries, gadgets etc. Por exemplo, alguém que sabe tudo sobre Star Wars, coleciona action figures (figuras de ação/bonecos) e acompanha todos os lançamentos da Marvel.
Olhar Geek
Sobre como o olhar geek influencia a forma de contar história, ele informa que impacta a partir do momento que trabalha referências, temas e plots que permitam o desdobramento em universos expandidos.
“É o livro que vira filme, que vira série, que estimula fanfics (histórias feitas por fãs dentro daquele universo), que vira HQs, que sai para brinquedos e figuras de ação. Não digo que alguns autores pensem, na concepção, em transformar sua obra numa saga interminável e lucrativa, mas alguns podem fazer isso na origem”, explica.
“Não acredito que George Lucas tenha pensado nisso no começo de Star Wars (que ele pretendia que fossem nove filmes, mas se contentaria em fazer três). Hoje é uma das marcas mais lucrativas da Disney, com inúmeros desdobramentos”.
Classificação
Além disso, o pesquisador cita se é possível considerar uma pessoa geek apenas quem assiste série ou só quem assiste filme.
“Acho um tanto forçada essa classificação. O universo pop é a cultura do homem contemporâneo. Basta perguntar a quase qualquer pessoa qual a identidade secreta do Batman ou do Homem-Aranha. Todos sabem a resposta. Agora, se a pergunta é sobre fatos históricos, muitos não sabem. Isso mostra que Umberto Eco já estava certo nos anos 60 quando disse que a cultura de massa é a cultura do homem atual”.
Mesmo quem não gosta de ficção científica ou super-heróis, conhece as referências e sagas principais, então, vive a Era Geek e ninguém está livre de suas influências. “Com a popularização dos streamings de vídeo, ficou ainda mais fácil ser exposto a esse tipo de material.”
Imagem
Além disso, segundo Rittes, a imagem de ser geek atualmente é não ter preconceito com os produtos culturais de massa. A visão elitista de teóricos como Adorno e Horkheimer, críticos ferrenhos do que chamavam de “indústria cultural” é difícil de ser sustentada hoje em dia.
“Por que a arte de uma revista em quadrinhos não pode ser libertadora tanto quanto uma obra de Shakespeare? Quem constrói o significado é o leitor, o telespectador, a audiência… Num mundo com cada vez menos educação e cultura, a cultura pop, de massa ou a “indústria cultural” ocupa um lugar e uma função central”, explica.
“Portanto, ser geek é ser uma pessoa exposta constantemente a esse tipo de cultura. Se isso é bom ou ruim, é uma outra discussão. Uma pessoa pode ler Machado de Assis e um gibi da Mônica e gostar dos dois”.
HQs
A professora universitária, pesquisadora de HQ, cultura pop e questões de gênero, Daniela Marino, comenta sobre o que faz das HQs um elemento tão central para a formação dessa identidade e comunidade geek.
“Os quadrinhos são mídias mais acessíveis se comparados aos games e filmes, por exemplo. Sua confecção também é bem mais democrática, já que qualquer pessoa com recursos simples como lápis e papel pode fazer uma HQ. Então, eles têm um apelo muito grande entre leitores de diferentes faixas etárias”.
Futuro
Sobre como ela enxerga o futuro da cultura geek e das HQs, Daniela aborda que a cultura pop, como qualquer produção humana, reflete muito o contexto que está inserida e pode-se observar discussões muito atuais sobre questões relacionadas às crises humanitária e climática em filmes e quadrinhos.
“Eu acredito nesse poder de articulação e conscientização que a cultura Geek tem de chamar a atenção das pessoas para problemas reais de forma lúdica e até mesmo, divertida.”
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