Uma nova espécie de raia-manta foi oficialmente reconhecida pela ciência. Batizada de Mobula yarae, em homenagem à figura folclórica brasileira Iara, a espécie habita o Atlântico Ocidental, com registros que vão desde o sudeste do Brasil até o nordeste dos Estados Unidos.
Sendo assim, a descrição teve publicação em julho na revista científica Environmental Biology of Fishes.
Com aparência única e comportamento distinto das espécies já conhecidas, a nova raia-manta representa um avanço significativo para a ciência marinha e a conservação da biodiversidade, principalmente no litoral brasileiro.
Projeto Mantas do Brasil: elo fundamental para a descoberta
A descoberta contou com a colaboração do Projeto Mantas do Brasil, iniciativa sediada em Santos (SP) e voltada à pesquisa e preservação desses animais. O projeto realizou a coleta de dados em diversas regiões do país, e foi responsável por registrar a ocorrência dos animais em áreas costeiras do Brasil.
“Observamos a presença desses espécimes em Fernando de Noronha. Com o início do programa Cidadão Cientista, recebemos fotografias de todo o Brasil. Notamos a ocorrência de um novo indivíduo, caracterizado por uma região ventral mais clara, com poucas manchas e menores em tamanho. Essa característica despertou nossa curiosidade”, afirma Paula Romano, coordenadora do Projeto Mantas do Brasil.
O projeto conta com a parceria da Petrobras — cuja contribuição foi essencial para as coletas e para viabilizar os resultados — e com o patrocínio da Autoridade Portuária de Santos (APS), empresa do Ministério de Portos e Aeroportos do Governo Federal, que também tem apoiado de forma significativa a continuidade das pesquisas.
Além disso, a partir das imagens recebidas por mergulhadores e colaboradores do projeto, uma rede de especialistas se mobilizou. Nayara Bucair, pesquisadora pelo Instituto Oceanográfico da USP e responsável pelo estudo e catalogação, conduziu o processo de formalização científica da nova espécie.
“O Projeto Mantas do Brasil foi um grande colaborador deste trabalho. Eles se dedicam à coleta de dados e conservação da espécie muito antes de eu me envolver com esses animais, há cerca de 10 anos. Não teria sido possível sem o apoio deles”, afirma Nayara.
Conservação
Aliás, segundo ela, o reconhecimento da nova espécie ajuda diretamente na conservação. “Espécies não reconhecidas pela ciência têm maior risco de extinção. Por isso, além da descoberta científica, esse é um avanço para medidas de proteção efetivas. Conseguimos sequenciar o genoma mitocondrial completo e identificar características únicas como os dentículos dérmicos em formato de estrela e manchas em ‘V’ sobre as brânquias.”
A pesquisa teve condução por um grupo de 15 cientistas de diferentes países, com amostras coletadas em Ilha Comprida (SP), Fernando de Noronha (PE), Natal (RN), Quintana Roo (México) e Flórida (EUA).
“Esses animais apresentam um comportamento diferente das Mobula birostris. São mais costeiros e parecem permanecer por mais tempo em águas rasas. Por isso, nosso objetivo agora é estudar sua rota de migração e identificar áreas prioritárias para conservação. Queremos propor uma rede de preservação e conscientizar pescadores e mergulhadores de que esses animais valem muito mais vivos — seja pela importância ecológica, seja pelo potencial do turismo sustentável”, explica Paula Romano.
Três espécies de raias-manta agora reconhecidas
Antes da nova descoberta, eram conhecidas apenas duas espécies de raias-manta: a raia-manta-ocêanica (Mobula birostris) e a raia-manta-recifal (Mobula alfredi), restrita ao oceano Índico e ao oceano Pacífico. Com a identificação da Mobula yarae, o gênero Mobula agora reúne dez espécies, sendo três delas raias-manta, as maiores entre os chamados mobulídeos.
A Mobula yarae pode chegar a seis metros de largura e se destaca por características únicas: boca com dentes apenas na mandíbula inferior (de nove a 13 fileiras), manchas ventrais específicas, e um pequeno ferrão envolto por uma massa calcificada na base da cauda.
Ameaças crescentes
Mesmo recém-descrita, a Mobula yarae já está ameaçada. A pesca direcionada ou acidental, a poluição e as colisões com embarcações são algumas das pressões sofridas pelas raias-manta. O valor de suas brânquias na medicina tradicional asiática impulsiona sua captura em diversas regiões do mundo.
Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), todas as espécies de mobulídeos estão incluídas na Lista Vermelha de espécies ameaçadas. No Brasil, todas as espécies de mobulídeos são protegidas desde 2013 pela Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA N°. 02 de 13 de março de 2013. Além disso, estão incluídas no Plano de Ação Nacional para Conservação de Tubarões e Raias (PAN Tubarões).
Projeto Mantas do Brasil
Criado há mais de uma década, o Projeto Mantas do Brasil é uma iniciativa do Instituto Laje Viva, OSC sediada em Santos (SP). O projeto se dedica à pesquisa, conservação e educação ambiental com foco nas raias-manta. Atua em parceria com universidades e comunidades locais, promovendo ciência cidadã e capacitação de pesquisadores.
O projeto conta com a parceria da Petrobras, que desempenha papel central para a manutenção das pesquisas e a ampliação das coletas, e com o patrocínio da Autoridade Portuária de Santos (APS), empresa do Ministério de Portos e Aeroportos do Governo Federal, que também contribui para a expansão das ações, especialmente em áreas de difícil acesso, como o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, uma das principais áreas de ocorrência das raias-manta no litoral paulista.
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