O ritmo de vacinação contra a Covid-19 no Brasil não é animador.
O País necessita cerca de 450 milhões de doses para atender a população. São necessárias duas doses nas vacinas já aplicadas no País.
Até agora, apenas 3% da população já foi vacinada, boa parte delas apenas com uma dose.
No entanto, o próprio Ministério da Saúde admite, conforme planilha divulgada na última sexta-feira durante reunião entre o ministro Eduardo Pazuello com governadores, que a quantidade de vacinas disponibilizadas atenderão apenas a metade da população até dezembro.
“Se não for feito um freio de arrumação, só atingiremos a meta de vacinação contra a Covid-19 no Brasil apenas no segundo semestre de 2022”, alerta o ex-ministro da Saúde (2013/14 – governo Dilma Rousseff), médico sanitarista e professor universitário, Arthur Chioro.
Conforme a planilha do ministério, o governo prevê adquirir 449 milhões 950 mil doses.
Para os resultados surtirem o efeito rebanho, 70% da população deverá estar vacinada.
Na prática, porém, menos da metade (211.450) tem previsão de entrega até 31 de agosto, via FioCruz -AstraZeneca-Oxford e Instituto Butantan (Sinovac).
O restante depende de intenção de compra futura, ou seja, sem a certeza de aquisição: 110 milhões da AstraZeneca/Oxford, 30 milhões da Sinovac, 42,5 milhões do Covax Facility (AstraZeneca, da OPAS), além de outras 30 milhões da Sputik V e Bharat Biotech, e outros 30 milhões da Moderna.
Além de eventuais tratativas – não confirmadas – da compra de 59.285.070 doses da Pfizer/BionTech e Janssen Pharmaceutico, com 21.100.000.
No entanto, todas estas sem perspectivas de compra.
A expectativa é que 2 milhões de doses estejam disponíveis até quinta (25) da Sinovac e outras 950 mil doses até a próxima semana.
Quase 6 milhões já foram aplicadas no Brasil
Situação preocupante
Chioro participou do programa Jornal Enfoque – Manhã de Notícias nesta segunda (22), onde alertou sobre o atual cenário e preocupação com a situação.
Como reflexo, o total de mortes pela doença permanecerá elevado, ainda mais com o avanço das novas cepas pelo País.
A despeito de responder por 2,7% das mortes no mundo, o Brasil detém 10% dos óbitos por covid-19.
“O total de mortes pela doença equivale a 35 aviões lotados caindo semanalmente no País, sem qualquer sobrevivente”, lamenta.
Chioro analisa diversos pontos que contribuem para este cenário, como a desestruturação do Mais Médicos, baixo volume de testes, e o fato das pessoas negligenciarem as medidas de isolamento social e uso de máscaras.
“Além da incapacidade do Ministério da Saúde e da postura genocida do presidente da República, que colocou o Brasil no fim da fila para a obtenção de vacinas”, enfatiza.
Redução de verbas
O ex-ministro enumera outros problemas que resultaram no atual cenário, em especial, a emenda 29, que congelou os gastos públicos, inclusive na área da saúde.
“Em menos de 3 anos, o SUS perdeu R$ 21,5 bilhões”, assinalou.
A redução de verbas explica o fim ou desmanche de programas, como o Mais Médicos, desestruturação de laboratórios, da assistência farmacêutica e da redução de leitos SUS.
“Além disso, houve um desmonte das excelentes equipes técnicas montadas desde o ministro Adib Jatene, no governo Fernando Henrique Cardoso”, salientou Chioro.
“A política vem destruindo a condução técnica do Ministério da Saúde”, lamenta.
Na entrevista, ele também criticou os critérios adotados pelo Ministério da Saúde no Plano Nacional de Imunização, como a priorização de vacinação dos profissionais da área da saúde que não estão no combate ao Covid em detrimento a pessoas dos grupos de risco.
“Como explicar que um jovem professor de Educação Física já foi vacinado enquanto alguém com doença renal crônica ainda não recebeu a vacina”, enfatiza.
Confira a entrevista