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17 DE OUTUBRO DE 2008

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Impactos refletem na vida marinha

Descoberto em 2003, o Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, foi qualificado como a maior reserva de gás não associado no Brasil.  A plataforma de Mexilhão (PMXL-1) será a maior plataforma fixa de gás natural do País e será instalada a 142 quilômetros da costa de Caraguatatuba. Ela deverá produzir cerca de 20 mil […]

Por: Da Redação

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Descoberto em 2003, o Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, foi qualificado como a maior reserva de gás não associado no Brasil.  A plataforma de Mexilhão (PMXL-1) será a maior plataforma fixa de gás natural do País e será instalada a 142 quilômetros da costa de Caraguatatuba. Ela deverá produzir cerca de 20 mil barris de petróleo por dia.






Ainda durante o período de testes para a construção da PMXL-1, a fauna marinha já sinaliza os impactos que essa obra pode causar. “Nunca vi um número tão grande de mamíferos encalhados na nossa região como aconteceu no último verão”, diz o biólogo marinho, mestre em aquicultura, professor Orlando Júnior.

Em um espaço de oito dias, três baleias encalharam na região da Baixada Santista em agosto de 2007.
Em todos os casos foram detectadas bolhas na pele das baleias causadas pelos testes de sísmica.

Prospecção sísmica

O levantamento sísmico é a primeira etapa no processo para a localização e exploração de reservatórios onde se concentram o petróleo e o gás natural. A atividade sísmica exploratória utiliza o reflexo de ondas sonoras, geradas por meio de disparos de ar comprimido, que são produzidos por equipamentos pneumáticos, chamados canhões de ar. A prospecção sísmica em águas marinhas utiliza canhões de ar para produzir impulsos explosivos, gerando ondas sonoras dirigidas para o fundo do oceano. Os ecos produzidos por estes impulsos são usados para a obtenção de informações sobre características geológicas sub-superficiais.

Baleias
Quando esse jato de ar é emitido no fundo do mar ele produz ondas sonoras que podem atrapalhar a comunicação das baleias, já que elas se comunicam por sons.  Quando não conseguem identificar essas ondas sonoras ou quando o volume é muito alto elas ficam desorientadas e podem subir à superfície muito rápido.   “A  descompressão do ar e mudança de comportamento pode causar  bolhas de ar no tecido da baleia”, explica a veterinária e coordenadora técnica da Ong Gremar, Andrea Maranho.

A baleia de espécie Minke, que encalhou no Guarujá em 7 de agosto de 2007, foi o caso mais grave. A expansão das bolhas de ar nos tecidos destruíram algumas células e alguns órgãos internos ficaram moles.  Ela foi resgatada viva, mas morreu depois de quatro dias.



A baleia Bryde, encontrada morta em Praia Grande em 12 de agosto de 2007, também tinha a presença de micro e macro bolhas no seu organismo, mas não no tecido. Depois de três dias, a espécie Franca encalhou em Itanhaém com os mesmos sintomas.



 “As espécies Mink e Franca utilizam a região onde a plataforma será construída apenas como passagem.  Acredita-se que um dos locais de reprodução da espécie Bryde seja a Laje de Santos,” ressalta .



De acordo com a veterinária, os exames microscópicos com os tecidos das baleias comprovaram a ligação das bolhas de ar com os testes sísmicos.

Além das bolhas nos tecidos e no organismo, essas baleias também apresentaram o tímpano perfurado como resultado das pesquisas sísmicas.  “ Isso foi causado pelo deslocamento de pressão, que é muito alto”, diz Orlando.  Ele acrescenta que, quando perdem o sentido de direção, esses mamíferos são levados pela maré. “Por isso encalham”, completa.

Peixes

Essas atividades sísmicas causam um deslocamento de  água e pressão que é sentido pela linha lateral existente no corpo dos peixes.  É por essas linhas laterais que eles percebem a presença de predadores, por exemplo. “Quando há uma movimentação grande da água, juntamente com a pressão e barulho, eles tendem a fugir dessa região”, explica o biólogo.

Assim como as baleias, os peixes também podem apresentar uma alteração auditiva temporária devido as ondas sonoras emitidas pelos canhões de ar.  “Por isso, é essencial que a fauna marinha não esteja perto desses testes sísmicos”, alerta.

Por atingirem mais intensamente a fauna marinha, a fase de construção da plataforma é a que exige maior cuidado. “ É necessário buscar tecnologias de pesquisas que não prejudiquem esses animais”, diz o professor. Após concluída a construção, a tendência é que organismos incrustáveis como cracas e esponjas, se fixem nas estruturas da plataforma, atraíndo a fauna marinha novamente. “ Se for muito impactada durante a fase de teste e construção, a tendência é ela sumir daquela região, pois os animais memorizam o que acontece”, explica.

De acordo com ele é importante observar a maneira com esses animais vão agir durante o próximo ano. “Se em 2009 tivermos outros casos, será preciso fazer testes ainda mais detalhados que comprovem a ligação das conseqüências dessas atividades sísmicas nas baleias e peixes”, finaliza.

Fiscalização

Os testes e a construção da plataforma não são as únicas questões preocupantes.  A fiscalização na região e a poluição das águas marinhas por outros meios também contribuem para esse impacto.  “Uma mancha de óleo que começava em Itanhaém em direção a Peruíbe foi encontrada durante a fase de construção da Plataforma”, conta Orlando.  O material é proveniente de lavagem de tanque de embarcação, que é ilegal.

“As leis ambientais são boas, mas a extensão da costa brasileira e a infra-estrutura escassa são aspectos que contribuem para a falta de fiscalização,  que é o maior problema”, finaliza.

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