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Nacional

22 DE FEVEREIRO DE 2025

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Luta contra alcoolismo envolve suporte do Estado e da sociedade

Enfrentamento do alcoolismo demanda apoio estatal e engajamento social

Por: Luiz Claudio Ferreira
Agência Brasil

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Ao ouvir experiências de outras pessoas, Bernardino Freitas, 60 anos, percebeu que não estava sozinho nem precisava se envergonhar. Nascido em Miracema do Norte (TO) e morador de Brasília (DF) há sete anos, ele queria deixar para trás a lembrança do copo de aguardente. “Fui procurar ajuda no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) quando percebi que tinha passado do limite”.

O “limite” veio quando passou a frequentar bares da manhã à noite, vendo sua saúde se deteriorar. O impacto na família o fez buscar ajuda profissional. Hoje, há dois anos longe do álcool, Bernardino tem uma nova perspectiva de vida. “Me sinto muito melhor”.

Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo, ele participa de um grupo terapêutico, onde se identifica com outras histórias. O problema com o álcool se intensificou após uma cirurgia na coluna que o obrigou a se aposentar aos 45 anos. “Isso me empurrou para o vício. Fiz bem em pedir ajuda”.

Rede de Apoio do SUS

No Brasil, o tratamento contra a dependência em álcool é especializado, gratuito e acessível nas unidades básicas de saúde e nos Caps. O Ministério da Saúde informou à Agência Brasil que a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) conta com 6.397 unidades no país, incluindo 3.019 Caps.

“Essa estrutura faz do Brasil um dos países com a maior rede de saúde mental do mundo”, destacou o Ministério. Os Caps oferecem atendimentos individuais e coletivos, incluindo suporte às famílias. O acesso é livre, sem necessidade de agendamento, e algumas unidades funcionam 24 horas com acolhimento noturno por até 15 dias ao mês.

Desafios na Prevenção e Tratamento

Apesar da rede gratuita e acessível, ainda existem desafios. Segundo a socióloga Mariana Thibes, coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), é necessária maior qualificação dos profissionais para identificação precoce do problema. Também falta ampliação da oferta de tratamentos especializados e mais profissionais nos Caps-AD, como psiquiatras e psicólogos.

“Há também barreiras de acesso devido ao estigma da doença, o que retarda a busca por ajuda”, alerta Mariana. Embora o Brasil tenha avançado, ainda há muito a ser feito.

Impactos da Pandemia

A pandemia da covid-19 agravou o problema do alcoolismo, com aumento no consumo de bebidas para lidar com o isolamento. Mariana destaca que a superlotação dos serviços de saúde dificultou o acesso ao tratamento. “Houve aumento no número de mortes por alcoolismo no Brasil e no mundo. Políticas públicas precisam ser reforçadas”.

Racismo e Machismo no Acesso ao Tratamento

Um estudo aponta que 72% das mulheres com transtornos ligados ao álcool são negras. Segundo Mariana, isso se deve à desigualdade no acesso à saúde. “Muitas pessoas negras vivem em áreas com pouca infraestrutura médica e profissionais capacitados”. O estresse crônico gerado pela discriminação racial também afeta a saúde mental, elevando o risco de abuso de substâncias.

As mulheres enfrentam ainda discriminação de gênero, o que agrava a situação. “O estigma faz com que muitas evitem procurar ajuda”, destaca a pesquisadora.

Publicidade e Influência Digital

A Lei 9.294 impõe restrições à publicidade de bebidas alcoólicas, mas as redes sociais ainda não são regulamentadas. Um estudo do Journal of Studies on Alcohol and Drugs mostrou que 98% dos conteúdos sobre álcool no TikTok são positivos, influenciando o consumo.

Identificação e Apoio Familiar

A psiquiatra Olivia Pozzolo destaca que a família tem papel essencial na prevenção e suporte ao tratamento. Sinais como incapacidade de controlar o consumo e uso contínuo apesar das consequências negativas devem ser observados. “O suporte familiar, grupos de apoio e um ambiente de escuta sem julgamento são fundamentais”.

Alcoólicos Anônimos: Rede de Apoio Comunitária

A Irmandade de Alcoólicos Anônimos (AA) completa 90 anos em 2025 e está presente em 180 países. No Brasil, há 3.802 grupos com 8.665 reuniões semanais, sendo 449 online. Segundo Lívia Pires Guimarães, presidente da Junta de Serviços Gerais de AA, o único requisito para participar é querer parar de beber. “Não há restrição de idade, gênero ou classe social”.

Ana*, do Rio de Janeiro, relata que começou a beber aos 12 anos. Aos 19, entrou no AA e mudou de vida. “Consegui me graduar e construir um futuro sem álcool”. Outro membro, também do Rio, reforça a importância da rede de apoio. “Recuperei minha família, emprego e saúde”.

A luta contra o alcoolismo continua, mas histórias como a de Bernardino mostram que é possível superar a dependência com apoio profissional, família e comunidade.

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