“Pane no sistema, alguém me desconfigurou”, o trecho da música Admirável Chip Novo, da cantora Pitty, se encaixa perfeitamente na situação vívida por grande parte das pessoas na última segunda-feira (4).
Por volta das 12h30 no Brasil, os usuários das redes sociais ficaram reféns do algoritmo e não conseguiram acessar três das principais redes sociais do mundo: WhastApp, Instagram e Facebook. No final da tarde desta sexta (8), o problema se repetiu no Instagram.
Vale destacar que as redes pertencem ao empresário norte-americano Mack Zuckerberg que perdeu aproximadamente U$ 6 bilhões (R$ 33 bilhões) em 24 horas.
Ao longo da semana, ele conseguiu recuperar metade do prejuízo.
Oficialmente, ainda não se sabe o que causou a queda das redes sociais por mais de sete horas. Uma das possibilidades mais prováveis é a falha de Domain Name System (DNS).
Sem as três redes, que só voltaram às 19h (horário de Brasília), as pessoas migraram para o Twitter. Dessa forma, o assunto mais comentado na plataforma foi a queda do WhatsApp, Instagram e Facebook.
Logicamente que não faltaram memes sobre a situação.
O Telegram, concorrente do WhatsApp. foi a principal alternativa de envio de mensagem no período quando as redes ficaram fora do ar.
O problema é que o aplicativo não aguentou a quantidade de usuários e registrou instabilidade.
Dependência
A queda das redes sociais ligou um alerta importante para o vício e a dependência da internet.
É inegável que a tecnologia tem um papel fundamental e de contribuição para a sociedade nos últimos anos.
Todavia, muitas vezes, as redes sociais têm tirado o convívio com familiares, amigos e a concentração no trabalho.
Não é à toa que algumas pessoas entraram em desespero.
A psicóloga Luiza Dacal Corrêa cita que assim como outros vícios, a dependência das redes sociais começa a ficar perigosa, quando as relações pessoais são afetadas.
Segundo ela, o uso descontrolado pode causar problemas na saúde mental.
Uma das explicações para este vício é que a rede social causa um sentimento de ansiedade, pois as pessoas buscam a informação e a mensagem a todo momento, assim quando o celular desperta o som, rapidamente os usuários vão olhar.
Além disso, ela salienta que as pessoas precisam separar a realidade virtual do mundo real “Muitos ficam apegados aos stories do Instagram que mostram um cenário completamente artificial do que condiz com a sociedade”.
Para Luiza Dacal, as redes sociais fazem parte do cotidiano da maioria da população, incluindo as crianças. “Hoje os pequenos já usam o celular e tem muitas vantagens na questão da aprendizagem, pois a internet se for usada de forma certa, só agrega valor. Todavia, para não haver um uso excessivo, as escolas devem promover conversas e debates sobre o tema”, finalizou.
Redes e o trabalho
Cada vez mais a relação entre redes sociais e trabalho fica evidente, haja visto que existem profissões que dependem destas plataformas.
Um dos exemplos são os sociais medias que ficam responsáveis por atualizar o conteúdo de uma empresa, instituição ou uma pessoa nas redes socais.
A profissional Luiza Pires conta que a última segunda-feira foi um dia completamente parado diante da queda das redes sociais e isso acumulou o trabalho para o dia seguinte.
“Todos esses canais (WhatsApp, Instagram e Facebook) são essenciais para nosso trabalho, pois fazemos divulgação por lá. Foi até um pouco surreal e desesperador porque nunca vi algo assim. Trabalho com redes sociais desde 2019, pensei que ia voltar rápido, e acabou sendo o dia inteiro”, salientou Luiza.
Vale destacar que as redes sociais estão se tornando também o canal mais simples entre uma empresa e o cliente. Isto em todas as áreas, desde um agendamento para uma consulta médica no plano de saúde, como para o comércio em geral. Assim, a queda das três redes causou prejuízos e dificuldades.
Para se ter uma ideia, conforme uma pesquisa divulgada pelo Sebrae 84% dos empresários preferem o WhatsApp para vendas, seguidos do Instagram com 54% e Facebook 51%.
A Farmácia Ativa, localizada no Campo Grande, usa o WhatsApp como principal forma de comunicação com os clientes, atendendo uma média de 15 a 30 pessoas por dia.
Segundo a farmacêutica, Glória Martins, a queda das redes deixou o dia completamente atípico. Dessa forma, as ligações tiveram um aumento significativo.
SMS e telefones
Com todos os problemas causados pelas quedas das redes sociais, muitas formas de comunicação voltaram a ter destaque.
As ligações no WhatsApp com possibilidade de vídeo diminuíram consideravelmente as ligações telefônicas tradicionais.
Entretanto, tais contatos voltaram a ter destaque na última segunda-feira.
Além disso, os SMS que estavam quase em esquecimento por grande parte da população tiveram seu dia de glória. Foi praticamente a volta dos que não foram, pois apesar de não ser muito utilizado, o SMS sempre esteve presente nos smartphones.
Laryssa Marinho, que trabalha como secretária em um escritório de advocacia, relatou as dificuldades para trabalhar sem as redes sociais.
“Grande parte dos agendamentos é realizado pelo WhatsApp. Assim ficou muito complicado trabalhar”.
Além disso, Laryssa precisou usar o SMS para desmarcar compromissos. “Depois de muito tempo precisei recorrer ao SMS.
Não é muito vantajoso, pois não tem como saber se a pessoa viu a mensagem, mas era o que tinha naquele momento e ajudou muito”.
A dentista Gabriela Peroni também teve dificuldades para trabalhar, pois ela utiliza as redes sociais para agendamento e acompanhamento dos pacientes.
“O SMS acabou contribuindo. É mais uma forma de comunicação e hoje com os smartphones fica mais fácil de enviar as mensagens”.
Justiça
A queda das três redes sociais foi parar na Justiça. O Procon São Paulo (órgão de defesa do consumidor) notificou o Facebook Brasil por conta da queda do sistema que durou aproximadamente 7 horas, só voltando no período noturno.
“O Procon-SP pretende identificar as causas da pane geral e punir as empresas com multas superiores a R$ 10 milhões, salvo se houver justificativa de evento fortuito, externo e incontrolável, e assim fixar responsabilidades para futuras ações individuais reparatórias”, destacou o diretor do Procon, Fernando Capez, em entrevista à Agência Brasil.
Por sua vez, o Facebook divulgou a seguinte nota.
“Sabemos da importância de nossos produtos e serviços para pessoas e empresas. Trabalhamos arduamente para restaurar o acesso a nossos aplicativos o mais rápido possível, o que ocorreu em algumas horas”.