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Opinião

07 DE FEVEREIRO DE 2017

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Uma Confraria de Tolos

“O que determina o sucesso ou o fracasso de uma empreitada?”. Este é o tema central do novo artigo do colaborador Clóvis Duduka Monteiro

Por: Da Redação

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“o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”

(Epitáfio, Titãs, Compositor: Sérgio Britto)
Há alguns anos li o livro “O Andar do Bêbado” (2008, Editora Jorge Zahar), e reproduzo, aqui, a resenha de uma livraria online que diz o seguinte: “O que determina o sucesso ou o fracasso de uma empreitada? Em O Andar do Bêbado, o físico Leonard Mlodinow combina os mais diferentes exemplos para mostrar que notas escolares, diagnósticos médicos, sucessos de bilheteria e resultados eleitorais são, como muitas outras coisas, determinados em larga escala por eventos imprevisíveis. Num tom irreverente, o autor costura casos emblemáticos a teorias matemáticas, citando pesquisas e exemplos presentes em todos os âmbitos da vida, do mercado financeiro aos esportes, de Hollywood à medicina.

Segundo Mlodinow, os processos aleatórios são fundamentais na natureza e onipresentes em nossa vida cotidiana. Ainda assim, a maioria das pessoas não os compreende nem pensa muito a seu respeito. Como não estamos preparados para lidar com o acaso, muitas vezes tomamos decisões erradas por ignorá-lo, apoiados na ilusão de controle”.

Reproduzi a resenha por que estou com preguiça…. Mas que serve, definitivamente, para um preâmbulo que instiga novos leitores para este incrível físico. Ao ler seu livro joguei por terra minha tendência de acreditar nas coincidências e nas teorias da causalidade e da casualidade. Neste ponto, tornei-me um adepto da ‘Teoria do Acaso’, como defende Mlodinow, e um apaixonado pela música do Titãs…

Há algum tempo li o livro do saudoso jurista, advogado e ex-ministro da justiça, Saulo Ramos, “Código da Vida” (2008, Editora Planeta do Brasil), uma autobiografia – se bem que seu livro de memórias poderia ser apontado como um livro de memórias, de história, poesias, repentes, romance e… jurisprudências… Nele, o autor, quando quer discorrer sobre conspirações e estranhas coincidências reporta a um de seus personagens prediletos. Trata-se de um velho amigo, muito íntimo, que Saulo julga como detentor de poderes mediúnicos – tipo vidência mesmo.

Até o crime do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, e a morte misteriosa de 9 pessoas próximas ao episódio é colocado ao final de seu livro – num depoimento absolutamente instigante realizado por este incrível personagem, como suspeitas no estranho código das coincidências da vida… Como a justiça, em 2010, reabriu o caso e apontou crime de responsabilidade na morte do prefeito petista, as coincidências e suspeitas deixaram de existir…

Estava no Guarujá e visitava um amigo quando a televisão noticiou a queda do avião do candidato a presidente, Eduardo Campos. Ao ver a reportagem disse-me esse amigo: isso é conspiração! Isso nunca foi provado. Naquela manhã o clima era o mesmo que o do episódio recente em Parati. Chuva, tempo nublado e cinzento. Pois é, quem se atreveu, assim como eu, a percorrer o noticiário pelos sites de jornais do país, o que mais se verificou é que Teori Zavascki, relator da Lava-Jato, que na véspera de entregar seu relatório final, morre num acidente de avião, nos deixa no ar essa dúvida: coincidência, suspeita ou mero acaso?!?

Há alguns meses li o último livro de Umberto Eco, “Número Zero” (2016, Editora Record), cuja resenha em um site diz o seguinte: “Convivendo com os colegas de trabalho, Colonna conhece Braggadocio, um jornalista paranoico que diz investigar verdades ocultas, segundo ele relacionadas à história da Itália desde a Segunda Guerra. As teorias da conspiração de Braggadocio envolveriam a maçonaria, os assassinatos de Mussolini, do papa João Paulo I, a CIA, terroristas e atentados manipulados pelos serviços secretos”. Um livro escrito sobre jornalismo e sobre jornalistas. A coincidência é que Eco morreu após a edição desse livro e Braggadocio, um de seus personagens, que diz que o verdadeiro Mussolini morreu em 1968 e que Hitler se refugiou na Argentina, é encontrado morto pela polícia. Isso faz com que Colonna, que se apaixona por uma colega de trabalho – também jornalista, resolva fugir para América do Sul e diz para a amada que era bom viajarem para a Bolívia ou Colômbia – não me lembro bem da ironia, mas refere-se precisamente a um desses países onde ficaria Copacabana…

No Brasil ou em qualquer país do planeta as teorias da conspiração envolvem a mente de muita gente. Seja no jornalismo ou mesmo na literatura ou filmes, as teses conspiratórias se expandem. Em nosso país até hoje se debate sobre as mortes de Getúlio Vargas, João Goulart (cujo nome pertencia a lista da chamada “Operação Condor”) e Juscelino Kubitschek, além de tantos outros.

Quando garoto me perguntaram se eu conhecia o “Cúmulo da Coincidência”. Ao responder que não me disseram: “Você vai até o cinema, senta na poltrona e delicadamente enfia o dedo no nariz e retira aquela meleca e a põe embaixo do assento e espanta-se ao levantar o dedo com outra remela, pois tinha outra ali”…

Mas o pior ‘cúmulo’ é o “Cúmulo do Cúmulo”: ser atropelado por uma ambulância em frente a um hospital e morrer por falta de atendimento médico.

Meu amigo Sergio Ribeiro, o Seri, cartunista do Jornal Diário do Grande ABC é que me disse uma vez: conheço um homossexual vidente que tem hemorroida na terceira visão. Sei lá se isso é verdade…

Não li “Uma Confraria dos Tolos” (John Kennedy Toole, Editora Bestbolso – fora de circulação), citado duas vezes por Leonard Mlodinow em seu livro, mas se por acaso você, um dos meus poucos leitores, tiver um exemplar, coincidência ou não, me empresta que eu gostaria de ler…

 

Clóvis Duduka Monteiro, jornalista, radialista, ator e Assessor Técnico do Registro Público da Junta Comercial do Estado de São Paulo – JUCESP

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