O avanço dos casos e mortes da Covid-19 na Rússia e em países do leste europeu preocupa o médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto.
Afinal, esta região do globo caminha para se tornar o novo epicentro da doença.
“Espero que com o prolongamento da exposição do vírus não ocorra o aparecimento de uma nova variante”, explicou o profissional, entrevistado no Jornal Enfoque – Manhã de Notícias desta quinta (28).
Portanto, a preocupação do médico tem lógica.
Afinal, conforme dados da Universidade Johns Hopkins, nos últimos 28 dias, a Rússia registrou 843.201 novos casos com 26.972 mortes.
O país tem 144,1 milhões de habitantes.
Assim, a situação não é muito distante de outros países do Leste Europeu, como a Romênia.
Lá foram 381.194 casos confirmados e 9.150 mortes pela Covid-19 neste período.
Ou seja, são 19,29 milhões de habitantes.
Ou a Ucrânia, com 436.373 casos e 10.086 mortes nas últimas quatro semanas.
A nação tem 44,13 milhões.
Situação também preocupante como nos Estados Unidos, que também registra elevação de casos.
Foram 2.376.965 nos últimos 28 dias, com 45.413 mortes.
Por sua vez, o país tem 329,5 milhões de habitantes.

Médico e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina Neto, pede atenção especial às crianças com eventuais aglomerações, pois elas ainda não foram vacinadas. Foto: Reprodução
Variante Delta
Assim, com a circulação do vírus pelo mundo – com predominância da variante Delta – há preocupação de surgirem novas cepas, o que pode inviabilizar até a existência das atuais vacinas.
“É algo probabilístico. A chance existe de surgirem novas variantes a medida que o vírus avança e muita gente ainda não está vacinada”, salienta.
“E se isso ocorrer, podemos ter um jogo zerado em relação às vacinas”, salienta.
Dessa forma, a vantagem, segundo ele, é que se isso ocorrer com as atuais vacinas significa que os estudos não começariam do “zero”.
“Temos que estar preparados para viver uma eventual hecatombe e saber lidar com isso”, define.
Relação vacinas/habitantes
Coincidência ou não, países com alta de casos têm indicadores vacinais abaixo do que o próprio Brasil, que já foi o epicentro da doença.
Assim, hoje, o país, vice-líder em mortes, contabiliza cerca de 607 mil vítimas fatais pela Covid-19 até o momento, com média inferior a 500 mortes/dia – bem distante das mais de 4 mil mortes diárias em dias do primeiro semestre.
No Brasil, algumas regiões já atingiram mais de 50% da população com o esquema vacinal completo.
No caso do Estado de São Paulo, onde 2/3 da população já está com a vacinação completa.
Dessa forma, conforme o levantamento da universidade americana, são 127.730 doses de vacinas aplicadas para cada 100 mil brasileiros.
Portanto, acima do próprio Estados Unidos, cuja média hoje está em 125.818/100 mil habitantes.
Dessa forma, o dobro e até o triplo dos atuais países que enfrentam esta nova onda.
Ou seja, são os casos da Russia (70.462 doses aplicadas/100 mil), Romênia (63.834/100 mil) e Ucrânia (38.299/100 mil).
“Isso comprova que as vacinas funcionam”, salienta.
Momento melhor que o esperado
Durante a entrevista concedida ao jornalista Francisco La Scala, Gonzalo reconheceu que acreditava que o Brasil estivesse vivendo um momento delicado neste momento em razão do avanço da Delta pelo País e no mundo.
“Isso mostra que quem teve a variante Gama não terá a Delta”, acrescenta.
Por sua vez, a Gama teve origem em Manaus, no Brasil, e a Delta na Índia, ambos países bem populosos, como a Rússia, referendando a preocupação do médico.
Segundo Gonzalo, dois fatores se destacam neste cenário.
Ou seja, a vacinação em massa e a aceitação por parte da população – ao contrário do que ocorre em outros países – .
Além da própria contaminação de pessoas com a variante Gama.
“Assim, há uma queda de casos em pessoas que não foram vacinadas nem tiveram contato com a delta – ou as duas coisas juntas”, explica.
Abertura de atividades
Durante o programa, Vecina também falou que acredita ser ainda temerária a abertura geral de atividades, como estádios e espaços fechados com 100% da capacidade, e até a possibilidade de desobrigar o uso de máscaras, especialmente em áreas fechadas. (nas abertas, ele admite esta possibilidade).
“Devemos abrir com inteligência e respeito ao vírus”, alertou.
Por sua vez, ele salientou também a preocupação com eventuais concentrações de pessoas, especialmente em festas de fim de ano e estádios de futebol, com as crianças, grupo que ainda não foi vacinado.
Assim, apesar de pouco letal, a Covid-19 também faz vítimas nesta faixa etária.
Segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a covid-19 em crianças e adolescentes, a probabilidade de mortes entre menores brasileiros por Covid é maior que a média internacional.
Até o mês passado, 3.561 crianças tinham morrido pela doença no Brasil.
Deste total, 326 eram bebês com menos de 1 ano.
Além disso, o médico também destacou a atenção às crianças e adolescentes não vacinados que irão embarcar em cruzeiros, cujas medidas serão divulgadas nesta sexta (29).
Os cruzeiros iniciam na próxima semana.
Assim, o primeiro embarque em Santos ocorrerá no dia 5.
Dessa forma, Vecina ainda falou sobre a importância de se tomar a dose de reforço (ou terceira dose) entre pessoas acima de 60 anos e eventuais efeitos colaterais.
“Os benefícios superam qualquer contraindicação”, destaca.
Além disso, ele reforçou que o ideal é que o prazo previsto nas indicações dos fabricantes forem respeitados, evitando as antecipações.
Assim, outros temas também abordados, como a CPI da Covid.