O isolamento social, uma das principais recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a pandemia de Covid-19, é realidade no Brasil e na maior parte do mundo.
Tal medida, apesar de preventiva para a saúde física, pode acabar prejudicando a parte mental dos indivíduos.
Os seres humanos são sociáveis por natureza, desde o momento da fecundação o indivíduo precisa do contato com o outro.
O professor Hélio Alves, doutor em Psicologia Clínica e docente do curso de Psicologia na Unisantos, explica que essas relações com família, amigos e comunidade proporcionam prazer.
Com isso, o isolamento representa o distanciamento dessas relações físicas – especialmente o afeto.
Além disso, o docente enfatiza que o isolamento remete à prisão que, por sua vez, consiste na punição por um crime, assim como castigo, muito aplicado na infância. Dessa maneira, essas associações podem gerar medo.
O medo, por sua vez, está diretamente ligado a algo desconhecido ou a uma experiência que deixou marcas significativas associadas ao desprazer e ao sofrimento.
Em uma pandemia, contudo, o perigo aumenta, pois a situação é coletiva e não individual, e requer aceitação.
Segundo ele, o medo é generalizado e impulsionado pela impotência, pois ainda não existem informações completas sobre o novo coronavírus, além das formas de contágio, prevenção e grupo de risco.
Dessa forma, a incerteza torna-se extremamente prejudicial:
“O não está muito presente. Não pode sair, não temos muito conhecimento sobre o vírus, não podemos nos relacionar… Isso provoca uma angústia e medo grande”, pontua Alves.
Uma forma de vencer o sentimento de medo é por meio da apropriação do conhecimento. Mas, conforme pontua o professor, ainda há pouco conhecimento sobre a doença.
Portanto, a orientação primordial é seguir as recomendações dos profissionais de saúde em relação a cuidados com higiene e contato físico.
Atenção
O ócio total do isolamento também pode provocar patologias – físicas e psicológicas.
Isso acontece, explica Alves, porque o ser humano precisa sentir-se útil de alguma forma.
Portanto, é essencial colocar planos em prática, sejam eles objetivos ou subjetivos.
“Estar isolado não significa que não há algo [para fazer]. A pessoa deve se ocupar com leitura, filmes…” exemplifica o psicólogo, citando a importância de medidas para minimizar os efeitos da mudança repentina no cotidiano, pois não há como fugir da realidade transformada pela pandemia.
O professor sugere realizar todas aquelas tarefas prazerosas que foram deixadas de lado com a correria da rotina.
Além do mais, também é um ótimo momento para descobrir novos hobbies.
Adaptação
O isolamento desconstrói a rotina do indivíduo, e “adaptação” é a palavra-chave para continuar da melhor maneira possível, construindo novas formas de viver com o outro e consigo mesmo.
Dentro dessa necessidade de encontrar algo para passar o tempo, encontra-se a solidariedade.
Nesse período, ajudar o próximo é de grande valia, seja apenas conversando ou oferecendo uma palavra de apoio.
As redes sociais são as principais ferramentas para manter contato com o outro, por meio de aplicativos como o WhatsApp (que permite também chamadas de áudio e vídeo em grupo), Hangouts, Skype, Zoom, Instagram, Facebook, entre outros, com suas diversas funções.
Junto a isso, aplicativos de jogos coletivos também estão em alta (jogos de cartas, stop ou adedonha, e muito mais), permitindo maior interação online.
Cuidados com excessos
Todavia, da mesma forma que a internet pode ser uma grande aliada, o uso dela requer cautela.
A quantidade de informações disponíveis é proporcional ao tamanho da pandemia, e a tecnologia é um grande instrumento para levar notícias.
Por outro lado, as redes sociais fomentam o sensacionalismo e as fake news, podendo alarmar e causar pânico na população.
O docente enfatiza que ficar na frente da televisão ou em portais de notícias o dia inteiro não diminui o medo e a angústia, podendo levar à uma sensação de impotência.
Além disso, o indivíduo pode começar a questionar se realmente está fazendo o certo para evitar a doença, buscando formas de descobrir uma “saída mágica” para a situação, algo inexistente.
Assim, a indicação é ter bom senso em relação ao consumo de notícias, mas evitá-las por completo também não é o ideal.
Uma recomendação médica fundamental dentro do isolamento é estabelecer uma rotina.
Mesmo sem sair de casa, é importante adotar horários para acordar, tomar banho, fazer refeições e demais tarefas diárias – expediente em home office, estudar, ver televisão ou streaming, entre outras.
Vale lembrar que essa adaptação requer tolerância, e o indivíduo deve buscar formas de ter prazer mesmo sem sair de casa.
Filtro de notícias
Tendo em vista as fake news, ou notícias falsas, o Ministério da Saúde disponibiliza um número de WhatsApp para envio de mensagens que serão apuradas e respondidas oficialmente se são verdadeiras ou não.
A pasta enfatiza que o número não é um tira dúvidas ou SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), mas sim um canal para verificar a veracidade de informações, a fim de evitar a propagação de fake news.
O número está apto a receber mensagens de texto, áudio e vídeos de forma gratuita.
Interessados devem entrar em contato pelo (61) 99289-4640.
Além disso, notícias são esclarecidas também no portal do Ministério da Saúde: saude.gov.br/fakenews.
Em tratamento
Para quem possui algum transtorno como ansiedade e depressão, o momento pode potencializar crises.
Em primeiro lugar, o terapeuta responsável pelo acompanhamento deve ser mantido para que possa analisar qual a melhor providência.
Em caso do uso de medicamentos, o profissional avaliará a profilaxia – e é o único apto para tal.
Não é necessário, por exemplo, entrar em desespero e querer garantir mais caixas de remédio do que o necessário.
É importante lembrar que, independentemente da situação, o paciente ansioso ou deprimido já sofria, então o tratamento deve seguir.
Além do apoio do especialista, é essencial manter contato – mesmo que virtual – com as pessoas que gosta.
Para quem não se sente bem no momento, mas não faz acompanhamento psicológico, também não há motivo para desespero.
Muitos profissionais adotaram o atendimento online.
Nova forma
É o caso de Yvellize Moraes, psicóloga clínica que realizava somente atendimentos presenciais em Santos e Praia Grande.
Antes de migrar para a internet, a profissional buscou orientações junto ao Conselho Regional de Psicologia e colegas de profissão a respeito dos cuidados éticos durante o atendimento. Apesar de certo receio, ela não enfrentou dificuldades na adaptação.
Sobre os acompanhamentos, a psicóloga relata que 40% dos pacientes não aderiram ao processo remoto.
Um dos principais fatores, segundo Yvellize, foi pela falta de privacidade em casa, o que pode gerar desconforto na sessão.
A profissional ressalta a importância de continuar a terapia para minimizar a ansiedade e outros sentimentos.
Além disso, a psicóloga registrou maior procura pelo serviço oferecido.
Atendendo online desde o dia 18 de março, ela já recebeu oito novos pacientes desde então.
De acordo com a profissional, há muitos relatos de pânico, ansiedade e angústia, além de algumas manifestações físicas, o que é chamado de somatização.
Sentimentos de preocupação, estresse, entre outros, provocam reações no corpo do paciente, e a terapia visa trabalhar a mente para promover saúde mental e física.
Informações com Yvellize pelo (13) 98805-7244 – também no WhatsApp.
Jovens
O jornalista Wilker Damasceno, de 23 anos, possui experiências em acompanhamento das duas formas.
Antes da pandemia e quarentena, ele estava no modo presencial.
“Ter contato humano é, sem dúvida, melhor e surte muito mais efeito. Mas não anula a terapia pela internet, mesmo assim”, pontua o comunicador.
Segundo Damasceno, a facilidade do atendimento virtual é, sobretudo, o conforto por estar em casa.
Porém, aponta os imprevistos técnicos como maior dificuldade. Durante as sessões, a internet pode apresentar falhas, os aplicativos utilizados podem ficar instáveis, entre outras situações.
Apesar disso, o jovem ressalta que, independente da forma escolhida, o incentivo pelo bem-estar sempre apresenta bons resultados.
Para a psicóloga santista Taluia Souza dos Santos, especializada em adolescentes, o atendimento remoto não apresenta tanta desvantagem em relação ao feito em consultório, mas apenas requer adaptação.
“Entendo que o ambiente do consultório é algo que faz muita diferença. Alguns não conseguem ter um espaço apropriado, porque existem outras pessoas na casa e assim não conseguem ter tanta privacidade. Mas quando essas situações podem ser ajustadas, o atendimento online é super válido e não perde para o atendimento presencial”, afirma.
Com consultório em São Paulo, Taluia também aproveita as redes sociais para espalhar informações a respeito de saúde mental.
Na página instagram.com/taluia a profissional publica dicas para administrar melhor o próprio tempo, técnicas para amenizar a ansiedade, entre outros tópicos.
De Santos, a psicanalista Luíza Canato oferece atendimento online e gratuito.
O contato pode ser feito pelo instagram.com/luizacanato ou WhatsApp (13) 99738-1716.
Redes de apoio
Pensando nos profissionais de saúde, o Projeto Psicologia Solidária Covid-19 reúne psicólogos de todo o País para realizar atendimento voluntário aos trabalhadores que estão na linha de frente no combate ao novo coronavírus (médicos, enfermeiros, recepcionistas, além de responsáveis pela limpeza e segurança das unidades de saúde), bem como aqueles que estão fora do Brasil e estão impossibilitados de retornar.
Interessados podem entrar em contato pelo abre.ai/psicosolidaria-atendimento.
O grupo Escuta 60+, formado por terapeutas, realiza acolhimento por telefone a pessoas com mais de 60 anos que precisam conversar com alguém fora de seu círculo social.
Não há cobrança pelo atendimento, e o serviço está disponível de domingo a sexta (domingo das 19h às 22h; segunda-feira das 15h às 18h; terça-feira das 9h às 20h; quarta-feira das 9h às 22h; quinta-feira das 9h às 17h; sexta-feira das 9h às 12h).
O telefone é (11) 3280-8537, e o grupo está como @escuta60mais no Facebook e Instagram.