A meta para vacinação de crianças contra a pólio é de 95%, assim como o combate a outras doenças.
No entanto, os números atuais estão abaixo do ideal, colocando em risco a volta da doença no Brasil.
No País, até o final de setembro, era pouco mais da metade das crianças vacinadas.
Em Santos, a campanha da pólio (1 ano a menores de 5 anos) atingiu apenas 45% de crianças (7.658 doses até o último dia 4).
E 72,77% para menores de 1 ano.
Outras vacinas também têm indicadores abaixo do ideal.
Contra a meningite (ACWY – 13 a 14 anos), o índice chega a 36,96%.
Já a Meningo C (menores de 1 ano) atinge 69,7% e a Meningo C reforço (12 a 24 meses) – 72,22%.
Já a BCG (tuberculose) com recém-nascidos, o percentual chega a 89,42%.
Diante dos baixos índices até o momento na maioria das doenças, há um risco real de doenças infantis retornarem com força ao País, como destaca a diretora clínica e neurologista infantil da Casa da Esperança de Santos, Maria Lúcia Leal dos Santos.
Ela participou do Jornal Enfoque – Manhã de Notícias de sexta (4).
Ações
Para ela, alguns fatores contribuem para a queda no número de crianças vacinadas, como a ausência de campanhas, a necessidade de ampliação dos horários de aplicação das vacinas, inclusive aos sábados, nas unidades de saúde, e a volta da vacinação em escolas.
Ela reconhece, porém, que alguns pais se mostram contrários aos medicamentos
“O negacionismo preocupa”, salienta a profissional, mestre em Ciências da Saúde e também professora do curso de Medicina da Unilus.
“As vacinas são aprovadas pela Anvisa e OMS – Organização Mundial de Saúde”, acrescenta.
Além disso, a médica enfatizou que a procura pelo pré-natal cresceu.
Por isso, também avançou o número de mães que usam e abusam de drogas ilícitas e lícitas, como o álcool.
“Os usos de cocaína e crack facilitam o parto prematuro. É muito grave”, destaca.
Aliás, como resultado, o risco de sequelas ao feto cresce.
Adultos também
Maria Lúcia salienta que mesmo adultos e adolescentes não vacinados contra a meningite podem ser infectados por uma criança não vacinada.
“Eles não estão livres de adquirir a doença”, salienta.
A saliva e as fezes são meios de transmissão, a despeito das crianças serem mais propensas à doença.
Além disso, apenas uma dose não significa que a criança está imune.
“Deve ter a complementação”, acrescenta.
Atualmente, a aplicação ocorre de forma intramuscular aos 2, 4 e 6 meses – e depois aplica-se a famosa gotinha, desenvolvida pelo cientista Alberto Sabin.
Aliás, há exatos 40 anos (7 de novembro de 1982), Sabin esteve em Santos participando de seminário promovido pela Casa da Esperança.
A entidade foi criada em 1957, pelo médico Samuel Leão de Moura, ganhando apoio do Rotary Club, justamente para atender crianças vítimas da pólio.
Inicialmente, eram 12 leitos hospitalares, com atendimento a 250 crianças/dia.
Com a erradicação da doença no Brasil a partir de 1994, a entidade mudou seu perfil e hoje atende outras síndromes, como pacientes com paralisia cerebral e autismo.
Zika e Covid-19
Não bastasse, a médica Maria Lúcia Leal dos Santos também falou sobre os impactos que a zika (mosquito da dengue) provocou em crianças com microcefalia, nascidas em 2015, quando houve uma explosão de casos no Brasil.
“Recebemos 15 crianças com sequelas da zika, com quadros graves e limitantes. Infelizmente, algumas já faleceram”, diz.
Assim, as sequelas são irreversíveis, com crises convulsivas e casos de crianças com dificuldades de respiração e necessidade de uso de sondas no estômago, por exemplo.
Desde então, os casos de microcefalia desapareceram.
No entanto, outra preocupação mais recente ocorreu com a Covid-19.
“Não tivemos casos de crianças com sequelas da Covid, mas duas mães se infectaram na gestão e os bebês nasceram prematuros, ficando com sequelas e complicações neonatais”, lamenta.
Além disso, a médica também falou do risco de outras enfermidades, como varicela (espécie de catapora), com risco de óbito (“perdemos um paciente de 12 anos”, recorda) e meningite, bactéria que deixa crianças surdas.
“A vacinação é a melhor resposta”, enfatizou.