
Entregue em 1979, o Cléobulo Amazonas Duarte é um das unidades a serem fechadas, alegando falta de alunos e impedindo que projetos educacionais tenham continuidade. Foto: Fernando De Maria
Em um País com tantos déficits e discrepâncias sociais, soa esdrúxulo o fato do maior e mais rico estado da Federação fechar escolas por absoluta falta de alunos. Um projeto para a vida interrompido.
Serão duas unidades em Santos (Cleóbulo Amazonas Duarte e Braz Cubas) e duas em Guarujá (Renê Rodrigues e Jardim Primavera II), que deixarão oficialmente de existir em 2018.
A Cleóbulo, inaugurada em 1979, junto com o conjunto habitacional do seu entorno, vai dar espaço em sua totalidade para a Delegacia Regional de Ensino, que já funciona de forma compartihada no imóvel.
Já a Braz Cubas, no Marapé, será devolvida ao Município. A Seduc, porém, ainda não definiu o que será feito com o prédio.
Os motivos dos fechamentos das unidades de Santos diferem ao de Guarujá. Nas escolas santistas, a alegação é a queda no volume de alunos nas unidades, cujas capacidades, portanto, estão ociosas, a ponto de só funcionarem no período da manhã.
Em Guarujá, a Renê Rodrigues vai abrir espaço para uma futura escola técnica (ETEC), enquanto que o Jardim Primavera II, com 469 alunos, se tornará um Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos – Ceeja. Os motivos dos fechamentos, aparentemente, são mais justificáveis do que nas unidades santistas.
O encerramento de uma escola simboliza a falência do Estado que não consegue atrair os jovens para um ensino de qualidade. Exemplos positivos dentro do próprio governo poderiam ser alternativas interessantes, como as Etecris – Escolas Técnicas Criativas ou as em tempo integral.
Neste último caso, são 235 escolas e 48 mil alunos atendidos em tempo integral, com aulas em um período e atividades culturais e esportivas no contraturno.
Já no novo modelo de escola integral, com 309 unidades e 104 mil alunos atendidos, a jornada é de até 9 horas e meia de atividades, incluindo três refeições no local. A proposta atrai o jovem para o ambiente escolar e não o oposto.
Uma escola que passou por esta ‘revolução’ foi o Ablas Filho, na Aparecida, que quase teve o mesmo fim das unidades agora fechadas. Hoje, graças ao comprometimento do corpo docente e da direção da instituição, a unidade tem se destacado neste cenário.
Projeto louvável
A proposta é louvável e deveria ser ampliada, de acordo com as características de cada localidade.
Por que algumas escolas públicas funcionam e outras não? Os governantes deveriam mirar nos bons exemplos e apoiá-los.
Leciono em ensino superior há mais de 20 anos e uma das minhas preocupações – assim como dos demais colegas – é se deparar com as dificuldades que os jovens – boa parte deles provenientes de escolas públicas no Ensino Médio – têm no raciocínio lógico e aritmético.
Indago-os sobre como foi o estudo pré-universitário e muitos me relatam que foram aprovados sem terem aulas de diversas disciplinas ao longo de vários meses (e até no decorrer do ano!).
Muito mais que olhar só os números, a Educação deve ser encarada como um projeto de vida e mudança. Na prática, porém, é mais fácil colocar um cadeado no portão de entrada do que abri-lo para um universo convidativo.
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