O fim dos cobradores nos ônibus, fato ocorrido há quase uma década, foi mais interessante à empresa concessionária do que à própria Municipalidade. Afinal, a tarifa do transporte público santista jamais diminuiu em razão da saída destes profissionais da função. Ao contrário.
Inicialmente, a empresa deslocou os cobradores para os pontos de vendas para a comercialização junto aos abrigos nas vias públicas. Aos poucos, estes profissionais foram desaparecendo até que hoje contam-se nos dedos os que permanecem na função. E nem por isso, o sistema melhorou.
Assim, a concessionária (Viação Piracicabana) se prevaleceu da situação, alegando aumento nos custos com a manutenção de motoristas e cobradores no mesmo veículo. Resultado: a função do cobrador desapareceu e o motorista começou a acumular funções. Ótimo para empresa, péssimo para o trabalhador. Mas isso é um caminho sem volta.
Hoje, o motorista de ônibus precisa dividir sua atenção em cobrar a tarifa, dirigir o ônibus, estar atento ao trânsito – cada vez mais intenso -, assegurar o bem-estar dos passageiros e, por fim, correr o risco de não ser assaltado por algum bandido, de olho nos trocados das tarifas pagas em dinheiro. Não é à toa que impressiona o número de motoristas que estão afastados de suas atividades em razão de problemas de saúde, como stress e depressão.
O acúmulo de dupla função também provoca um problema externo. Ao cobrar, o motorista demora mais tempo estacionado junto ao ponto de ônibus, atrasando a viagem e atrapalhando os veículos que estão atrás dele.
Por isso, louvável a ação da prefeitura em obrigar a empresa a ampliar as formas de acesso do cidadão à compra das passagens, evitando-se desta forma o manuseio do dinheiro, um atrativo arriscado aos motoristas. Isso já ocorre em diversas cidades do País e do exterior. Por que não aqui?
Com as facilidades cada vez mais comuns de acesso às compras pela internet e celulares e por meio dos cartões de crédito e débito, a tendência é que as pessoas se adaptem às novidades substituindo o dinheiro pelas recargas no cartão-transporte. É necessário, porém, que haja o maior número possível de possibilidades para o cidadão adquirir seus passes, pensando, inclusive, em facilidades aos turistas, sem onerar o valor da tarifa.
O Poder Público também determinou o Plano de Melhorias do Transporte, que inclui prazos para renovação da frota (relativamente boa), instalação de ar condicionado nos ônibus (que deixou de ser um luxo para virar uma necessidade), piso baixo para acesso do passageiro e sistema sonoro para deficientes visuais. Melhorias básicas para os passageiros/clientes, muitas vezes tratados como gado debaixo do escaldante sol de verão.
As medidas, porém, só poderão ser implementadas na prática, caso haja previsão no contrato da concessionária com a municipalidade. Caso contrário, só a partir de 2014, quando expira o atual. Aí o cenário será outro.
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