O estudo elaborado pelo Iede mostra que a carreira docente não atrai os alunos que têm um melhor desempenho no Pisa.
A avaliação internacional da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é aplicada a estudantes de 15 anos que fazem provas de leitura.
Seguido por matemática e ciências.
Entre os 70 países e regiões avaliados, o Brasil ficou na 63ª posição em ciências.
Ainda em 59ª em leitura e 65ª em matemática.
No entanto, os estudantes que disseram que pretendem ser professores obtiveram 18,6 pontos a menos da média do país em matemática.
Outros obtiveram 20,1 pontos a menos em ciências e 18,5 a menos em leitura.
Dentre os países participantes do Pisa, a Alemanha é o que apresenta a maior diferença entre a nota dos alunos.
Portanto, nesse caso, os que esperam ser professores e a média geral do país.
Contudo, aqueles que querem seguir a carreira docente obtiveram 42,9 pontos a mais em matemática. Além de 52,5 em ciências e 59,1 em leitura.
Os países com os maiores percentuais de estudantes que querem ser professores são Argélia. Assim, 21,7% dos estudantes querem ser professores.
Seguido por Kosovo, onde esse percentual chega a 18,3%.
Nesses países, no entanto, o desempenho desses alunos não é bom.
“Mas é muito similar ao desempenho geral dos estudantes do país, que é baixo”, diz o estudo.
Coreia e a Irlanda estão também entre os países com os maiores percentuais, respectivamente 13,8 e 12,6%. Ao contrário da Argélia e Kosovo, o desempenho dos alunos é bom, chegando, na Coreia, a ser superior à média nacional.
“O que o dado brasileiro revela é o fato que a ocupação de professor está com problemas de atratividade. As pessoas que têm notas mais altas escolhem outras profissões”, diz o professor de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Fábio Waltenberg, um dos autores do estudo Ser ou não ser professor da Educação Básica? Salário esperado e outros fatores na escolha ocupacional de concluintes de licenciaturas. Segundo Waltenberg, o salário é um dos entraves para a escolha da profissão.
Equiparação salarial
Professores de escolas públicas ganham, em média, 74,8% do que ganham profissionais assalariados de outras áreas, ou seja, cerca de 25% a menos, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)Essa porcentagem subiu desde 2012, quando era 65,2%.
Entretanto, por lei, pelo Plano Nacional de Educação, esse salário deve ser equivalente ao de outros profissionais com formação equivalente até 2020.
De acordo com o diretor do Iede, Ernesto Martins Faria, três aspectos contribuem para a atratividade da profissão.
“Planos de carreira para professores e educadores, ações específicas de valorização, que geram estímulo e permanência, e coesão escolar. O funcionamento da escola tem a ver com visão consistente, semelhante de gestor, coordenador pedagógico e educadores”, diz.
Segundo ele, o fato de os professores serem muitos e estarem ligados a estados e municípios, muitas vezes com orçamentos restritos, dificulta sobretudo a existência de planos de carreira atrativos.
“Estamos falando da carreira de 2 milhões de professores, [não apenas o Brasil], o mundo sofre para oferecer uma carreira atrativa”.
Apesar das dificuldades, a estudante de licenciatura em ciências sociais Aniely Silva, 20 anos, não desiste do sonho de ser, assim como Castro, professora de ensino médio.
Ela conta que a vontade ficou mais forte após participar das ocupações de escolas em São Paulo.
“Durante as ocupações das escolas, percebi o quanto de informação não chega para nós, que somos de periferia e de escola pública. Queria conseguir levar informação para as pessoas. Quando a informação chega como conhecimento, muda a realidade das pessoas, como mudou a minha”.
Aniely arremata:
“Não escolhi a profissão pelo salário e não me desmotiva. Quero estudar muito para ser muito boa no que eu faço e lutar para melhorar a educação, por mais investimento e valorização dos professores”.