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Opiniões

26 DE JANEIRO DE 2012

Para o bem e para o mal

Por: admin

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Já escrevi muito sobre relações familiares e conjugais e, às vezes,   acho desnecessário fazê-lo, pois tenho a fantasia ou o romantismo de pensar que pessoas que se gostam, amam ou admiram não têm problemas entre si e que esse grupo indispensável para nosso desenvolvimento exista só para o bem.
 Mas a vida real se encarrega de nos mostrar que não é sempre assim mesmo sem a intenção e, como diria minha avó, o inferno está cheio de boas intenções. Muita dor, complexo e insatisfação está nos seio da família.
Como dizem os jesuítas, fomos feitos para as coisas maiores e, enquanto mulher e principalmente, enquanto psicóloga, vejo tantas pessoas altas , inteligentes se perderem em assuntos miúdos, deixando de lado a possibilidade de viver uma vida leve, fluída igual às borboletas.
 Não estou com isso convidando-os para serem alienados ou bobos que riem de tudo, mas pegar mais leve, como dizem os jovens, se faz cada vez mais necessário, pois o pesado já invade as nossas vidas e casas pelo noticiário da mídia,pela convivência que não podemos evitar e pelo mundo que de certa forma traz até nós apenas a conturbação, a mentira e a desconfiança.
 As famílias que antigamente tinham uma personalidade estável ,padronizadas que perduravam gerações com o discurso  – na nossa família as coisas são assim -, hoje, são mais sistêmicas ,arejadas, e dinâmicas. Ou seja, não há uma unicidade e rigidez de pensamento. 
 O que existe é um contexto familiar e não apenas uma pessoa solitária com seu problema, uma família com seu segredo guardado sob o tapete, a família hoje deve ter  sempre uma questão a ser analisada, um  problema a ser corrigido, influenciado pelas circunstâncias, pela evolução, pelo crescimento e pela participação de seus membros.
 Sempre que aparece  uma crise, uma diferença de pensamento, alguém que não dance no mesmo ritmo,  ainda é comum a dicotomia dos que têm razão e dos que não têm. Raras são as famílias que se ocupam de um olhar mais profundo que as aproxime de situações  que necessitam de reestruturação e redefinição de papéis e atitudes.
 Os problemas familiares surgem, pois quando as famílias se formam não costumam levar em consideração  que, antes de formarem uma nova família, já tinham outra com seus códigos construídos aleatoriamente  a partir de suas histórias e crises.
Sempre que uma pessoa se sente dependente de uma situação que a incomoda, por exemplo, uma sogra invasiva,ou companheiro ou companheira autoritária, ou mesmo dependente de pessoas  que tornem  sua vida muito confortável, com uma mãe protetora, um amigo benevolente, muito além da aceitação passiva,se faz mister perceber a vulnerabilidade a uma situação criada fora de si ou a influência desses atos em sua própria vida e tentar mudar sua reação a eles.
Mas não é o que costuma acontecer. O lugar comum é tentar mudar o outro ou mesmo criar um ambiente de guerra, de disputa, onde sempre terá muita gente machucada, não importando quem ganhe a guerra.
Ainda temos dentro de nós a família como uma estrutura, mas, na verdade, ela é muito mais que isso, é um espaço afetivo que permite a interação com o diferente e o novo, trocas positivas.
 Nessa interação todos os envolvidos devem buscar a evolução e o crescimento.  Para que isso ocorra é muito importante dar espaço aos acertos e erros, sem correr o risco de rotular ou  influenciar, facilitando a perda da identidade. E, quando o erro se torna contumaz ou um risco, deve-se participar de um todo na reformulação e redefinição dos valores e papéis. Acho pertinente falar disso porque, na maioria dos casos em que se discute uma situação familiar desgastante, a negação das próprias dificuldades  e a potencializarão da culpa no outro nunca são o caminho para o acerto. 
Até porque essa situação envolve uma negação de interagir com a verdade, não aquela verdade do grupo ou do outro, mas com as nossas próprias verdades que costumamos negar,e que pode apenas ser a verdade do desejo de viver em paz e não da busca da vitória numa queda de braço. 
A verdadeira construção está exatamente na possibilidade de reparação e quando se consegue isso (e não é fácil) há a possibilidade de reinventar a família e  nada melhor do que uma nova família nova, do que aquela cheia de mofo e embolorada por conceitos .
 E que nunca deixemos envelhecer, pois esse é imutável e assim deve ser,  o amor que alinhava essa família, não o amor cego e corporativo, mas o amor que liberta e constrói.

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