A Imprensa, de forma geral, tem o hábito de mais mostrar feridas sociais do que elogiar. Irei abrir um exceção na famosa frase de Millôr Fernandes de que jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados para mostrar que é possível acreditar em propostas sérias onde há participação do Poder Público, empresariado e a sociedade civil organizada em prol de um benefício comum.
A inauguração do Espaço Mais Cultura Escola Popular de Arte e Cultura Plínio Marcos, ao lado das palafitas que margeiam o Dique da Vila Gilda, onde residem 22 mil santistas, é uma mostra que devemos acreditar em propostas para alterar a realidade de centenas de jovens e crianças que vivem em ambientes degradantes e subumanos.
Orçada em R$ 1,8 milhão, a obra contou com recursos federais, da prefeitura, colaboração da iniciativa privada e garra da direção do Instituto Arte no Dique, única organização não-governamental do País a ter recebido o Espaço Mais Cultura do Governo Federal.
Tudo isso é possível graças ao sonho do baiano José Virgílio Leal de Figueiredo, presidente e fundador da ONG, que há uma década resolveu botar a mão na massa e trazer a experiência que deu certo em sua cidade natal em razão do grupo Olodum.
Articulado, Virgílio conseguiu mobilizar a todos que acreditam no processo de inserção, por meio da cultura, a uma nova perspectiva de vida aos jovens e crianças que convivem com os riscos da marginalidade. Ao todo, o novo espaço poderá abrigar 600 alunos tornando-se a principal referência cultural da Zona Noroeste e resgatando a dignidade de uma parcela da sociedade contida nos números oficiais da miséria que atinge parte dos santistas, ainda que na onda do petróleo e gás tão propalada pela mídia, a sensação é que eles tivessem sido varridos para debaixo do tapete social.
Com padrinhos de peso, como os artistas Gilberto Gil e Sérgio Mamberti, o espaço terá 690 metros quadrados de área construída, três andares e equipado com sala de dança, biblioteca, estúdio de música para ensaios, laboratório de foto, ateliês, sala de cinema, além do espaço cibernético Gilberto Gil, o músico septuagenário que acreditou no sonho de Virgílio quando ocupava o Ministério da Cultura.
Portanto, mais do que a entrega de uma edificação, deve-se ressaltar a simbologia presente no projeto Arte no Dique que comprova: somente com investimentos em propostas sérias de cultura, educação e esportes poderemos apresentar alternativas para alterar as perspectivas da população de risco fazendo que tenham um futuro melhor e minimizem o risco de cair na marginalidade.
O trabalho é lento, mas os resultados são positivos. Uma receita que sempre dá certo. Oxalá, existam outros Artes no Dique para comprovar que é possível sonhar e acontecer!
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