A repetição das tragédias provocadas pelas chuvas na Baixada Santista atestou, mais uma vez, as consequências desastrosas geradas pela ausência de planejamento e pelos processos desordenados de expansão urbana ocorridos ao longo das últimas décadas. O adensamento das cidades resultou na acelerada e incontrolável ocupação de regiões de risco; em invasões de áreas imprescindíveis à preservação ambiental e, sobretudo, no estabelecimento de núcleos de pobreza extrema. Corrigir os erros do passado não será tarefa fácil, porém é um dever de Estado que não pode ser mais negligenciado.
Protagonistas e vítimas desse processo, milhares de famílias vivem hoje sob o temor das tragédias anunciadas, sem qualquer perspectiva de solução em curto prazo. Mais do que promover intervenções contingenciais no intuito tentar salvaguardar condições mínimas de habitabilidade, às autoridades públicas cabe a obrigação de estabelecer novas diretrizes para o crescimento das cidades, que passa pela revisão do modelo de desenvolvimento econômico e social que se pretende para os municípios. Descentralizar pólos de produção, exigir a inclusão de projetos habitacionais adequados nas áreas de expansão industrial, desenvolver campanhas educativas sobre a importância de manter as cidades limpas e, sobretudo, criar estímulos para a fixação das populações em suas regiões de origem são fatores que devem pautar a introdução de novos conceitos desenvolvimentistas.
Além dos dramas familiares com a perda de entes queridos, o período das chuvas também traz prejuízos imensuráveis a muitos setores empresariais, especialmente as que dependem de transportes e são obrigadas a paralisar atividades em razão das enchentes em vias de tráfego nas grandes cidades. As intervenções que hoje se fazem necessárias para conter e reduzir as dimensões das tragédias servirão, mais uma vez, como meros paliativos diante de um problema insolucionável se tratado com complacência e omissão. Afinal, quantas mortes ainda haverão de ser registradas para revelar o que há muito está evidente?
O poder de mobilização e o espírito de solidariedade presente nas tragédias provocadas pelas chuvas devem servir como exemplo e prova da capacidade transformadora inerente à sociedade, que assim deve contribuir e exigir dos governantes a adoção de políticas duradoras para a construção de novos parâmetros de desenvolvimento sustentável. A criação de novos paradigmas certamente deverão excluir definitivamente a reprodução dos modelos configurados nas cidades, que se revelaram perniciosos e condenam suas populações ao risco interminável provocados anualmente pelas chuvas de verão.
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