Acordar morando em comunidade é sempre uma surpresa.
Para aqueles que, como eu, vivem em zonas periféricas, qualquer movimentação extra já é motivo de precaução.
Não deixando levar, pela tarde de segunda-feira (14) já era possível ouvir o helicóptero da policia rondando o céu da cidade e a movimentação na rua e nas “lojinhas” se encontrava intensa.
O bipe dos rádios podia ser ouvido em cada esquina, palavras ditas rapidamente e carregadas de apreensão.
Não havia sinal da policia, a não ser no céu.
Mas aqueles eram os sinais de algo grande estava acontecendo – ou que viria a acontecer logo mais.
Todo mundo sabe que a aparição da Polícia Federal em zonas periféricas é algo raro e sempre trás um alvoroço consigo, afinal, eles não se deslocam até essas zonas por “pouca coisa” como o povo gosta de dizer.
A Policia Federal é que podemos chamar de policia de elite, eles são bons e seus trabalhos abrangem grandes coisas. Como tráfico internacional de pessoas e esquema de distribuição de drogas pelos Correios.
Então, vê-los é sempre uma surpresa não muito agradável para os moradores. Sejam eles envolvidos ou não. E foi essa situação que atingiu os moradores do contorno do bairro da Cachoeira, Guarujá – SP.
Não é fácil acordar, colocar os pés para fora de casa e saber que algo terrível está acontecendo.
Aquele delegado baleado tinha família, esposa e até mesmo esperava um filho.
Era alguém que estava fazendo seu trabalho, zelando pela população e pela segurança das crianças.
Mas quem era a pessoa que o baleou? Não sei.
O que eu sei é que passei mais de quarenta minutos dentro de um ônibus, cercada dos dois lados por carros da Policia Federal, do GOE, da Policia Militar e de ambulâncias.
Sirenes ligadas, pessoas curiosas em voltas e tudo o que eu senti foi a sensação de insegurança.
Um ônibus lotado, policiais para todos os lados e os murmúrios eram os mesmo: “E se rolar um tiroteio? Olha toda essa gente por perto”.
O delegado baleado encontra-se em estado grave e não se sabe mais detalhes sobre sua situação.
A primeira noite pós acontecimento foi tranquila, mas para quem é negro, periférico e pobre, fica a incerteza…
Até quando poderemos caminhar com tranquilidade pelas ruas? Quantas mães vão precisa proibir seus filhos de andar de bicicleta a noite?
Sinceramente, espero que não estejamos nos aproximando de um remake de Uma Noite de Crime.
Ágata Ferreira é escritora, estudante de Jornalismo e moradora no bairro do Morrinhos, no Guarujá
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