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Foto: Ricardo Botelho / MInfra

Economia

26 DE JULHO DE 2025

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Tarifaço preocupa setor portuário

Pelo menos 22,2% da movimentação portuária de Santos passa pela importação ou exportação de produtos para os Estados Unidos

Por: Da Redação

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O anúncio do aumento das tarifas de impostos em 50% nos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos pelo presidente americano Donald Trump coloca em alerta toda uma cadeia produtiva no País – e em especial no Estado de São Paulo. E, claro, a Baixada Santista, onde está o maior porto da América do Sul. A medida valerá a partir de 1º de agosto.

Sendo assim, o governo Lula já anunciou que pode colocar em prática a reciprocidade, caso o governo americano mantenha a sobretaxa – já aumentada em 10% em abril pelo governo Trump. Ou seja, produtos importados dos EUA também chegariam mais caros para os brasileiros.

Afinal, o desempenho da economia brasileira passa pelo principal estado da nação, onde circula 38% do PIB – Produto Interno Bruto brasileiro. Neste cenário, o Porto de Santos se destaca como polo de exportação e importação de produtos, graças à força da indústria paulista.

Dessa forma, passam pelo cais santista 22,2% das trocas comerciais entre os Estados Unidos e o Brasil. Ou seja, 1 em cada 5 dólares nas negociações bilaterais de ambos os países passa por Santos.

Perde apenas da China, com 47,1% de toda a movimentação de exportação e importação pelo cais santista. Alemanha (8%), Índia (5,3%), Japão (5%) e demais países (12,4%) completam a lista.

Além disso, durante entrevista na última terça-feira (22) no programa Ponto de Vista com Edgar Boturão, o secretário de Finanças e Gestão de Santos, Adriano Leocádio, estima que a Cidade perderá R$ 70 milhões somente no ISS (Imposto sobre Serviços) ao longo dos próximos 12 meses, caso a alíquota de 50% seja mantida.

 

Queda

As estimativas do setor portuário são de um queda geral em torno de U$ 40 bilhões (R$ 220 bilhões – o equivalente a 60% da arrecadação do estado de SP neste ano) em exportações. Se isso ocorrer, haverá o aumento da pressão inflacionária, com desvalorização do real e aumento do desemprego especialmente nos setores exportadores.

Atualmente, contrariando o que o próprio presidente Donald Trump afirmou em sua carta enviada ao governo brasileiro, os EUA tem um superávit de U$ 253,3 milhões (R$ 1,39 bilhão) em relação ao Brasil. Ou seja, o Brasil importa mais que exporta para os Estados Unidos.

 

Produtos

Neste contexto, os produtos que o Brasil mais compra dos EUA são motores e máquinas não elétricas, óleos combustíveis, aeronaves e equipamentos. Além de gás natural, químicos, medicamentos, peças para o setor industrial, trigo e centeios não moídos, polímeros de etileno, entre outros.

Por sua vez, o Brasil exporta para os norte-americanos petróleo bruto, produtos semimanufaturados de ferro e aço, aviões. Ainda: carne bovina congelada, sumos de frutos, café, pastas químicas de madeira, entre outros.

E São Paulo tem papel preponderante neste cenário. Um exemplo claro desta relação ocorre com o suco da laranja. Cidades como Bebedouro, Matão e Limeira, por exemplo, no interior paulista, são berços da citricultura brasileira. Afinal, o Brasil produz 79% do suco de laranja comercializado no mundo. Somente os Estados Unidos consomem 32,12% deste volume – atrás apenas da Europa, com 52,77%.

Por sua vez, o Porto de Santos exporta 95% do suco de laranja brasileiro. Assim como, 71% do café, 71% do açúcar e 95% do algodão produzido no Brasil.

 

Terminais

Diante da sua importância e localização estratégica, o Porto de Santos abriga dois terminais exclusivos para embarque do suco de laranja. Casos da Citrosuco (unidade em Santos) e da Cutrale (em Santos e Guarujá).

A própria Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos informou em nota que a tarifa coloca em risco o setor de suco de laranja brasileiro. Na safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os Estados Unidos representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto. Dessa maneira, somando US$ 1,31 bilhão em faturamento, conforme dados da Secex consolidados pela CitrusBR.

Essa nova tarifa representa um aumento de 533% sobre os US$ 415 (R$ 2.300,00) por tonelada que já eram cobrados sobre o suco brasileiro. Considerando a cotação da Bolsa de Nova Iorque de 9 de julho (US$ 3.600, ou seja R$ 20 mil por tonelada de suco concentrado), cerca de US$ 2.600 (R$ 14.400) — ou 72% do valor total do produto — passariam a ser recolhidos em tributos, inviabilizando as exportações para aquele mercado sem que haja graves prejuízos para toda a cadeia. “Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto”, explica a nota.

“A medida também afeta empresas americanas que têm no Brasil o seu principal fornecedor de suco de laranja”.

“As consequências são graves: colheitas são interrompidas, o fluxo das fábricas é desorganizado, e o comércio é paralisado diante da incerteza. Trata-se de uma cadeia produtiva altamente interligada, que sustenta milhares de famílias. A CitrusBR entende a sensibilidade política e diplomática dessa medida, mas acredita que a escalada entre governos não é o caminho”.

 

Eltex’s

O CEO da Eltex’s Consultoria e Sistema de Terminais de Carga, Vinícius Teixeira,  comentou sobre como a nova tarifa americana já tem gerado reações dos seus clientes importadores e exportadores que operam via Porto de Santos.

“Desde o primeiro tarifaço gerou-se reações imediatas no mercado, principalmente medo pelas incertezas da economia mundial. O receio foi muito além de importadores e exportadores, mas atingiu toda cadeia de fornecedores”.

“No entanto, em um primeiro momento, como a China foi super taxada, o Brasil ainda conseguiu tirar proveito dessa situação com a guerra comercial entre China e os EUA. Com isso, muitos clientes optaram  por tramitar suas cargas via Brasil, mas os desdobramentos seguintes acabaram segurando o mercado.”

 

Santos

A Reportagem contatou as três prefeituras que tem atividades portuárias na região: Santos, Guarujá e Cubatão. Em nota, a prefeitura de Santos informou que ainda não é possível fazer projeções sobre os impactos financeiros da tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados pelo Porto de Santos, anunciada pelo governo norte-americano.

“A arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) em Santos pode ser diretamente impactada pela diminuição do volume de operações portuárias e logísticas decorrente da nova tarifa. Se a movimentação de cargas cair, serviços como os prestados por despachantes aduaneiros, armazéns, transportadoras, operadores portuários e outros elos da cadeia logística terão sua atividade reduzida, levando a uma queda na base de cálculo do imposto e, consequentemente, na arrecadação municipal”.

“É importante notar que Santos tem demonstrado boa arrecadação de ISS, ultrapassando R$ 1,390 bilhão no período entre junho de 2024 e maio de 2025, sendo cerca de 65% relativos às operações. No entanto, uma tarifa tão elevada sobre as exportações para os EUA (que representam 22,2% do fluxo de exportações via Porto de Santos) pode reverter essa tendência positiva, especialmente no volume de fretes com destino a Santos.”

Além disso, a Prefeitura de Santos também informou em nota se pretende buscar articulações junto ao governo federal ou outras instâncias para minimizar os efeitos dessa medida.

“A defesa dos interesses da Cidade e do Porto de Santos precisa ser tratada como prioridade nacional. É essencial preservar a competitividade da nossa cadeia logística e proteger os empregos e a economia local”.

“O diálogo institucional com os diversos níveis de governo tem sido constante, inclusive com entidades representativas do setor portuário. A cooperação entre esferas de poder é fundamental para mitigar riscos e garantir que as decisões sobre o comércio exterior considerem também os efeitos sobre os municípios portuários”.

 

Prefeitura de Cubatão

Também em nota, a Prefeitura de Cubatão informa que “acompanha com atenção essa movimentação, considerando que o mercado americano representa uma parcela significativa das exportações de produtos fabricados em Cubatão”.

“Até o momento em 2025, foram mais de US$ 34 milhões (R$ 187 milhões) exportados para os Estados Unidos, o que reforça a necessidade de vigilância diante dos desdobramentos dessa guerra comercial”.

“Diante do anúncio do aumento das tarifas, reconhecemos a relevância do tema e sua possível repercussão na economia local”.

“No entanto, neste momento, decidimos aguardar os desdobramentos práticos da medida, uma vez que ainda não há informações consolidadas sobre os impactos diretos nas operações das empresas instaladas no município”.

“A Prefeitura, por meio das Secretaria de Indústria, Porto,  Emprego e Empreendedorismo, permanece atenta e preparada para, se necessário, realizar estudos mais aprofundados sobre eventuais efeitos na arrecadação municipal e no nível de emprego, sempre com o objetivo de proteger o desenvolvimento econômico local e a geração de oportunidades”, finalizou.

 

Prefeitura de Guarujá

A Prefeitura de Guarujá, por meio da Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), por sua vez informa em nota “que ainda não é possível estimar com precisão o nível e a dimensão do impacto, porém, é certo que os efeitos seriam bastante significativos, considerando o peso que esse imposto representa na composição da receita dos municípios”.

 

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