A proposta nasceu de uma série de reportagens publicadas na revista Carta Capital sobre o Haiti, o país mais pobre das Américas, vítima de sucessivas tragédias, ditaduras, e um verdadeiro quintal dos EUA.
O terremoto que matou milhares de pessoas (estimam-se em pelo menos 300 mil) em 12 de janeiro de 2010 foi a pá de cal em um país que sobrevive graças à ajuda internacional. Pouco mais de 90% da população vive em condições subumanas, sem água ou coleta de esgoto e lixo.
Ao ler as reportagens, comecei a pesquisar para saber se era possível fazer uma relação entre o Haiti e a Baixada Santista. E era. Assim, a proposta que poderia parecer inverossímil aos estudantes do 2º ano de Jornalismo soou factível.
Nas pesquisas, soldados do 2º Batalhão de Infantira Leve que estiveram por lá em missão de paz. E alguns que não retornaram em razão do terremoto. Histórias, portanto, não faltavam.
Com base neste cenário, convidamos profissionais que se dedicam à causa para conversar em sala de aula com os estudantes. O objetivo era que os jovens conhecessem relatos de pessoas que estiveram por lá, a despeito de todas as dificuldades e privações que passaram. Depois, teriam que escrever um texto interpretativo sobre o tema. Alguns foram além e procuraram outros profissionais.
Sargento Santos é um dos milhares de militares que passaram pelo país integrando a Missão de Paz da ONU, a Minustah, onde o Brasil está à frente. Ele escapou por pouco do terremoto que atingiu o país. Foi um dos dois únicos sobreviventes da tragédia que estavam no prédio onde ficava a sede da ONU naquela nação. Ele acabara de sair da edificação e a viu ruir e virar pó e escombros.
Descobri a história da voluntária Ana Aquino, que por meio da ONG santista Vidas Recicladas, realiza um trabalho extraordinário com as crianças, uma extensão escolar com atividades educacionais e esportivas. Um sopro de vida no meio de tanta miséria e morte. Ao seu lado, Rafael Neposiano e esposa estão à frente da creche mantida pela organização social.
Aliás, o mesatenista Rafael, o Robinho ou Buiú, abriu mão da carreira de professor em uma escola particular santista para mudar para lá. Campeão de tênis de mesa no Brasil, foi convidado para jogar pela seleção do Haiti, obtendo a dupla cidadania.
Não posso deixar de destacar o empenho do engenheiro Marcos Libório, incansável profissional que dedica seus momentos de lazer à frente da ONG Vidas Recicladas, tentando diminuir o sofrimento de parcela daquela população. Suas viagens ao Haiti são rotineiras.
Destaco ainda a jornalista Tatyana Jorge, de incrível sensibilidade, que optou pelo jornalismo social como forma de mostrar as mazelas da sociedade. Ela contou sua experiência ao longo dos 12 dias que ficou no país cujo resultado virou uma série de reportagens na TV Tribuna.
A todos, faço questão de tornar público o meu agradecimento, pois mostraram aos futuros jovens que não existem fronteiras para ajudar ao próximo. Uma visão social fundamental para quem quer ser jornalista. Seja aqui, seja no Haiti.
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