Neste momento de crise financeira, quem tem boas ideias leva vantagem. Ainda que não exista uma cultura sólida de empreendedorismo arraigada, o tema é cada vez mais frequente no cotidiano das pessoas. Hoje, três em cada dez brasileiros entre 18 e 64 anos possuem uma empresa ou estão envolvidos na criação de um negócio particular.
Estamos na liderança neste item. Em uma década, o total de empreendedores cresceu de 23% para 34,5%, segundo dados da pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM). No entanto, não basta boa vontade para tocar um negócio. Afinal, o grau de mortalidade das empresas brasileiras é elevado.
Os jovens são os maiores interessados em abrir novos espaços, mas a burocracia, impostos, juros altos e outros entraves desestimulam. No Brasil, quem é sério sempre corre atrás do prejuízo.
Infelizmente, nosso dinheiro é limitado – o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia é semelhante ao que a universidade americana de Stanford sozinha recebe em doações de ex-alunos. Assim, pulverizamos os parcos recursos existentes em diferentes áreas, fragilizando a potencialidade de se investir em boas ideias e cabeças pensantes.
Por isso, podem servir apenas para ganhar destaque na mídia nativa as obras do prédio da Fundação do Parque Tecnológico, na Vila Nova. Estão sendo investidos R$ 14 milhões para a edificação. Valores oficiais.
Mas do que adianta um prédio se não existirem depois recursos suficientes para pagar professores qualificados e profissionais que possam dar suporte para dar estrutura ao surgimento das empresas incubadas, onde nascem muitas vezes as startups — empresas novas criadas geralmente por jovens cheios de ideias, mas sem capital.
Hoje, apenas uma empresa está incubada na Incubadora de Empresas de Santos, que já chegou a ter 20 no passado em um imóvel alugado pela Prefeitura. Um novo edital deverá ser publicado em breve para atender até 10 novos projetos. Retrocesso.
Na verdade, não há necessidade de grandes investimentos para dar estrutura a boas ideias, mas buscar financiadores para injetar recursos nelas. A ESPM, por exemplo, tem sua incubadora desde 2010 e já recebeu cerca de 360 projetos de alunos. Deste total, 44 viraram empresas, a maioria de aplicativos. Na própria instituição, professores orientam os jovens estudantes e, por meio da incubadora, procuram aceleradoras e empresas interessadas em investir nas novas ideias.
Algo semelhante ocorre com o Centro Universitário Belas Artes, que lançou a sua incubadora no início deste ano e sete startups já surgiram, sendo uma já ativa no mercado e com clientes.
Portanto, fica claro que o investimento de R$ 14 milhões na construção de um prédio seria mais útil se fosse aplicado em projetos de fomento à pesquisa, profissionais e ao desenvolvimento de propostas que possam dar um retorno coletivo. A edificação viria em um segundo momento. Mas, infelizmente, a cultura das obras se sobrepõe à cultura das ideias nesta Cidade.
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