Porta de entrada hospitalar para a imensa maioria de pacientes do SUS – Sistema Único de Saúde em todo o litoral paulista e Vale do Ribeira, a Santa Casa vive uma delicada situação financeira, com uma dívida que ultrapassa R$ 160 milhões, fruto dos déficits mensais de R$ 4 milhões provocados pela diferença entre os custos reais para atendimento hospitalar e os valores repassados pelo SUS e planos de saúde, sempre abaixos do ideal.
A crise é considerada uma das piores da história da secular Santa Casa. Em 1994, o hospital teve que vender 30% do seu patrimônio para estabilizar seu déficit. O risco da cena se repetir é real.
Por mais que as administrações municipais repassem verbas para minimizar os efeitos dos gastos diários, eles são insuficientes para lidar com o tamanho do problema. Impressiona como deixaram chegar nesta situação.
Não é à toa que existem médicos que não recebem há mais de um ano e faltam medicamentos, reagentes para laboratórios e produtos básicos, como colírio e gaze. Sem verbas, os estoques caem.
Não bastasse, com o aumento da crise financeira, muitas pessoas deixam de pagar seus planos de saúde e assim migram para o atendimento pelo SUS, ampliando ainda mais o volume de casos atendidos.
A direção do hospital aguarda a liberação de um financiamento solicitado de R$ 140 milhões ao BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Social, dentro da linha BNDES Saúde – Atendimento SUS. Informações divulgadas na imprensa dão conta que seriam liberados R$ 94 milhões. Porém, o BNDES nega o valor.
A Santa Casa, assim como outras do gênero, se encaixa no perfil de financiamento, cujas taxas são bem menores que as praticadas pelos bancos privados. A proposta é que 30% da verba SUS repassada pelo Governo Federal sirva para abatimento da dívida global. Seria o copo d’água para matar a sede do hospital de forma mais imediata.
O provedor Félix Alberto Ballerini explica que não há um plano B, caso o financiamento não saia. E afirma que há um risco real do hospital paralisar as atividades se as negociações se prolongarem.
O pedido da Santa Casa chegou ao BNDES na segunda semana de agosto. A Caixa será o agente financeiro responsável para a liberação de verbas. Mas entre a entrada do pedido e a liberação – o que não significa que ele seja atendido nem o montante pretendido liberado – o tempo médio varia de 30 a 90 dias.
Além disso, é comum novas solicitações de documentos serem feitas entre os agentes financeiros e o BNDES. Tempo que se perde, pois as análises passam por dois colegiados envolvendo 50 técnicos. Ou seja, obter o empréstimo não é tão simples como aparenta ser.
Dentro deste cenário, as alternativas são amargas. Os planos B ou C podem ser reais. Para evitar o pior, como a paralisação no atendimento, que seria uma catástrofe no sistema de saúde pública da região, o hospital poderá ter que agir como no passado vendendo parte do seu patrimônio, o que vai demandar tempo. Ou pedir empréstimo em bancos privados, cujas taxas são elevadas. O perigo do caos na saúde da região é real.
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