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Opiniões

14 DE SETEMBRO DE 2015

Eu preciso de você?

Por: Fernando De Maria

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Desde o primeiro minuto deste mês, as músicas que embalaram gerações dos últimos quase 40 anos de uma das mais tradicionais emissoras de rádio da Baixada Santista mudaram de ritmo.

Ao invés dos pagodes e sertanejos – que faziam parte da atual programação da emissora – os ouvintes se depararam com canções religiosas. Quem desconhecia a mudança talvez tenha pensado que ocorrera alguma interferência no sinal. Mas não era. Após 36 anos no ar, a rádio Cultura FM – 106,7 Mhz (a AM já retransmitia a mesma programação e teve o mesmo fim), de propriedade da família Mansur, foi arrendada para a Igreja Plenitude do Trono de Deus.

A medida, boa financeiramente aos proprietários, alterou não só a vida dos funcionários da empresa, mas também aos milhares de ouvintes que foram surpreendidos com a notícia (os próprios empregados foram comunicados da mudança apenas alguns dias antes pela direção da emissora).

Mas esta não foi a primeira nem será a última vez que os arrendamentos das emissoras de rádio e TV para igrejas ocorrem. Nas AMs, há um predomínio impressionante, cuja tendência chega cada vez mais nas FMs. A Enseada FM (94,3 Mhz), pertecente à família do ex-deputado Gastone Righi, também passara pelo mesmo processo há alguns anos.

É bom ressaltar que qualquer empresário tem o direito – desde que cumpra suas obrigações trabalhistas e fiscais – de tomar qualquer decisão sobre o seu negócio. Isso não se discute. Porém, quem atua neste segmento esquece que as concessões de rádio e TV são públicas e existem exigências a serem cumpridas.
Como o Ministério das Comunicações, que deveria se atentar ao cumprimento das obrigatoriedades, finge que nada ocorre, ser dono de concessão de rádio e TV virou moeda de troca política e de bons negócios no Brasil. Só para os patrões, é claro.

Não é à toa que levantamento do projeto Donos da Mídia mostra que 271 políticos (deputados federais e senadores) têm ligações diretas ou indiretas com 324 empresas de comunicação no País.

O próprio deputado Beto Mansur teve na rádio da família a sua mola propulsora para a vida pública.

Tudo começou em 1987, graças ao programa popular Eu Preciso de Você. Foi o segundo vereador mais votado na ocasião. E assim ele construiu sua história política, graças à rádio e depois à VTV, rede que conta com afiliadas no litoral e interior paulista. Pelo jeito, hoje a rádio não lhe tem mais serventia.

Portanto, enquanto concessões de rádio e TV viram vitrine eleitoral e financeira, lamenta-se a pouca discussão da proposta do projeto de lei que regulamenta o funcionamento dos meios de comunicação, conhecida como Lei da Mídia Democrática, de iniciativa da deputada federal Luiza Erundina (PSB), um das raras vozes lúcidas que abordam este tema tão espinhoso e defenestrado pelos seus pares. Quem se interessar, acesse www.paraexpressaraliberdade.org.br.

Por fim, só para lembrar: estamos em setembro, quando comemoram-se o dia do rádio (25) e do radialista (21). Que presente, hein?

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