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07 DE AGOSTO DE 2009

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Companheiros, também no trabalho

Trabalhar com familiares não chega a ser algo raro. Pelo contrário. É comum que pais que possuam negócios próprios, quando os filhos atingem determinada idade, preparem seus rebentos para que possam colaborar com o atendimento e, posteriormente, assumir o controle do serviço. No entanto, também ocorrem situações em que pais e filhos trabalham juntos em […]

Por: Da Redação

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Trabalhar com familiares não chega a ser algo raro. Pelo contrário. É comum que pais que possuam negócios próprios, quando os filhos atingem determinada idade, preparem seus rebentos para que possam colaborar com o atendimento e, posteriormente, assumir o controle do serviço. No entanto, também ocorrem situações em que pais e filhos trabalham juntos em uma mesma empresa, em diferentes funções, onde os relacionamentos familiar e profissional ficam praticamente amalgamados.


Esporte


Não são raras as ocasiões, ainda que sempre sejam vistas com olhos mais atentos que o usual, em que pais e filhos atuem juntos no esporte. No Brasil, o caso atual mais evidente está no voleibol, pois a seleção masculina, dirigida por Bernardinho, tem como um de seus principais atletas Bruninho, filho do treinador. Ambos superaram uma natural pressão externa inicial, por serem familiares tão próximos, para se tornarem ainda mais vitoriosos pela equipe.



No futebol, mais precisamente no banco de reservas, uma dupla também obteve sucesso quando requisitada, ganhando destaque principalmente em 2002 e 2003. Trata-se de José e Alexandre Macia, respectivamente Pepe, ex-jogador do Santos bicampeão do mundo em 1962 e 1963, e seu filho Pepinho. O pai, como treinador, e o rebento, como auxiliar, tornaram-se ídolos na história da Portuguesa Santista, ao comandarem juntos uma reação sensacional, que culminou numa improvável permanência da Briosa na elite do futebol paulista, em 2002, e no histórico terceiro lugar no Campeonato Estadual, no ano seguinte, à frente de Santos e Palmeiras.


A dupla se formou a pedido do pai. Segundo Pepe, na ocasião, a Portuguesa estava em uma sequência de quedas de treinadores e era necessário que o trabalho começasse do zero. “Falei que ou o Pepinho vinha comigo, ou eu não acertava contrato, pois tínhamos que estar com tudo novo”, revela. E de fato, o filho do segundo maior artilheiro da história do Peixe chegou a Ulrico Mursa junto do pai.


Pepinho, no entanto, já tinha experiência, pois já exercia a função de treinador há cinco anos, tendo se iniciado no Independente de Limeira. E o fato de estar naquela nova empreitada ao lado do pai facilitou a adaptação à função de auxiliar. “Foi até mais tranquilo ser auxiliar dele, pois geralmente se fica melindrado de conversar com o técnico, dar alguma sugestão. E como ele é meu pai, sentia-me à vontade, com liberdade para sugerir, opinar”, conta.


Foi nessa época, aliás, que a dupla viveu o momento considerado mais marcante pessoal no futebol. Era o jogo de ida do confronto que definiria a permanência da Briosa na Série A-1 de São Paulo, contra a Francana, vice-campeã da A-2. A Portuguesa Santista vinha de vitórias que a tiraram da última posição, algo que já era desacreditado quando os dois assumiram, e definiria o duelo em casa, na outra semana. No entanto, na tarde da partida contra a equipe do interior, em Franca, foi anunciado que o irmão de Pepe — e tio de Pepinho —, Mário Macia, tinha morrido.


“Nós éramos muitos ligados, e os dirigentes disseram, inclusive, que eu poderia ir embora se não estivesse bem para o jogo”, revela o Canhão da Vila, como era apelidado nos anos de ouro do Santos. Coube a Pepinho incentivar o pai a permanecer para a partida. “Tivemos que ficar muito unidos, para controlar a situação, que era muito difícil. Ainda por cima, viramos o primeiro tempo perdendo por 2 a 0, mas conversamos muito no vestiário e colocamos um novo jogador em campo, o Guilherme, que acabou empatando o jogo”, lembra Pepinho. De fato, no duelo de volta, a Briosa superou a Francana nos pênaltis e manteve-se na primeira divisão paulista, para, no ano seguinte, fazer sua melhor campanha na história, o terceiro lugar no Paulistão de 2003.


Os resultados positivos, que se repetiriam no Guarani, no Al-Ahli, do Catar, e no Balneário Camboriu, de Santa Catarina, foram importantes não apenas para a efetivação da dupla, mas para impedir qualquer questionamento ao trabalho conjunto entre pai e filho. “Sempre tivemos sucesso por onde passamos, e até por isso nunca duvidaram da gente”, resume o filho, completado por Pepe. “Além disso, o trabalho do Pepinho sempre aparecia, então viam que eu não tinha chamado ele simplesmente por ser meu filho, mas porque ele tinha potencial”.


Jornalismo


Dos campos para a redação da Santa Cecília TV, onde, de março de 2007 até o meio de 2008, a repórter Ariane Rocha, que já tinha passado pela TV Brasil (afiliada do SBT)e  hoje está na VTV (afiliada da RedeTV!), passava a trabalhar com seu pai, o câmera Júlio Pereira, um dos mais antigos profissionais da Cidade. “Foi tudo por acaso”, revela a jornalista. Segundo Ariane, nos primeiros dias, os dois não chegaram a atuar em conjunto, por estarem escalados em horários diferentes. No entanto, a saída de um profissional fez com que a dupla ficasse responsável pelas reportagens no horário da tarde.



O relacionamento era tido como bem curioso pelos entrevistados. “Ela me chamava normalmente de pai, então muitas vezes o pessoal estranhava no começo, mas depois achava muito legal ver pai e filha trabalhando juntos. Ficavam muito admirados”, conta Júlio. “Até o prefeito Papa, quando via a gente em algum evento, brincava com a nossa dupla em família”, relembra.


No ambiente de trabalho, a parceria também era bem vinda. “O pessoal brincava dizendo que era nepotismo e tal, mas sabia que a gente era bem profissional no trabalho”, conta Ariane. Além disso, a jornalista explica que, enquanto geralmente é o repórter quem comanda a equipe de reportagem, no caso deles a situação era um pouco diferentes. “Eu normalmente ouvia e seguia o que meu pai recomendava, até na hora do texto, porque ele é alguém experiente, viu muita coisa, e se estava falando aquilo, não era para o mal, muito pelo contrário. Aprendi muito nesse tempo”, revela.


Para Júlio, o relacionamento no trabalho trouxe, inclusive, benefícios para dentro de casa, pois uniu ainda mais pai e filha. “Juntava a amizade natural da família com a de ótimos colegas de trabalho, e fazia um ambiente bem gostoso. O assunto profissional acaba ficando em comum. Pode não parecer, mas essas conversas mais frequentes, de temas em comum, mesmo fora do serviço, aproximam bastante”, conta.


Os dois sabem, no entanto, que por mais positiva que seja a relação, alguns cuidados devem ser tomados, em especial porque ambos, mais do que companheiros de profissão, têm laços familiares.


O câmera lembra que, apesar das brincadeiras e mesmo do tratamento (chamar de filha ou pai), no resto, não se pode misturar as coisas. Segundo ele, o pai não pode levar o lado “autoritário” que teria em casa para o ambiente de trabalho. “Nunca dei ordem a ela no serviço, principalmente porque, como repórter, ela é a chefe da equipe, então cabia a ela a decisão final, e eu respeitava. Se o pai quiser ser pai no trabalho também, as coisas não vão andar”, alerta.


Já Ariane considera essencial que o filho, independentemente do posto, mesmo estando em um ambiente diferente do pai na empresa que for, deve sempre escutar o que o “velho” tem a dizer. A repórter revela que a experiência que passou ao lado de Júlio na emissora ajudou-a a dar inclusive mais valor às recomendações de seu pai.


Maturidade deve orientar relação


Pai e filho trabalharem juntos é algo bom ou ruim? Depende do tipo de relação que ambos têm entre si, algo que vai além do contato profissional. É o que explica o psicólogo especialista na área de Recursos Humanos, com mais de 30 anos de experiência na área, Luiz Bernardes de Oliveira. Segundo ele, a interação entre os dois deve compreender a individualidade de cada um dos seres humanos.


“Quando esse vínculo é carente desse respeito, não respeitando as relações funcionais dentro de uma organização, ao invés de ser benéfico, torna-se prejudicial”, afirma. “Um bom relacionamento é caracterizado pela obediência a essa relação funcional, subtendendo-se, portanto, o nível de profissionalismo existente entre ambos”, completa o psicólogo.


Algumas situações devem ser observadas para que a circunstância seja conduzida da maneira mais tranquila possível e possa trazer benefícios, tanto ao relacionamento no trabalho como na família. Oliveira explica que um dos aspectos mais importantes é a maturidade profissional de ambos, para lidar com a situação que é, por vezes, inusitada.


“A tendência a que uma relação não dê certo nesse sentido é a mistura de papéis, que é quando o contato familiar prejudica o profissional. Além disso, a competição disfarçada e muitas vezes até inconsciente também é um fator negativo”, salienta.


Tal maturidade também deve ser demonstrada em situações teoricamente constrangedoras, como quando o filho recebe alguma bronca da chefia próximo ao pai, ou vice-versa. “Já vi casos em que um ou outro foi tirar satisfação com colegas ou chefes sobre a maneira como o outro foi tratado. Não pela falta cometida em si, mas pela relação familiar existente. Em outro tipo de relação, isso não existiria”, alerta Oliveira.


Essa situação, bem como outras tidas como perigosas – às vezes literalmente -, pode ser ainda mais difícil de lidar quando o rebento em questão é do sexo feminino. O especialista em Recursos Humanos considera que, no ambiente empresarial, há um peso maior se quem trabalha no mesmo ambiente do pai é a filha. “A mulher sempre carece de mais proteção, devido ao conceito ainda existente na sociedade de que a mulher é o sexo frágil, o que nem sempre é verdade”, considera.


Quanto a isso, mais uma vez, vem à tona a questão do respeito à individualidade e ao papel que cada um representa nos diferentes ambientes – emprego e casa -, sem se deixarem levar por qualquer laço afetivo. “Dar conselho é como indicar um livro de auto-ajuda ou dar uma receita de bolo. O problema é que isso tudo tem a ver com a personalidade e a maturidade de cada um. Por isso, respeito é a melhor técnica de convivência para ambos e também para a empresa”, finaliza.

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